Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

Arquivo para o mês “setembro, 2012”

Esquecimentos

Nesta sexta-feira, na despedida do telejornal Band Cidade, anunciei errado o programa seguinte. No lugar do Jornal da Band, falei o nome de outro, de uma emissora concorrente. Nem percebi. Só quando o pessoal da técnica e da redação veio me zoar. Aí expliquei que precisava ou de férias, pelo cansaço, ou de um substituto, pela idade.

Em agosto já tinha esquecido de emitir uma nota fiscal importante da minha empresa. E nesta semana mais de uma vez tive de dar a volta no quarteirão da academia por não lembrar onde tinha parado o carro.

Das outras vezes em que atravessei fases assim, resolvi o problema com uma receita que aprendi com meu pai: palavras cruzadas. Um teste todos os dias sempre me deixa com a memória acesa.

Estava com essa preocupação na manhã de sábado. Aí caiu na minha mão um artigo do jornalista Fábio Seixas que me mostrou que tenho companhia célebre nessa atrapalhação: Michael Schumacher. 

O heptacampeão de Fórmula-1 bateu o Mercedes forte na traseira do Toro Rosso do novato Jean-Eric Vergne no Grande Prêmio de Cingapura. . O acidente teve violência suficiente para render uma punição ao alemão. E não teve causas mecânicas. Barbeiragem. Schumacher tem 43 anos. Antes do GP, foi o único piloto que faltou à homenagem ao médico Sid Watkins. Que mais de uma vez resgatou o heptacampeão do carro depois de  acidentes na pista. A explicação do piloto foi ainda pior que a ausência: estava no banheiro.

No mesmo final de semana, Schummy errou mais três vezes em público:

1) Trocou o nome do piloto que envolveu no acidente: Jean-Marc no lugar de Jean-Eric.

2) Errou a pontuação do segundo lugar numa corrida: 20 no lugar de 18.

3) Fez uma baita confusão para calcular a diferença de fuso horário entre a Europa e Cingapura.

É impossível lembrar de tudo. Mas é preocupante esquecer coisas importantes. Stress, falta de concentração, deficiência de algum elemento no organismo, Alzheimer, velhice…

Seja qual for a explicação, seja qual for a oração para o padroeiro dos esquecidos, vou me despedindo por aqui. Próxima estação: palavras cruzadas.

Três esferas de poder

Lula dizia que não sabia do mensalão que rolava solto do lado da sala dele. Só faltou jurar dando beijinho na mão. Depois passou a negar o mensalão. Nunca tinha existido. Era farsa. Invenção da oposição.

Agora que o esquemão de compra de votos parlamentares foi confirmado e condenado no julgamento do Supremo, Lula diz que a compra de votos no governo Fernando Henrique não foi investigada. Ah!!! Então existe mesmo essa coisa de compra de votos, presidente?

Pior: no governo dele, Lula não viu, mas no do antecessor, sim. A única explicação é evangélica: “É mais fácil ver um cisco no olho do vizinho que uma trave no próprio olho”.

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O candidato José Serra (PSDB) atingiu a marca de 45% de rejeição dos eleitores de São Paulo. Mesmo assim ganhou um beijo na boca de uma jovem na quinta-feira.

Serra não tem do que reclamar. Não costuma cumprir os mandatos que conquista nas urnas. Largou o Senado para ser ministro, a Prefeitura de SP para disputar o governo e o governo para tentar a Presidência.

Pelo jeito, vai se cumprir a definição mais criativa do inferno astral do tucano, do colunista José Simão: “A rejeição do Serra vai ganhar no primeiro turno”

***

Faz tempo que a entrada de Santos virou problemão. Todo dia tem congestionamento. Agora o prefeito diz que tem um “projeto conceitual” para a nova entrada e que vai mandar de novo esse projeto para o governo estadual.

João Paulo Papa foi presidente da CET no primeiro mandato de Beto Mansur (97-2000). Foi vice-prefeito e secretário de Planejamento na segunda gestão de Mansur (2001-2004). Está há quase 8 anos como prefeito.

16 anos depois, um projeto “conceitual”? O que será que os motoristas que sofrem nos congestionamentos pensaram dessa história?

Projeto conceitual

Estava no caminho do Estádio do Pacaembu. Passava um pouco das seis da tarde da quarta-feira. O jogo do Santos estava marcado para as sete da noite. Final da Recopa Sul-Americana.

Meu filho estuda em São Paulo. Também estava indo para o estádio. Pelo rádio, me avisa que a Avenida Paulista está parada. Trânsito congestionado. Ela está no meu trajeto.

Deixo então o carro num estacionamento perto da Estação Vila Mariana da Linha Azul. Embarco com a minha filha no metrô. Faço a conexão com a Linha Verde duas estações depois, na Paraíso. Mais alguns minutos e já estou na outra composição. Mais dez minutos, descemos na Estação Clínicas. Uma caminhada e estamos no estádio. O congestionamento de trânsito ficou para trás.

Fico pensando: “Em Santos, não temos essa opção”. O motorista não tem como deixar o automóvel e embarcar no transporte coletivo.

Não sei se a solução é o VLT. Ou o aerotrem, o mono-rail que há décadas vejo ser defendido pelo empresário Anuar Assad. Não sei se o número de passageiros comporta um modelo alternativo.

Você que lê provavelmente também não sabe. Não sabemos porque essa questão nem discutida foi.

O caos do trânsito foi mais do que anunciado. A frota de veículos de Santos dobra a cada seis anos. Se o trânsito entrar em colapso, como é que fica o Porto?

A cidade não se planejou para equacionar a questão da mobilidade urbana. Diz que tem um “projeto conceitual” para a entrada da cidade. Ah! Então está bom!

Praia Grande, nesse período construiu a Expressa Sul. São Vicente, a Linha Amarela. O governo estadual duplicou a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega.

Cheguei um pouco atrasado no jogo do Santos. O atraso se deveu à saída de Santos, que fica congestionada todos os dias de manhã e no final de tarde. O problema é nacional, não é local.

Mas em Santos tem um “projeto conceitual” para a nova entrada da cidade.

Como entender?

O eleitor de Santos tem razões que a própria razão desconhece.

À primeira vista é isso que parece. Como entender que o candidato apoiado por um prefeito que completa dois mandatos e se mantém super-bem avaliado fique em terceiro lugar nas pesquisas?

Uma das explicações seria a de que o morador da cidade aprove a figura do prefeito mas não o governo dele. Deve ter um pouquinho disso.

Outra explicação, a de que a gestão do prefeito tenha sido boa para um determinado momento mas de que a partir de agora sejam outras as necessidades que o eleitor detecta na cidade. Talvez exista uma pitada desse tempero, também.

Uma terceira, a de que o santista esteja começando a se incomodar com o rumo que as coisas tomaram. Aqui talvez esteja um motivo mais forte para a troca de comando na Prefeitura.

Não adianta vir com a conversa de que o transporte coletivo tenha qualidade ruim, o ensino público municipal pior ainda e a rede básica de saúde esteja capenga. Isso porque alguma coisa em torno de 2/3 dos moradores têm planos de saúde, se deslocam de automóvel e colocam os filhos em escolas particulares. Não é isso que pega.

O trânsito, sim. Xingar a CET é um dos passatempos preferidos na cidade. Ficou mais do que evidente que nos últimos 15 anos Santos não se preparou um nadinha para esse colapso de caçapa cantada. Daí para desconfiar de que essas torres que se multiplicaram nos últimos anos estejam sendo erguidas com a mesma falta – absoluta – de planejamento… é só um passo. E, por sinal, bem pequeno.

O voto-avalanche

Observadores da política de Santos – e até prefeituráveis adversários – começam a definir a tendência favorável a Paulo Alexandre Barbosa como voto-avalanche.

A palavra tsunami também tem sido utilizada. Cria-se num certo momento uma onda e a partir daí a candidatura não pára de crescer.

É evidente que tendências sempre são sujeitas a uma reversão.

Mas neste momento, a doze dias da eleição, reverter essa parece missão muito difícil.

O voto-avalanche se forma a partir de algumas premissas e provoca algumas consequências no ambiente político onde se desenvolve.

A bola de neve começa a se formar a partir de uma campanha bem planejada e bem feita e de um candidato que cai na simpatia da eleitora e do eleitor.

As pesquisas de intenção de voto aumentam a bola a partir do momento em que mostram aquela candidatura com chances de vitória ou até na liderança.

Muitos eleitores a partir daí se agregam porque gostam da ideia de votar no provável vencedor, de “não perder o voto”.

No caso de Santos, a possibilidade de resolver a questão já no primeiro turno ajuda a engrossar esse caldo.

Tudo isso forma a onda. Como a visibilidade do candidato que conseguiu esse efeito é altíssima, uma ação ou declaração desastrada pode quebrar o encanto. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o presidenciável Ciro Gomes na campanha de 2002, vencida por lula. Quando a onda favorável a ele estava formada, Ciro Gomes se referiu de maneira pejorativa e chula à mulher dele na época, a atriz de novelas Patrícia Pillar, dizendo que o principal papel de sua companheira em sua campanha era o de dormir com ele. Despencou nas pesquisas.

A principal consequência, se a onda cresce até a eleição, é o estrago que a campanha faz nos outros candidatos. A hemorragia de votos faz os adversários ficarem com muita dificuldade de enfrentamento. Aí são obrigados a adotar estratégias de sobrevivência política.

Nem aflorada nem amordaçada

Um conselho sempre repetido pelos mais velhos: não agir sob o efeito de uma emoção forte. Até a legislação criminal considera o quadro emocional como atenuante em alguns crimes.

Com muita raiva, muito medo ou muita ansiedade a gente quase sempre age de uma maneira que provoca arrependimento depois.

E o prejuízo da emoção forte não é só esse da ação precipitada e impensada. A emoção de duração maior, o ressentimento, o ódio, a tristeza também entortam a avaliação que fazemos de fatos, situações e pessoas. O outro parece muito pior do que é quando a gente está com raiva dele. Cometemos injustiças muitas vezes difíceis de consertar quando julgamos sob o efeito da emoção.

Do mesmo jeito que a emoção aflorada prejudica a tomada de decisões, ações e avaliações, a emoção escondida, reprimida, mal-resolvida faz as pessoas baterem cabeça.

Com raríssimas exceções, todos nós levamos da infância e da adolescência – às vezes até da vida uterina – traumas e questões emocionais não resolvidas que nos fazem patinar na vida pessoal, profissional e afetiva. O trabalho de psicólogos e psiquiatras é desvendar e desatar esses nós emocionais.

Um verso que acompanhou muita gente maior de 40 fala sobre essa questão:

“Quando a gente tenta/ De toda maneira/ Dele se guardar/ Sentimento ilhado/ Morto, amordaçado/ Volta a incomodar”.         

É do poeta Clésio Ferreira e está na música Revelação que fez sucesso com o cantor Fagner nos anos 80.

Não dá para agir sob o efeito da emoção e não dá para fingir que ela não existe, matar e amordaçar, como diz o verso cantado por Fagner.

Um dos sintomas mais claros de sabedoria é lidar com equilíbrio e bom-senso com as emoções.

O uso da popularidade

O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, tocou num ponto importante, nesta sexta-feira, ao rebater uma acusação petista ao partido dele de golpismo.  

Não vale a pena analisar o crônico e cada vez mais intenso bate-boca partidário-eleitoral entre PT e PSDB. Mas é interessante pensar um pouquinho na observação do tucano sobre o uso que Lula tem feito da popularidade:

“É um sentimento de que é dono do povo. Isso não é uma boa ideia. Até se, por acaso, ele tiver, e tem, uma popularidade relevante, a melhor atitude é de ter, diante disso, humildade e não arrogância. Acho que ele se acha o dono do povo. Acha que tudo pode ser enfrentado, inclusive a verdade”.

Uso da popularidade. Serve para Lula. Serve para muitos outros.

Sérgio Guerra dá os exemplos de Recife e Belo Horizonte em que “os discursos de Lula a favor de candidatos do PT ou apoiados pelo partido são um negócio sem pé nem cabeça”. “Pessoal, rancoroso. Um ex-presidente da República não devia nem podia agir assim”.

A carapuça serve para Lula também em SP. Os trinta e tantos por cento que Marta Suplicy exibia nas pesquisas estão transformados nos 15% no candidato de proveta de Lula, Fernando Haddad. 

Lógico que nos 15 dias até a eleição a coisa ainda pode mudar.

Coisa bem parecida acontece em Santos. O prefeito João Paulo Papa (PMDB)  optou por um candidato ainda não testado nas urnas, Sérgio Aquino, no lugar do ex-vice dele, Fifi (PTB), do padrinho político dele, Beto Mansur (PP) ou de um vereador do partido, como Marcus de Rosis (PMDB). Pode até virar o jogo até a eleição. Mas vem enfrentando momentos de angústia com a posição de Aquino nas pesquisas.

Sérgio Guerra toca num ponto muito importante para reflexão de quem desfruta de aprovação: humildade no uso da popularidade. 

Descompasso eleitoral em Santos

Gastone Righi merece ser ouvido.

O ex-deputado federal Gastone Righi tem uma opinião original sobre a eleição de Santos. Ele vê um lado extremamente positivo e outro muito ruim.

Gastone merece ser ouvido. Uma porque se trata de uma das grandes lideranças políticas gestadas na história recente da nossa região. Uma poderosa cabeça pensante. E outra porque o ex-deputado foi protagonista na luta santista pela reconquista do direito de eleger o prefeito. O projeto da lei que devolveu a autonomia de Santos e também a de Cubatão e a de São Sebastião, na década de 80, tem autoria dele.

De bom, Gastone aponta o amadurecimento eleitoral. Candidatos qualificados representando todas as tendências políticas. Entre eles ex-prefeitos, deputados estaduais e federais, um ex-secretário estadual, um ex-presidente da Câmara de Santos, ex-secretários municipais com realizações importantes. Ou seja gente preparada e ninguém se valendo de ser exótico para tentar uma aventura. O eleitor tem opções.

De ruim, o ex-parlamentar reclama da ausência de propostas abrangentes, com uma visão de futuro da cidade. Gastone vê muitas propostas pontuais e nenhuma que aponte caminhos a serem trilhados pela cidade em questões importantes, como, por exemplo a mobilidade urbana.

Tem razão nos dois pontos.

Fala-se muito em túnel Zona Leste- Zona Noroeste. Mas não se fala em incentivar a instalação na Zona Noroeste dos equipamentos que provocam esses deslocamentos dos moradores de lá. Fala-se um Poupa Tempo da Saúde e em equipar o antigo Hospital dos Estivadores, adquirido neste ano pela Prefeitura. Mas não se propõe um modelo de integração regional nem se leva em conta que de cada 3 moradores de Santos, 2 são clientes de planos de saúde e não sobrecarregam os serviços públicos desse setor.

Dia desses um ouvinte do Jornal Litoral, da Rádio Mix, chamado Jefferson Ricardo, propôs uma saída direta dos caminhões da Via Anchieta para a Avenida Nossa Senhora de Fátima, antes da entrada da cidade, para aliviar o insuportável trânsito dali. Um dos comentaristas do programa, Ronaldo Serapicos, reagiu dizendo que o Jefferson tinha acabado de se tornar o candidatos dele a prefeito de Santos pela proposta prática, que ele não estava vendo nas campanhas.

Fica uma pergunta para os cientistas políticos: “Se os candidatos são qualificados – e são mesmo – por que será que as propostas não são?”.

Folha de bananeira

Estava conversando com minha irmã sobre a maneira de preparar a tainha recheada de forno, prato que brilha nas lembranças da minha infância e adolescência. Perguntei para ela se a tainha deve ser coberta com papel-alumínio. Ela disse que sim. Fiquei surpreso porque não lembrava da minha mãe fazer assim. Ela me explicou que minha mãe tinha aprendido com meu avô a cobrir com folha de bananeira untada com manteiga, como fazem na cidade dele, Iguape.

A casa em que a gente morava tinha um quintal todo rodeado de bananeiras…

Depois de desligar o telefone, senti muita saudade. Minha mãe morreu muito nova, aos 49 anos. Eu tinha 29. Acho que nunca consegui expressar para ela o amor que hoje sinto com tanta clareza e intensidade.

Ela e meu pai, esse avô, João, que também amo muito, minha avó Benigna, espanhola, com quem sou muito parecido, que morreu também cedo e não conheci, assim como também aconteceu com meus avós paternos, Michel e Judith, são os que vieram antes.

Represento um elo entre eles e meus filhos, Guilherme, de 19 e Luiza, de 15, e os que vão vir depois.

No sábado, estava muito feliz em São Paulo, no casamento da minha sobrinha, Luana. Não consegui decifrar esse sentimento de felicidade na hora. Mas tem a ver com essa corrente. Tenho certeza de que minha mãe estava ali e muito orgulhosa da neta que estava casando e que ela não conheceu (minha irmã estava grávida dessa segunda filha quando ela morreu). E que também estava orgulhosa do Guilherme como padrinho no altar ao lado da Lívia, a terceira filha da minha irmã, e também da Luiza, que estava com a cabeça apoiada no meu ombro na igreja..

40, 50 anos depois, a tainha com a folha de bananeira traz a consciência dessa corrente genético-familiar. Infinita. Espiritual. Alguns elos viveram contemporâneos de Napoleão. Outros devem ter se espantado com a descoberta de Pedro Álvares Cabral. Alguns na época de Cristo. Outros vão estar em algum planeta muito evoluído no futuro…

Faz dez dias, numa segunda-feira, minha noite foi de estudar matemática com minha filha, preparar um macarrão que ela tinha visto postado no Facebook (ficou ótimo) e depois assistir ao lado dela à primeira metade do último filme da série Harry Potter, que ela tinha visto e eu, não. (VI todos os outros com ela e com meu filho nas pré-estréias, no cinema).

Naquela noite senti que a felicidade é feita de coisas simples assim. Veja bem: senti, que é diferente de saber. Senti,  que é vivência, não teoria. Uma coisa é a consciência, o conhecimento de que o melhor da vida, os momentos mais felizes, são construídos com essa simplicidade. Outra coisa, muito diferente, é sentir isso.

A mesma coisa vale para a consciência – ou a sensação – de fazer parte da corrente… 

Maligna psicologia do consumidor

Efeito estufa, fofocas sobre celebridades, agrotóxico, maconha e cocaína, programas de exploração do crime no rádio e na TV, poluição ambiental, congestionamentos de trânsito, psicologia do consumidor… qual dessas modernidades traz mais prejuízos para o ser humano deste século 21?

Você pode ter estranhado a inclusão aí da psicologia do consumidor, disciplina-estrela dos cursos de publicidade. Mas na semana passada li um artigo da Barbara Gancia em que os institutos de pesquisa eram definidos como”esses horrendos laboratórios de análises que servem para desvendar os mecanismos que levam o consumidor a entregar a alma ao diabo do consumo”.

Fiquei pensando nisso. O gancho que provocou essa definição é uma pesquisa que aponta que mais da metade dos consumidores das classes A e B, as de maior poder aquisitivo, entende que os produtos devem ter versões “para rico e para pobre”.

É aquela coisa do status conferido pela grife. “Eu posso ter e você, não”. Na década de 60, os hippies e a esquerda deram uma aura de horror e atraso a essa mentalidade. Mas de lá para cá, o “ter” avança lenta e continuamente sobre o “ser” no pensamento da maioria.

E a psicologia do consumidor é peça fundamental nesse esquema. Produtos trabalhados por ela ganham uma obrigatoriedade completamente artificial. Você precisa mesmo de um iPhone 5? Ou de uma TV 3D de 54 polegadas? E pagar 4 ou 5 vezes mais por um produto só para ter a etiqueta de grife nela?

João Paulo Cunha, o deputado mensaleiro que acaba de ser condenado no Supremo pelo mensalão, foi visto um pouco antes da explosão do escândalo, na Daslu, templo do consumo dos muito-ricos de São Paulo. Uma das lojas mais caras do mundo. Tem definição melhor para o procedimento dele do que “entregar a alma ao diabo do consumo?”.

Quando a gente pensa que está livre para fazer uma escolha no supermercado ou na concessionária de automóveis, comete profundo engano. Os “horrendos laboratórios” já estão conduzindo os nossos passos desde antes da saída de casa. Vamos como robôs até a prateleira ou até o modelo que eles sabem como plantar no nosso desejo.

O Datena e o Nelson Rubens trazem menos prejuízos para a gente que o intervalo comercial…

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