Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

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Horroroso futuro possível

A idéia deste texto era a de imaginar o futuro. Reunir algumas tendências atuais – individuais e coletivas – e desenhar um cenário possível em que elas tivessem se universalizado. Algumas coisa como os romances clássicos do século passado 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, só que de maneira bem resumida.

As mulheres nesse futuro teriam, todas, mamas turbinadas e cabelos lisos. Os homens teriam a potência sexual do Viagra pela vida toda. Os corpos teriam o desenho das lipoesculturas e cirurgias de redução de estômago. Não haveria mais tristeza e depressão pelo efeito de Prozacs, Lexotans e Cia Ltda. Os dentes seriam implantados e perfeitamente brancos. Os casais, de todas as combinações GLBTT e heteros, teriam a duração limitada a um período de prazer sexual. Todos seriam sexualmente “completos” como nos anúncios de garotas de programa. O conhecimento seria absolutamente superficializado e igual para todas as pessoas, podendo ser obtido a partir de um chip instalado no cérebro. As câmeras de observação abarcariam todos os ambientes…. As calçadas funcionariam como escadas rolantes e o ar condicionado seria o nipresente.

Nesse cenário, a profecia de Andy Warhol, dos 15 minutos de fama, teria se transformado em legislação. Todos se tornariam celebridades instantâneas como um Big Brother, a Rosemary Fogueteira da década de 90, a Preta Gil ou o Romarinho.

Um consórcio formado pela Rede Globo, a BBC de Londres, a CBS dos Estados Unidos e a Televisa mexicana teria eliminado a concorrência e estabelecido padrão único para os meios de comunicação.

Esse quadro de horrores não combina com a diversidade produzida pela reprodução humana, sexuada. Mas a manipulação genética e a fertilização in vitro já teriam resolvido essa questão.

É horrível. Mas é uma possibilidade concreta.

Avenida Brasil

O país parou na sexta-feira às nove da noite para assistir ao último capítulo da novela Avenida Brasil. Noveleiros assumidos se juntaram aos que saíram do armário e aos anti-noveleiros para surfar na onda da Carminha, do Tufão e da Nina. O contágio foi geral. Ganhou repercussão o fato de a presidenta Dilma ter alterado a agenda em função da novela na última semana.

Para autores, diretores e elenco, fica uma marca inesquecível na carreira. O sucesso é doce e inebriante. A Rede Globo conhece o público brasileiro e alcançou a excelência nesse negócio de produzir novelas. Estranhamente perdeu espaço no mercado internacional nos últimos anos. Talvez porque a temática tenha se aproximado mais de questões especificamente brasileiras e se afastado das universais.

Pão e circo, diziam no tempo dos romanos. Alimento e diversão constituíam a fórmula de manter o apoio da população ao esquema no poder.

Não mudou muita coisa nesse ponto do psiquismo humano. O circo ganhou aparato eletrônico. Futebol e novela dominam as conversas ao ponto do ex-presidente Lula ter dito que a população está mais preocupada com o Palmeiras, ameaçado de rebaixamento, do que com o julgamento do mensalão.

Comida, diversão e arte, pediam os Titãs na letra do concretista Arnaldo Antunes.

A novela tem esse status de arte? Se a discussão entrar nesse campo, não termina mais. Grandes atores e atrizes, sem dúvida. Grandes histórias. E a verdade é que a novela tem se aproximado de questões importantes como a corrupção, as características de algumas doenças, o avanço do homossexualismo…

Ainda sem a agudeza de filmes como Tropa de Elite. Mas tem colocado  questões reais, dentro do limite que a obrigação de abranger públicos de todos as faixas de idade e renda impõe.

As outras redes de televisão, para enfrentar essa excelência ainda têm de comer muito mingau. 

Arrogância e puxa-saquismo

O segundo gol do Santos na vitória contra o Corinthians no domingo na Vila Belmiro foi irregular. Os três últimos jogadores do Peixe que tocaram na bola no lance estavam todos impedidos.

O erro do auxiliar, ratificado pelo juiz, serve como referência – super –interessante, por sinal – para analisar a isenção dos meios de comunicação brasileiros.

O treinador corintiano teve um chilique na entrevista coletiva. O ex-craque Ronaldo, aposentado pelo excesso de peso, teve outro no Twitter. Um jornal esportivo abriu a manchete “Bandeira cego garfa o Timão”. E a Rede Globo tratou o episódio como um escândalo.

É curioso. Porque episódio bem parecido aconteceu no sentido inverso em 2010 e mereceu destaque, choque, manchetes e chiliques muito menores, na verdade inexistentes, dos mesmos envolvidos.

Jogavam, também na Vila, Santos e Corinthians. O jogo estava empatado por 2 a 2. Já nos acréscimos do segundo tempo o zagueiro Paulo André fez o terceiro gol corintiano em impedimento bem mais evidente que qualquer um dos três do Santos ontem. O erro influenciou de maneira mais decisiva o resultado porque não havia mais tempo para a reação. Mas não despertou nos mesmos personagens de ontem reações iradas e chiliquentas.

O comportamento reforça as suspeitas em relação a alguns meios de comunicação de puxa-saquismo da torcida corintiana, avaliada estatisticamente como a segunda maior do país.

No caso da Rede Globo, reforça também a percepção de comportamento arrogante e prepotente. O tal tira-teima é apresentado como infalível, coisa que não é real.

A velocidade de um jogador pode ser estimada, por baixo em 7,5 m/s. Um num sentido e o adversário em outro, (situação freqüente nos lances polêmicos) dá uma velocidade relativa de 15 m/s. Em um frame, medida equivalente a 1/30 (um trinta avos) avos de um segundo, a posição entre eles pode variar portanto 50 cm. E o contato do pé do jogador que lança (momento em que o impedimento é determinado) com a bola pode durar de 3 a 6 frames. A escolha, portanto, é do operador do tira-teima e o olho humano não percebe a diferença.

O bom-senso, entretanto, percebe perfeitamente bem quem é puxa-saco e quem é arrogante.

Novela, futebol e mensalão

Na semana passada o Santos jogou na quinta-feira em Minas, contra o Galo, líder do campeonato. O horário do jogo coincidiu com o da novela. Ou porque o time venha capengando no Brasileirão ou porque o enredo seja muito envolvente, vários torcedores usaram muito revezaram a sintonia entre o SporTV e a Rede Globo.

Nas próximas semanas o Peixe e os outros times brasileiros vão ter outro concorrente pesado na audiência da televisão: o julgamento do mensalão promete fortes emoções.

Seja porque os personagens dessa trama tenham se tornado celebridades – de José Dirceu a Marcos Valério -, seja porque exista uma demanda muito reprimida para ver punição de corruptos no país, seja porque a sombra do presidente Lula paire não tão discretamente assim sobre a quadrilha, a novela do mensalão vai dar Ibope alto.

As reportagens sobre os bastidores já mostram esse potencial de curiosidade do distinto público.

Zé Dirceu e Marcos Valério posando de santinhos de um lado, Luxemburgo e Felipão com declarações polêmicas de outro e Adriana Esteves e Ísis Valverde com caras e bocas no meio. Haja controle remoto!

Formadores de opinião já conhecem o relatório do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de que as provas contra Dirceu e Cia são sólidas. Cairia assim por terra as teses lulo-petistas de farsa, de tentativa de golpe e de crime apenas eleitoral.

O cearense Roberto Gurgel é arretado. O presidente Lula talvez tenha se arrependido de ter escolhido o nome dele para o cargo na lista tríplice em 2009. Agora é tarde.

É tarde também para se arrepender da indicação de Joaquim Barbosa logo no início do primeiro mandato, em 2003. O relator transformou em réus aqueles por quem Lula está pronto para jurar pela inocência.

O julgamento promete desvendar, finalmente, a verdadeira saga dos mensaleiros. Vem aí a estréia. Depois é só torcer nas próximas rodadas. Ou nos próximos capítulos.

Brigas sem contra-indicações

A multiplicação das teorias da conspiração é um efeito colateral da explosão da internet e das redes sociais. Uma elucubração mais cabeluda que a outra. Antes da internet elas eram raras. De vez em quando aparecia uma. Que o Elvis Presley não tinha morrido. Que o Tancredo Neves tinha tomado um tiro na missa e que a repórter Gloria Maria, da Rede Globo, tinha visto. Que a Aids tinha sido desenvolvida em laboratórios dos Estados Unidos…

Agora elas aparecem às dúzias. Tem para todos os gostos.

É verdade que as técnicas de marketing, a contrainformação, o sensacionalismo dos meios de comunicação e a espionagem montaram uma salada em que fica difícil saber quem é herói e quem é vilão, quem é a princesa e quem é a garota de programa.

No meio dessa quizumba, tem de ter a percepção muito apurada para distinguir o que é espontâneo do que é pura armação.

O cientista político Fernando Chagas apontou, nesta semana, no Jornal Litoral, da Rádio Mix, uma dessas ações que parecem naturais e que são, na verdade, cuidadosamente planejadas.

Ele chamou a atenção para a série de boas causas que a presidenta Dilma Roussef passou, de repente, a defender com unhas pintadas e dentes clareados.

Começou com a redução dos juros dos bancos. Quer briga melhor do que essa?

Quando passou o efeito da cruzada contra os banqueiros, veio a chacoalhada nos planos de saúde. Nunca antes na história deste país alguém tinha defendido os usuários desses abusos, tipo demora para consulta…

O povo ainda nem tinha se recuperado da surpresa e já veio a punição às operadoras de celular.

É provável que mais castigos venham por aí. Nesta semana Dilma já andou rosnando contra as demissões nas montadoras de automóveis: “Se demitir, acaba redução de IPI”.

Popularidade de presidente é índice atrelado de corpo e alma ao desempenho da economia. Em ano que em que o PIB vai ter crescimento bem magrinho e em que as crianças ainda não recebem o cuidado que merecem, aponta Fernando Chagas, nada melhor, como estratégia de marketing, do que comprar essas brigas sem contra-indicações…

Pão, circo e machismo

O final de semana concentrou três eventos esportivos de repercussão planetária:

1) O Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula-1

2) A luta de defesa de título de MMC entre Anderson Silva e Sonnen

3) A final de tênis masculino de Wimbledon, o mais tradicional e cobiçado torneio do circuito.

Difícil não prestar atenção. Os meios de comunicação batem infinitas vezes na mesma tecla. Anunciam previamente a transmissão trocentas vezes, todas com aumento de volume. Transmitem ao vivo, ou pelo menos com um ao vivo fake, como o da Rede Globo e do Galvão Bueno na luta do Anderson Silva. Repetem depois. Apresentam os melhores momentos. Comentam com e sem imagens nos programas esportivos. E depois tudo de novo nos telejornais.

Os grandes eventos esportivos na televisão fazem a gente lembrar que em alguns pontos a humanidade não evoluiu tanto assim. “Pão e circo” já recomendavam os romanos na Antiguidade. E dos gladiadores para o MMC a diferença de brutalidade não é tão grande assim…

Outro ponto a ser observado é que os três grandes eventos deste final de semana tem estrelato masculino. Houve, é claro, no sábado, a final feminina de Wimbledon. Mas com audiência de televisão ao redor do mundo muito menor do que a masculina. Um debate sobre as premiações masculinas e femininas serem iguais agitou a semana do torneio inglês. Estrelas do tênis se manifestaram como Maria Sharapova, Serena Williams, a campeã, Andy Roddick e o também campeão Roger Federer.

Nas lutas como MMC e boxe, as garotas ganham muito, muito menos que os marmanjos. E na Fórmula-1 é Clube do Bolinha, não tem nenhuma mulher num cockpit.

Neste século 21, você pode acompanhar ao vivo, com riqueza de detalhes, as grandes competições esportivas como essas três do final de semana. Daqui a um tempinho, vai ser em 3D.

A tecnologia evoluiu. Mas o machismo e o “pão e circo” continuaram exatamente os mesmos.

A estupidez do BBB tem limite?

Página de abertura do portal msn ontem à tarde:

Monique elogia o tamanho do órgão sexual de Jonas”.

Então tá.

Trata-se de um acasalamento de dois participantes do reality show Big Brother Brasil, da Rede Globo. O programa foi definido pelo veterano e esclarecido Boni, pai do diretor-geral, Boninho, como “muito ruim”. Isso num programa da própria Rede Globo. E na frente de um apatetado Pedro Bial, o apresentador do BBB.

A essa definição sobre a qualidade do programa não cabe, portanto, nenhum recurso. O “muito ruim” transitou em julgado. Mas a questão não se esgota aí.

Sem nenhum moralismo babaca, sem nenhuma “caretice”, como se dizia no século passado:

E daí?”.

E daí que essa tal Monique fez esse elogio? O que isso acrescenta? O que tem de importante? A quem interessa essa informação?

Televisão é concessão de utilidade pública. Qual a utilidade da opinião da moça sobre o calibre do colega de BBB?

É evidente que nenhuma. A não ser para envergonhar o pai, a mãe e outros parentes da tal Monique, se é que eles conservam a capacidade de se envergonhar.

Está mais do que na hora de discutir se os valores que crianças e jovens devem receber da televisão são esses.

Está mais do que na hora de uma iniciativa das emissoras: estabelecer uma autorregulamentação ética. Como já acontece no setor da publicidade.

Num outro patamar de amadurecimento cultural, certamente a comunidade manifestaria adesão maciça a um boicote à programação da Rede Globo, responsável pela popularização de baixarias desse tipo. Ou a campanhas como a que está rolando em Cubatão e que pede a extinção do Big Brother.

Enquanto não se atinge esse patamar, o que fazer?

Como lidar com personagens grotescos e emburrecedores como essa Monique, esse Jonas e esse Bial que invadem a casa das pessoas pela tela?

Será que basta mudar de canal?

Será que se deve enviar cartas de protesto para a emissora e para os patrocinadores? Será que já não está na hora de organizar boicotes contra eles?

Quem tem uma sugestão?

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