Blog do Paulo Schiff

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2014 já começou

A eleição deste ano ainda nem rolou. Mas já tem um monte de gente pensando na de 2014.

O vice-presidente Michel Temer já andou dizendo que a candidatura de Dilma à reeleição não é conceito consolidado. Para o vice, a possibilidade de se candidatar não significa obrigatoriedade de entrar na disputa. Elementar. Ninguém precisa explicar isso. Quando explica, é pra dizer que outras possibilidades, leia -se a volta de Lula, são mais cintilantes.

Dilma contra-ataca articulando a reeleição.

Mas o líder dela na Câmara, Arlindo Chinaglia, anda dizendo que o próprio Lula já se declara candidato em 2014.

Os analistas políticos percebem nesse movimento mais um erro de Lula. O ex-presidente era olhado como infalível no feeling. Mas errou feio ao tirar foto com Maluf. Rifar a presidente Dilma agora seria preparar outro fracasso.

Pode ser. Mas também pode ser um tiro certeiro.

Fracasso se a movimentação de Lula implantar no governo Dilma desde já um clima de fim de feira. Presidente que vai deixar o poder, vira “pato manco” nos Estados Unidos. No Brasil, dizem que toma cafezinho frio. Se isso acontecer com Dilma, a oposição pode crescer e um Aécio animado pode atrapalhar a volta triunfal de Lula.

Tiro certeiro se a crise internacional cortar as asas do crescimento brasileiro que se desenhou com Lula. Economia derrapando derruba presidente. Aí Dilma, mesmo forte no partido, poderia estar fraca com o eleitor e correr riscos na reeleição.

Já Lula, lembra ao eleitor o tal período em que a crise chegou aqui só como marolinha.

Dilma, nesse caso, arcaria com a responsabilidade (que não é dela e sim do cenário internacional) do momento mais difícil do Brasil, esse em que a redução de juros e impostos não consegue inflar o PIB. E Lula volta fantasiado de salvador da pátria.

É…2014 já começou.

Falta pão

A Polícia Militar de São Paulo parece atordoada pela sequência de golpes que vêm tomando dos bandidos. Bases são atacadas, ônibus incendiados e policiais assassinados. O estado de alerta, as interrupções de férias e os PMs da área administrativa reforçando a tropa de rua parecem insuficientes para enfrentar a crise.

Os líderes de países sul-americanos parecem atordoados diante do impeachment-relâmpago do presidente do Paraguai. Fernando Lugo foi derrubado institucionalmente do poder para o qual foi eleito em 30 horas. A oposição responsabiliza Lugo por um conflito entre policiais e camponeses com quase 20 mortes. Dilma Roussef, do Brasil, e Cristina Kirchner, da Argentina, estudam com outras lideranças sanções políticas e econômicas contra o Paraguai em crise. Mas parece impotente essa defesa externa da frágil democracia paraguaia.

Líderes do mundo todo parecem atordoados, também, diante da escalada da degradação ambiental. A Conferência Rio + 20 terminou sem nenhuma resolução firme sobra sustentabilidade, tema do encontro de 114 países, e sobre alternativas para proteção dos oceanos.

No plano interno da política, até o antes infalível ex-presidente Lula parece atordoado diante da quizumba do PT de São Paulo. A vice prometida, Erundina, se rebelou contra a aliança com Maluf e tirou o time de campo. E a senadora Marta Suplicy que queria ser a candidata petista e nunca engoliu a “novidade” Fernando Haddad, ungido por Lula, agora questiona abertamente a decisão que veio imposta ao partido, de cima para baixo.

No plano regional, todos os envolvidos, que são muitos, parecem, também, atordoados na questão da escala de trabalhadores avulsos no Porto de Santos. Ministério Público do Trabalho, sindicatos de trabalhadores e patronais, Órgão Gestor de Mão de Obra entram e saem de reuniões intermináveis e a confusão só faz aumentar. Será que os 60 dias determinados pelo Tribunal Regional do Trabalho serão suficientes para um acordo?

A sensação é a de que chegamos a uma época em que as minorias, com voz ativa nas redes sociais, não aceitam mais decisões tomadas pela maioria. Isso vale também para as leis que atualmente parecem feitas para ser desrespeitadas.

Ou então está valendo aquele velho ditado que diz que em casa onde falta pão todos gritam e ninguém tem razão.

Escolhas

A publicidade exibe uma criatividade crescente. Os anúncios de televisão se descolaram da realidade e mergulharam na fantasia. Em muitos casos o intervalo comercial apresenta atrações mais interessantes que a programação.

Num anúncio desses aparece uma mulher de costas. Aí a mão de alguém invade a tela. E num toque do tipo daquele de aproximar ou afastar a imagem em câmera fotográfica de celular touch, engorda a mulher. Se me lembro bem, também diminui a altura dela.O gritinho de horror, na seqüência, é totalmente real. Seria exatamente essa a reação de qualquer garota engordada daquele jeito.

Não lembro de que produto é aquele anúncio. Mas nessa altura já ganhou a minha simpatia.

Outro que engorda como um balão antes de dar uma tacada no jogo de  sinuca é o que toma a cerveja errada. O barulhinho que acompanha essa inflada preenche exatamente a expectativa: FLOP!

O mecanismo de escolha no supermercado está baseado, cada vez mais, nessa emoção que a publicidade transmite.

Saem de cena a qualidade, o preço, a durabilidade, a eficiência e entra a fantasia.

Se a gente sair da escolha de produtos e entrar na decisão eleitoral, será que é tão diferente?

Três dos  candidatos mais votados para deputado em São Paulo em 2010: Tiririca, Gabriel Chalita e Maluf.

Milhares de eleitores fizeram essas escolhas. Será que tem alguma racionalidade nisso?

Por que Tiririca? Por que pior do está não fica? Por que Maluf? Por que apesar de todas as evidências, ele pelo menos faz? Por que Chalita? Pelos livros? Pelo sorriso?

Escolhemos produtos e candidatos pela sensação e não pela razão.

E quando eles não atendem as expectativas que a gente cria, decepção e reclamação.    

O problema é que a expectativa navega no inconsciente. Mas a decepção, essa é na vida real.

O canalha polido

O senador Demóstenes Torres foi desmascarado em gravações telefônicas. A Polícia Federal investigava o contraventor Carlinhos Cachoeira. E descobriu nos grampos aplicados ao contraventor que Demóstenes faz parceria de bandalheiras com ele.

A safadeza do senador choca mais que a de gente como Renan Calheiros, Fernando Collor, José Sarney?

Choca.

No livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, André Comte-Sponville explica o porquê.

Demóstenes, que posava de defensor da ética na política, é o canalha polido.

Outros personagens podem ser perdoados com mais facilidade pelo mal que provocam: a fera, o selvagem, o bruto. O polido, não. Não tem desculpa.

Assim o corrupto moralista. Assim, o senador.

Ao acusar, ao denunciar, o acusador / denunciante está escrevendo um atestado de bons antecedentes. Eu acuso, eu denuncio porque sei que isso é errado. Mais que errado, é intolerável. Fica implícito que eu, acusador / denunciante, não faço isso.

Na verdade, não é bem assim. As pessoas que percebem o mal com muita  clareza e muita facilidade, muitas vezes têm essa percepção justamente em função de elas próprias estarem nessa sintonia maligna.

Devemos desconfiar sempre do moralista que vive com o dedo apontado na direção do nariz dos outros. Ele só consegue ver o mal. Porque essa é a freqüência em que ele está permanentemente sintonizado.

É melhor ensinar as virtudes do que condenar os vícios, escreveu o filósofo Spinoza. Mas para ensinar virtudes, tem um pré-requisito: conhecer esse tipo de força que age ou que pode agir. Como ensinar o que não se conhece?

Tem um outro detalhe: no caso de Fernandinho Beira-Mar, Maluf ou Sarney, ser apanhado em um novo malfeito é só mais uma mancha no leopardo. Não provoca impacto.

Com Demóstenes, não. Ele perde a referência. A única referência, que era a falsa aparência de virtude.

Tanto que ele mesmo já percebeu isso. Ao ser confrontado com as evidências apontadas pelas gravações, a reação dele diz tudo:

“Eu não sou mais o Demóstenes”.

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