Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

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Crises para todos os gostos

Prefeitos na berlinda...

Prefeitos na berlinda…

O prefeito Bili, de São Vicente, em dois meses já perdeu dois membros da equipe de primeiro escalão. No caso da secretaria de Saúde, ele mesmo resolveu assumir a função de secretário ainda que por um prazo máximo de um mês.

Em Santos, nesses mesmos dois meses, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa já enfrentou pelo menos três mega-problemas:

  1. Vazamento de uma gravação da Operação Porto Seguro em que ele conversa com o empresário César Floriano.

  2. Quatro mortes num trágico acidente com um carro alegórico da Escola de Samba Sangue Jovem durante o desfile oficial de carnaval da cidade.

  3. Acusações ao ex-secretário estadual da Educação no governo Alckmin anterior, Gabriel Chalita, que respingam nele como secretário-adjunto.

A prefeita de Cubatão, Marcia Rosa, também tem um início de segundo mandato turbulento por conta de uma inundação gigantesca que deixou centenas de famílias desalojadas e desabrigadas e milhares de pessoas diretamente afetadas. Isso sem falar dos problemas de fluxo de caixa que enfrenta desde o segundo semestre do ano passado, em função da violenta queda de arrecadação que afeta todos os municípios industriais do Brasil.

E em Guarujá a prefeita Antonieta, também reeleita, enfrenta problemas com os caminhoneiros que obstruíram as entradas do terminal da Santos-Brasil e provocaram um pandemônio que paralisou por vários dias desde a Rodovia Dom Domênico Rangoni até avenidas fundamentais para os sistema viário da cidade como, por exemplo, a Santos Dumont em Vicente de Carvalho.

Se for somada a esse conjunto de problemas a epidemia de dengue que se apresenta neste ano como uma assombração pela estréia na região do vírus tipo 4, contra o qual ninguém ainda tem imunidade…

A crise é a oportunidade para buscar novas soluções e usar a criatividade. Também é o momento das oposições políticas mostrarem grandeza e ajudar na busca dessas soluções.

Mas você, leitora / leitor, está vendo algum sinalzinho dessa criatividade e dessa grandeza?

A dengue e a Aids

É tempo de radicalização. De julgamentos sumários. E o pior: conduzidos por conhecimentos superficiais. Uma olhada numa manchete de internet é suficiente para quem alguém forme um juízo de outro alguém. Bandido. Canalha. Safado.

Nesse tipo de julgamento, o direito de defesa não é respeitado. O internauta não tem paciência de chegar até o ponto em que o acusado coloca os argumentos. O leitor de jornal também não chega até o fim da notícia. E o telespectador ou ouvinte já acompanha a sonora dele com o juízo formado.

Prefeitos e secretários de saúde são sumariamente considerados responsáveis pela dengue. “Não fazem nada”. É como se as campanhas de conscientização não tivessem sido feitas. É como se o reclamento não tivesse recebido trocentas vezes a visita dos agentes da dengue em casa.

Se não consegue eliminar a dengue, então que não se candidatasse”, bradam os radicais.

Um paralelo simples faz saltar aos olhos a insensatez dessa condenação sumária e superficial.

Vamos mudar de epidemia. Da dengue, para a Aids.

Será que ainda existe alguma pessoa no Brasil, com mais de dez anos de idade e alfabetizada, que não saiba como é que o vírus HIV contamina? Foram tantas campanhas, bem-feitas ou não, foram tantas entrevistas, tantas reportagens que é impossível alegar ignorância. Todo mundo sabe, também, como é que se faz a prevenção da Aids. No entanto, as pessoas continuam se contaminando ou pelo sexo ou pelo compartilhamento de acessórios de consumo de drogas. Será que a presidenta, o ministro da Saúde, os governadores e prefeitos podem ser responsabilizados por essa contaminação furtiva e quase sempre entre quatro paredes?

Não é exatamente igual com o criadouro do mosquito?

Tem coisa – muita coisa por sinal – que pode e deve ser cobrada das autoridades. Mas tem outras coisas em que a gente tem é de ter vergonha na cara.

Sexta-feira de caos

A sexta-feira estava mesmo predestinada ao caos. Reuniu um elenco de complicadores talvez nunca reunido antes:

  1. Chuva fortíssima

  2. Greve no Porto de Santos

  3. Protesto de caminhoneiros em Guarujá

  4. Deslizamento de encostas na Anchieta e na Imigrantes.

O resultado foi um pandemônio. Motoristas pediam socorro na Dom Domênico Rangoni completamente parada desde a manhã. O desespero se repetia na entrada e na saída de Santos do meio da tarde em diante. Em alguns pontos de Cubatão e São Vicente o trânsito parou em função das inundações.

Quem ia, não foi. Quem estava no caminho e conseguiu voltar, deu sorte. Pais não conseguiram buscar filhos na escola. Algumas pessoas tiveram de dormir inesperadamente em hotel ou em casa de amigos. Transtornos de todos os tipos.

É certo que o conjunto de complicadores reunidos por essa sexta-feira caótica tão cedo não vai se repetir. Mas não é menos certo que há um conjunto de gargalos para a mobilidade urbana e para a logística de acesso ao Porto de Santos que encaminham o sistema viário e rodoviário rapidamente para o colapso. A sexta-feira deu uma amostra não-grátis desse caos anunciado.

O Trevo de Cubatão, a Rua do Adubo em Guarujá, a Dom Domênico Rangoni, a entrada de Santos, o trecho vicentino coalhado de semáforos da Imigrantes, a travessia por balsas entre Santos e Guaruja, transversal à entrada e saída de navios… Os pontos-problema estão todos carecas de tão conhecidos.

Para todos eles existem projetos (no caso da entrada de Santos, projeto conceitual) em andamento. Andamento de tartaruga.

A frota dobra a cada seis, sete anos. O número de carretas aumentou 150% em vinte anos.

Um dia a casa cai. Está chegando a hora em que todos os dias vão ser que nem essa sexta-feira.

Carnaval desmetropolizado

Chegou o Carnaval. Santos tem desfile de escolas de samba. São Vicente, não. Cubatão, também não.

O curioso é que o sambódromo de Santos fica quase na divisa com São Vicente. E com acesso de boa qualidade para as cubatenses.

Guarujá tem ligação mais complicada com Santos. Mas isso nunca impediu a participação da escola de samba Amazonense.

Por que não, então, um carnaval metropolitano?

Para as escolas de Cubatão e São Vicente, 2013 vai ser um ano nefasto. Um ano de interrupção de desfile significa um prejuízo terrível. Não é só o desânimo dos integrantes. É a falta de confiança que vai contaminar os próximos anos:

“Vai ter Carnaval? Será que não vai rolar de novo?”.

Você pode pensar que não houve tempo para organizar. Afinal os prefeitos assumiram no início do ano, a menos de 2 meses da festa. Mas eles se elegeram no início de outubro. Paulo Alexandre em Santos, venceu no primeiro turno. Bili, em São Vicente, também. E em Cubatão, nem tem segundo turno.

Um pouquinho de boa vontade, outro de conversa e a coisa poderia ter ficado esquematizada mesmo antes da posse.

O mais curioso é que o carnaval já foi metropolitano. E isso, na década de 80, portanto antes da institucionalização da região metropolitana. Houve, portanto, um retrocesso.

Um campeonato metropolitano de escolas de samba fica mais barato para cada prefeitura. Pode atrair verbas estaduais. E tem potencial para se transformar numa atração turística.

O carnaval santista das escolas de samba desmente sozinho toda essa lenga-lenga de integração metropolitana que a gente escuta dos políticos da região faz tanto tempo.

A crônica no século 21

Machado de Assis, num texto bem-humorado, lança uma tese sobre o nascimento do gênero literário crônica.

Ele imagina que a primeira crônica tenha começado de uma conversa entre duas vizinhas sobre o calor. Daí o assunto teria passado a ser o pomar e a horta de outro morador daquela rua. Na sequência entra em pauta a vida amorosa desse outro vizinho e desse encadeamento flexível e descompromissado de assuntos nasce a crônica.

Neste início de século 21, e em especial neste mês de janeiro, o calor, as chuvaradas e o trânsito também têm potencial croniquesco.

Mas têm a concorrência desleal das fofocas sobre celebridades. Nacionais e locais.

Nesta semana, a crônica certamente teria nascido numa roda de mulheres em cabeleireiro, ou de marmanjos em boteco, sobre a nomeação / exoneração do maridão da prefeita Antonieta, de Guarujá, para o cargo de ouvidor municipal.

Alguém comentaria que no lugar de ouvir queixas de moradores ele vai é escutar zoação dos amigos pelo recorde de curta duração na função. Nem entrou e já saiu. Foi sem nunca ter sido, como a Viúva Porcina da novela antiga.

Outro relataria casos de autoridades que assinam pilhas de papéis sem olhar direito, justificativa da prefeita para a tal nomeação errada. Para isso é requisito confiança absoluta no funcionário que coloca o processo na frente do assinador (ou assinadora, como neste caso) e mostra o local onde a assinatura deve ser colocada.

Alguém na roda já vai lembrar do caso de um juiz de São Vicente que assinou nesse método, a determinação de colocação de uma escada rolante num fórum térreo. E de outro que assinou um pedido de exoneração dele mesmo dois dias antes da aposentadoria. Brincadeiras de funcionários, os tais documentos ficaram expostos no quadro do fórum…

Daí, alguém mais romântico vai dizer que quem está apaixonado percebe o nome da pessoa amada num documento assim que bate o olho nele. Como se estivesse destacado com marcador de texto verde-limão…

E com essa especulação abstrata, mas incômoda, está pronta a crõnica. Pelo menos essa de hoje…

Utilidade pública

Em janeiro de 2011 morreu um adolescente de 18 anos, turista, numa tempestade de raios em Praia Grande. Ele foi atingido na praia.

Em janeiro de 2012 um menino de 13 anos que caminhava com o pai na beira do mar em Guarujá também morreu depois de ser atingido por raio.

E neste primeiro domingo de janeiro de 2013 um casal teve o mesmo fim trágico na praia em Bertioga.

O potencial de um raio pode chegar a 2 bilhões de volts, a corrente a 200 Amperes e a duração do fluxo é muito pequena: 0,0001 segundo. Fulminante.

O coração pára de bater e o socorro adequado é a técnica de ressuscitação.

O número de raios no Brasil tem aumentado, principalmente na nossa regiaõ sudeste. Isso se deve, segundo os especialistas, ao fenômeno La Niña, esfriamento acima do normal das águas do Oceano Pacífico.

Ao aumento do número de raios corresponde diretamente um aumento do número de mortes como essas que foram registradas nas praias da Baixada Santista.

Praias, campos de futebol e descampados em geral são os locais que apresentam mais risco. E 3 de cada 4 mortes por raio acontece com pessoas em atividades de recreação ou esportivas.

Na Antiguidade, gregos e romanos acreditavam que os raios eram fabricados por Hefestos (Vulcano para os romanos) para serem utilizados por Zeus (Júpiter) nas tempestades e nos acessos de ira.

Hoje o fenômeno da descarga da eletricidade das nuvens está cientificamente conhecido.

Mas ainda falta campanha de conscientização para afastar essas muitas tragédias (mais de uma centena por ano no Brasil) que poderiam ter sido evitadas com abrigo em prédios protegidos por pára-raios (obrigatórios) ou, em último caso, deitando na areia ou no descampado para deixar de ser o ponto mais alto na área sujeita às descargas.

Simples assim.

Largada desastrada

A imagem turística do litoral paulista começou 2013 com o pé esquerdo.

Em Guarujá, na virada do ano, um turista de Uberaba foi assassinado por um componente de um bando de “arrastantes”. Tentou recuperar o celular da filha e levou um tiro no peito durante a queima de fogos.

Também em Guarujá, um turista de Campinas morreu assassinado a facadas depois de uma discussão com os donos de um restaurante sobre os valores da conta.

Em Santos, um homem desapareceu depois de um barco de passeio virar. Nessa tragédia um turista se salvou. Conseguiu nadar até a praia.

Na última semana do ano passado outra tragédia com barco. Piratas atacaram um barco de passeio, obrigaram os passageiros a se jogar no mar.

Se a gente somar a essas e outras muitas notícias de violência as imagens de quinto mundo que circularam no país todo da dantesca volta do litoral sul pela Rodovia Manoel da Nóbrega na quarta-feira…

Se você morasse numa cidade do interior paulista ou na Grande São Paulo e estivesse programando uma viagem de verão ou de Carnaval, que efeito essas imagens e essas notícias teriam sobre você?

Ninguém merece ficar 6, 7, 8, 10 horas dentro de um automóvel na volta de uma viagem de passeio. Ninguém merece ficar exposto à crueldade cada vez mais ilimitada de assaltantes, arrastantes e piratas.

O que vale para turistas vale também para moradores das cidades do litoral expostos às mesmas condições de desconforto nas estradas e de insegurança no mar e na terra.

Será que daqui a uma ano, no começo de 2014 teremos tomado algumas ações para mudar essas situações?

Cenas de Quinto Mundo

A volta do litoral depois de um feriado é coisa de quinto mundo. Décima categoria. Prefeitos que saem, prefeitos que entram, deputados da Baixada, governo estadual, concessionárias das estradas… É questão de vergonha na cara.

Ontem muita gente que mora no litoral sul e trabalha em Santos, São Vicente, Cubatão teve enorme dificuldade para chegar ao trabalho. Muitos chegaram com duas, três ou até mais horas de atraso. Quem volta para a Grande São Paulo e para o interior já vem com a alma preparada para o calvário.

Em outros anos havia banheiros químicos no acostamento da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega. Ontem, nem isso.

Ambulâncias, bombeiros, policiais tinham de contar com a boa vontade de motoristas que fazem manobras complicadas para abrir passagem.

A tragédia é anunciada. Todo mundo sabe que vai acontecer. O atraso das obras de elevação da Imigrantes nos cruzamentos com o trânsito de São Vicente é só um fator a mais para a construção desse inferno.

O curioso é que não tem para quem reclamar. É como se fosse necessário ser assim.

Muita gente, pouca estrada…

Pode ser até que que não haja solução satisfatória, ideal.

Mas não tem nenhum sentido a omissão absoluta.

Prefeitos, deputados, governador, concessionárias com o cofre esturricado do dinheiro do pedágio não tomam nenhuma providência para amenizar esse circo de horrores.

Nem uma operação especial como é feita no sistema Anchieta-Imigrantes, nem um escalonamento de horários por placas… nada.

Um bando de pôncios pilatos lavando as mãos em gabinetes refrigerados por ar condicionado e regados com água mineral e cafezinho.

Aqueles motoristas pagam IPVA, pedágio, IPTU e são abandonados à voracidade dos arrasteiros e assaltantes…

Vergonha é muito pouco. Não tem uma palavra adequada para definir essa insanidade, esse descalabro, esse desumanidade que é feita com quem vem buscar um pouco de relaxamento, emoção e beleza no reveillón do litoral e com quem mora aqui e precisa dessas estradas para tocar a vida cotidiana.

Bili e Paulo Alexandre

Dois prefeitos da nova safra estão sendo observados com muita curiosidade pela comunidade da Baixada Santista a partir de hoje: Paulo Alexandre, de Santos, e Bili, de São Vicente.

Os dois desbancaram esquemas de poder que estavam encravados nas duas prefeituras há 16 anos.

E as semelhanças param por aí.

Paulo Alexandre recebe uma máquina de um lado irrigada fartamente por uma arrecadação bilionária e de outro um tanto enferrujada nos últimos anos por falta de uso por um prefeito blindado no gabinete e com apetite político zero.

O trânsito se degrada a cada dia e a CET é mais xingada que mãe de juiz de futebol. A entrada da cidade se transformou num calvário. E a qualidade de vida está ameaçada pela ganância de alguns empresários da construção. Esses são alguns dos nós em que ele vai ter de mostrar serviço rapidamente.

O prefeito de Santos deve ter vida tranquila na Câmara, pelo menos no início. Elegeu bancada majoritária e vai ter na presidência um vereador criterioso e em ascensão.

Além disso deve contar também com o auxílio luxuoso do governo estadual tucano que pela primeira vez tem um correligionário prefeitando em Santos.

Em São Vicente, o PP do prefeito Bili não elegeu nenhum vereador, as contas e os salários estão atrasados, a máquina está super-inchada, os problemas de infra-estrutra e serviços públicos têm nível dramático e a arrecadação fragilizada não sugere nenhum investimento capaz de apagar esses incêndios.

O prefeito vai enxugar a estrutura e um bom pontapé inicial político seria trazer o deputado estadual Luciano Batista, dissidente do PSB derrotado, para ajudar na viabilização a toque de caixa, com dinheiro estadual, dos viadutos do trecho urbano da Imigrantes na cidade.

A comunidade espera dos dois pelo menos um pouco de empenho nas questões metropolitanas que foram completamente abandonadas nos últimos anos.

Contêineres de lixo

Santos adotou a colocação de contêineres para recolhimento do lixo. A medida divide opiniões.

Quem aprova, argumenta com a vantagem em relação ao hábito anterior. A grande maioria colocava simplesmente o lixo na rua embalado em sacos plásticos. Ou nos sacos próprios para lixo. Ou nas sacolas de supermercado. O lixo fica exposto a ratos, vira-latas e vândalos. Vai para as bocas-de-lobo e engrossa o coro das enchentes.

Os contêineres representam um avanço.

Mas têm de ser lavados com água, bem cada vez menos renovável, dizem os defensores do meio ambiente.

Ocupam vagas de estacionamento cada vez mais raras, dizem os motoristas.

Cheiram mal, argumentam os mais sensíveis.

Se o lixo fosse bem separadinho em cada residência e colocado na rua só na hora da coleta, os contêineres não seriam necessários. Mas ainda não existe essa cultura.

A opção seria a de lixeiras elevadas, nas calçadas, como já existem em alguns lugares. gradeadas com vãos largos para não reter lixo nem chorume (o líquido que se desprende dele), e não exigir lavagem.

Resumo da ópera: decisões que envolvem comunidades sempre são complicadas. Porque não dá para agradar gregos e troianos. Ou, mais contemporaneamente, galegos e baianos. 

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