Liberdade de escolha existe?
O livre-arbítrio é um conceito fundamental. Não só na filosofia. Mas também na religião. E na vida prática. A civilização, o modo de vida humano estão estruturados a partir dele.
O que é o livre-arbítrio? É a liberdade do ser humano para fazer escolhas. E a partir delas construir o próprio destino.
Sem essa faculdade, não tem sentido, por exemplo, o Direito Criminal. Se o crime não foi uma escolha livre, como pode ser punido?
A fidelidade conjugal, a opção por uma carreira, a solidariedade, a decência… tudo despenca para a vala comum do determinismo. Do escrito nas estrelas.
Recentemente, a existência do livre arbítrio tem sido questionada cientificamente.
Da neurociência vem a constatação de que a atividade cerebral responsável por movimentos precede a escolha deles. Ou seja, quando a gente decide, o cérebro já está executando aquela decisão que a gente pensa estar tomando.
Complicado? Pois os testes realizados com monitoramento por ressonância magnética mostram que até 7 segundos antes da decisão o cérebro já tem essa informação.
Não é muito animadora essa idéia de que, de alguma maneira, sejamos teleguiados.
Mas ela já tinha precedentes. Cientistas já tinham observado que camundongos infectados pelo protozoário da toxoplasmose mudam radicalmente de comportamento. Na proximidade de gatos, trocam a fuga pelo desafio. Morrem. Mas o protozoário atinge o objetivo de chegar aos gatos e conseguir a reprodução.
No final do século passado, o biólogo tcheco, Jaroslav Flegr, da Universidade Charles, em Praga, descobriu que ele mesmo, contaminado pela toxoplasmose, adotava comportamentos diferentes do que ele queria.
Não era maluquice. Era a interferência do bichinho.
O livre arbítrio nunca foi unanimidade. Tem um histórico de questionamento permanente. Mas sempre no campo filosófico-religioso. Estão aí a astrologia, a questão dos instintos, a teoria dos condicionamentos sociais, a crença nas vivências de outras encarnações, a ação do diabo…
Dessa vez a conversa é outra. É a ciência que está questionando a validade de um conceito que funciona como um dos pilares da nossa civilização.