Coisa de Satanás
Uma obra de engenharia só desaba se o diabo se empenhar nisso. O professor Victor Mello, da Escola Politécnica da USP, sempre demonstrou esse teorema por a mais b.
Pode soar estranho num cientista a citação do diabo. Mas tem lógica irretocável. Coeficientes de segurança, explicava o português, um dos mais conceituados especialistas em solos da história do Brasil, majoram significativamente no cálculo os esforços a que a estrutura vai ser submetida. E ao mesmo tempo reduzem a resistência do aço e do concreto. O método construtivo tem todos os cuidados necessários e mais os desnecessários. Todas as situações possíveis já foram esquadrinhadas nos zilhões de construções anteriores. E um erro só não derruba um prédio. Nem dois. Nem três. A sinfonia de erros tem de ser tão abrangente e diversificada, que só pode ter sido regida pelo diabo.
Algum satanás, assim, derrubou o Moulin Rouge em Santos no começo dos anos 90. Ou o Palace do deputado já falecido Sérgio Naya no Rio de Janeiro.
O teorema do velho professor vale também para tragédias como a de Santa Maria, no final de semana, ou a do Clube de Regatas Santista, em Santos, em 97.
Só um exército de capetas pode juntar seguranças sem treinamento e sem equipamento de comunicação, salas superlotadas, extintores que não funcionam, ausência de sinalização para uma saída que era única e uma banda que usa fogos de artifício ou assemelhados em lugar fechado.
A repetição periódica dessas tragédias já mostrou que se depender só da fiscalização, elas vão continuar acontecendo.
Ou seja, a prevenção desse tipo de risco depende única e exclusivamente de cada um de nós e do nosso conjunto, a comunidade.
Somos nós que vamos ter de aprender a não consumir mais produtos e programas colocados no mercado por empresários que tenham como prioridade o lucro e não a segurança.