Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

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Os problemas de cada um

Na China, o bicho está pegando por causa da poluição. O país deu um salto de desenvolvimento atropelando o ambiente e ignorando os direitos dos trabalhadores.

Agora começa a pagar o preço desse crescimento não-sustentável.

No sábado, a poluição do ar atingiu níveis insuportáveis. A medição oficial – super-chapa branca e duvidosa – registrou 400 microgramas por metro cúbico de ar. Acima de 100, pela organização Mundial de Saúde, representa risco para a saúde. Acima de 300, idosos e crianças não devem sair de casa. O caos. Funcionários da embaixada dos Estados Unidos em Pequim mediram 800… E agora?

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Nos Estados Unidos a coisa está pegando por causa da liberdade para a compra de armas. A cada tragédia orquestrada por atiradores paranóicos, esse debate estéril volta a mobilizar o país. Depois da tragédia da escola de Newtown, onde um desses malucos matou 20 crianças e 6 adultos, a preocupação também chegou a níveis insuportáveis. O presidente Barack Obama está disposto a bancar o desgaste de limitar a venda de armas por decreto presidencial.

E no Brasil? Dá para adivinhar o que está pegando?

CORRUPÇÃO.

O deputado Renan Filho (PMDB-AL), cria do notório Renan Calheiros, senador pelo mesmo partido e pelo mesmo estado, segue os passos do pai. Este tinha a pensão de um filho dele com uma jornalista paga por uma empreiteira, lembra? O filho está investigado em um inquérito da Polícia Federal por desvio de verbas da merenda escolar na cidade em que foi prefeito de 2005 a 2010, Murici. A investigação encontrou indícios de crimes de Renan Filho: irregularidades na licitação que escolheu a empresa e valores de notas fiscais muito acima dos registrados pela Secretaria da Fazenda.

Renan pai vai ser de novo presidente do Senado.

E o Renanzinho é filho de peixe….

Mensalão

Três pontos chamam particularmente a atenção nos desdobramentos do mensalão:

  1. O oito ou oitenta. O ataque levanta a tese de que se trata do mais atrevido esquema de corrupção da história do país. Usa o termo quadrilha. A defesa diz que não existiu, que se trata de uma farsa, que foi tentativa de golpe.

  2. A posição de ministro-relator Joaquim Barbosa e do procurador-geral da República Roberto Gurgel. Os dois foram colocados nos cargos pelo ex-presidente Lula. Mesmo assim, estão entre os mais incisivos acusadores .

  3. O desembaraço com que Lula se movimentou para evitar a possibilidade de condenação dos réus. Indecente.

No primeiro ponto, o das teses extremas, quadrilha ou farsa, é importante observar que a versão atual dos envolvidos foi construída num segundo momento. Na explosão do escândalo, a cúpula do PT despencou dos cargos e o então presidente Lula pediu publicamente desculpas ao país. Num segundo momento, depois de Lula ter reconstruído a base política, é que essa versão da negação foi articulada. Tem credibilidade zero. Parece jogar para o público mais desinformado e tentar tapar o Sol com uma peneira esburacada.

Quanto à posição de Barbosa e Gurgel, indicações de Lula, no cenário de toma-lá-dá-cá e de cinismo que predominou na política nacional dos últimos anos (José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros etc..) representa uma agradável surpresa.

Ambos aparentam tanto motivações internas quanto uma certa impermeabilidade a pressões. mesmo muito fortes.

Na movimentação de Lula estão simbolizadas essas pressões. O ex-presidente andou visitando ministros do Supremo no primeiro semestre e houve até uma denúncia séria de Gilmar Mendes nesse sentido. Pelo menos um resultado horroroso essa pressaõ de Lula produziu, que é a decisão de Dias Toffoli de participar do julgamento mesmo contra todas as evidências de vínculo pessoal e profissional dele e da mulher dele com alguns réus.

A única palavra que cabe aí é novamente “indecente”.

Cabra macho

Se você é machista, nem vou fazer pergunta. Se você é feminista, também não. Mas se você é humanista:

Quem tem mais coragem: o homem ou a mulher?

Quando a gente pensa na coragem como aquela de entrar numa briga ou enfrentar uma guerra, cria uma ilusão de que o homem domina essa virtude.

Mas não é dessa coragem diante da violência que se está falando. As mulheres são menos violentas. Participam quase nada das brigas, das guerras, das atividades criminosas. A gangue das loiras constitui exceção nesse cenário masculino.

Acontece que nas últimas décadas, as mulheres têm derrubado preconceitos. Avançam no mercado de trabalho, nos cursos de graduação, na política. E algumas delas têm enfrentado situações diante das quais muitos homens vinham se omitindo, para não dizer se acovardando.

Não precisa ir longe e pegar exemplos como os da Dama de Ferro inglesa Margareth Tatcher ou da paquistanesa Benazir Butho que morreu assassinada.

Na década de 90, no Rio de Janeiro, uma juíza, Denise Frossard, mandou prender os barões do jogo de bicho e deu uma chacoalhada no crime organizado. Até ali, nenhum Capitão Nascimento tinha tido coragem de chutar a porta desse barraco.

Atualmente o país acompanha, com surpresa, as cruzadas da presidente Dilma.

Primeiro mandou tirar da sala os coronéis da política nacional-nordestina. Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros e Cia Ltda foram enxotados do núcleo do poder.

E não é que agora, para espanto geral da nação, a presidente peita o bando de banqueiros que sempre mandaram e desmandaram – discretamente – na vida do país?

Dilma mandou o Banco do Brasil e a Caixa Federal reduzirem agressivamente os juros dos empréstimos e financiamentos dos clientes. Botou pressão em cima dos Itaús e Bradescos da vida. E não quer saber de nhe-nhe-nhém. Sem medo de cara feia.

Nem FHC nem Lula compraram essas brigas…

Se Dilma segurar a bucha só nessas duas frentes, nem precisa de uma terceira. Quem vai lembrar que existia aquela história de cabra macho? 

O canalha polido

O senador Demóstenes Torres foi desmascarado em gravações telefônicas. A Polícia Federal investigava o contraventor Carlinhos Cachoeira. E descobriu nos grampos aplicados ao contraventor que Demóstenes faz parceria de bandalheiras com ele.

A safadeza do senador choca mais que a de gente como Renan Calheiros, Fernando Collor, José Sarney?

Choca.

No livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, André Comte-Sponville explica o porquê.

Demóstenes, que posava de defensor da ética na política, é o canalha polido.

Outros personagens podem ser perdoados com mais facilidade pelo mal que provocam: a fera, o selvagem, o bruto. O polido, não. Não tem desculpa.

Assim o corrupto moralista. Assim, o senador.

Ao acusar, ao denunciar, o acusador / denunciante está escrevendo um atestado de bons antecedentes. Eu acuso, eu denuncio porque sei que isso é errado. Mais que errado, é intolerável. Fica implícito que eu, acusador / denunciante, não faço isso.

Na verdade, não é bem assim. As pessoas que percebem o mal com muita  clareza e muita facilidade, muitas vezes têm essa percepção justamente em função de elas próprias estarem nessa sintonia maligna.

Devemos desconfiar sempre do moralista que vive com o dedo apontado na direção do nariz dos outros. Ele só consegue ver o mal. Porque essa é a freqüência em que ele está permanentemente sintonizado.

É melhor ensinar as virtudes do que condenar os vícios, escreveu o filósofo Spinoza. Mas para ensinar virtudes, tem um pré-requisito: conhecer esse tipo de força que age ou que pode agir. Como ensinar o que não se conhece?

Tem um outro detalhe: no caso de Fernandinho Beira-Mar, Maluf ou Sarney, ser apanhado em um novo malfeito é só mais uma mancha no leopardo. Não provoca impacto.

Com Demóstenes, não. Ele perde a referência. A única referência, que era a falsa aparência de virtude.

Tanto que ele mesmo já percebeu isso. Ao ser confrontado com as evidências apontadas pelas gravações, a reação dele diz tudo:

“Eu não sou mais o Demóstenes”.

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