Blog do Paulo Schiff

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Contêineres de lixo

Santos adotou a colocação de contêineres para recolhimento do lixo. A medida divide opiniões.

Quem aprova, argumenta com a vantagem em relação ao hábito anterior. A grande maioria colocava simplesmente o lixo na rua embalado em sacos plásticos. Ou nos sacos próprios para lixo. Ou nas sacolas de supermercado. O lixo fica exposto a ratos, vira-latas e vândalos. Vai para as bocas-de-lobo e engrossa o coro das enchentes.

Os contêineres representam um avanço.

Mas têm de ser lavados com água, bem cada vez menos renovável, dizem os defensores do meio ambiente.

Ocupam vagas de estacionamento cada vez mais raras, dizem os motoristas.

Cheiram mal, argumentam os mais sensíveis.

Se o lixo fosse bem separadinho em cada residência e colocado na rua só na hora da coleta, os contêineres não seriam necessários. Mas ainda não existe essa cultura.

A opção seria a de lixeiras elevadas, nas calçadas, como já existem em alguns lugares. gradeadas com vãos largos para não reter lixo nem chorume (o líquido que se desprende dele), e não exigir lavagem.

Resumo da ópera: decisões que envolvem comunidades sempre são complicadas. Porque não dá para agradar gregos e troianos. Ou, mais contemporaneamente, galegos e baianos. 

Nariz empinado

O ex-presidente Lula bateu de frente com uma velha tradição brasileira: o complexo de vira-latas. A definição dessa inferioridade de nascença da nossa população pertence ao genial teatrólogo e cronista Nelson Rodrigues, que neste 2012 tem centenário de nascimento.

Na verdade, Lula coroou uma tendência que começou com a conquista da primeira Copa do Mundo em 1958. E que veio evoluindo… Fernando Collor, por exemplo, depois de eleito, em 89, jogou na cara de chefes de estado europeus e norte-americanos a devastação ambiental promovida nos países deles. Foi a primeira vez que um presidente brasileiro não aceitou de orelha murcha imposições estrangeiras de preservação da amazônia e da mata atlântica no Brasil.

Lula pulou para o lado alto da gangorra. Virou do avesso o tal complexo de vira-latas. Inverteu o jogo com o FMI. Tripudiou em cima da crise financeira de 2008-2009. O tsunami que sacudiu o mundo, aqui, diante da solidez da nossa economia, virou marolinha.

E por aí vai.

Dilma, mais discreta em outros pontos, nesse da jactância da suposta blindagem anti-crises, adotou a receita de Lula. E nesta semana andou ditando regras de macro-economês lá na Alemanha.

Nada contra essa auto-estima inflacionada. É até bacana essa volta por cima no complexo.

Mas vamos imaginar o seguinte caso. Um sujeito não consegue dar educação de qualidade para os filhos. Não consegue cuidar direito da saúde deles. A casa vive sendo assaltada porque não tem muro nem cachorro. Ou seja, a coisa não anda boa. A não ser nas finanças. O sujeito está endividado até a tampa. Mas num determinado momento se equilibra e consegue pagar os juros e as contas.

Aí ele resolve dar lição de moral no vizinho que educa os filhos com capricho, cuida da saúde deles e protege a família da bandidagem com sucesso. Mas que está passando por uma crise de grana.

O vizinho não vai acreditar, vai olhar para ele como se fosse um ET:

“Como é que é?”.

Com a educação no Brasil do jeito que está, a segurança pública, a saúde… deve ter sido mais ou menos assim que a chanceler da Alemanha olhou na segunda-feira para a presidenta Dilma.

De vira-latas a ufanistas

Os brasileiros oscilamos historicamente entre o complexo de vira-latas e o ufanismo mais desvairado. Em alguns momentos, nada do que é brasileiro presta. Do produto fabricado aqui ao ser humano nativo. Em outras fases somos os melhores do mundo. Os reis da cocada preta.

Os brasileiros do litoral paulista não constituímos exceção a essa regra. Neste momento estamos no lado alto da gangorra. Um conjunto de fatores mantém essa posição de euforia:

1) A exploração do petróleo e do gás na Bacia de Santos. 2) Os recordes na movimentação cargas do Porto de Santos. 3) A conquista de fatias do fluxo turístico como a dos cruzeiros marítimos e a do turismo de negócios. 4) A perspectiva de que algumas obras da mitologia do litoral saiam do papel como túnel Santos-Guarujá, aeroporto, Veículo Leve Sobre Trilhos.

O Carnaval, época dos sambas e dos enredos de exaltação, normalmente coloca no ar o clima de Aquarela do Brasil. Tudo é lindo e maravilhoso. Neste Carnaval, entretanto, dois artigos muito bem estruturados escancararam a fragilidade da nossa euforia litorânea.

No primeiro deles, o médico infectologista Evaldo Stanislau de Araújo expõe, a partir do caso da morte de uma tripulante de um navio de cruzeiros, as carências do sistema de saúde de uma região que comemorava  embarques de 20, 25 mil passageiros por dia.

O especialista questiona, a partir das ocorrências dos últimos anos, a organização, a estrutura urbana e os serviços essenciais, como os da da área da Saúde. Tanto no número quanto na qualidade.

Em relação a casos como o da morte da moça e internações de outros tripulantes e passageiros, Evaldo Stanislau, aponta falhas gritantes como a inexistência não só de um laboratório com respostas rápidas e funcionamento ininterrupto mas também de unidades de terapia com isolamento respiratório, além da carência crônica de leitos hospitalares de emergência e da desintegração entre as esferas municipais, estaduais e federais da Saúde e hospitais e laboratórios.

O médico usa no artigo a expressão inércia paralisante para definir a atitude regional diante dessas questões.

O outro artigo que alerta contra a pasmaceira ufanista é do secretário estadual do Meio Ambiente..

Bruno Covas  faz um histórico dos vazamentos de petróleo dos últimos meses como o recente na Bacia de Santos. E mostra que a somatória dos da Petrobrás  equivale a quase dois acidentes como o da petroleira Chevron, na Bacia de Campos,

Acidentes fazem parte, você, leitora / leitor, deve estar pensando. Só que esses  vazamentos, além de desnudar falhas do sistema de exploração, mostram também ineficiência na política de redução de danos desse tipo de ocorrência.

Bruno Covas chama atenção para o que ele define como uma certa excludência entre exploração econômica e preservação ambiental na mentalidade das autoridades federais. E exemplifica com a ausência da preocupação ambiental entre os temas que formatam os projetos do marco regulatório do pré-sal. Aponta também as inconsistências apontadas pela agência ambiental paulista, a Cetesb, no processo de licenciamento ambiental da exploração do pré-sal.

Os alertas foram feitos no Carnaval. E as providências devem começar já nesta Quaresma.

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