Baixaréu
Um grande escândalo – como um grande amor – também é constituído de pequenos detalhes.
O articulista Roberto Pompeu de Toledo, da Veja, sempre antenado, sacou muito bem o detalhe do código utilizado pelo bando de Dona Rosemary para se referir ao dinheiro resultante das operações fraudulentas. Não é nenhum dos mais de cem verbetes que os dicionários apontam para o significado da grana. Eles usavam as prestigiadas palavras “livros, exemplares, volumes e obras”. Sem a baixaria de bufunfa, gaita, cobre. Pode-se dizer que Rosemary e Seus Bebês, como a quadrilha ficou conhecida introduziram na ladroagem a linguagem refinada, erudita.
Mais interessante ainda, entretanto, é um erro de português que consta nos e-mails trocados entre Rosemary e os apaniguados dela.
O negócio era a compra de um diploma universitário para o marido da chefe do Gabinete da Presidência da República em São Paulo. O certificado falso era necessário para que Josè Cláudio Noronha, o ex-maridão, pudesse ser nomeado para o conselho de administração da Brasilprev, seguradora controlada pelo Banco do Brasil. A boquinha era boa e justificava plenamente o esforço. Por sinal bem-sucedido. O diploma foi obtido por Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas, preso sob acusação de liderar um grupo que fazia tráfico de influência no governo. Num dos e-mails, Rosemary pergunta qual será a formação do ex.
“Baixaréu em Administração” responde Vieira em outro e-mail.
Perfeito.
Ficamos assim, então, a partir de agora: quem faz o curso e conquista o diploma de maneira legal continua sendo bacharel. Quem compra diplomas falsos, fica “baixaréu”.
O único problema para a aplicação dessa regra é que num grande número de faculdades por aí, que funcionam como autênticos estelionatos universitários, o diretor vai ficar em dúvida:
Bacharel ou “baixaréu”?