Blog do Paulo Schiff

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É hoje

Vale mais a razão ou a emoção hoje?

Não a emoção de viver a plenitude da democracia. Mas sim o critério de escolha. Você escolhe com  cabeça ou com o coração?

O dia da eleição representa o momento maior das nações democráticas. Votar tem o significado de decidir o próprio destino. Para quem viveu os períodos sombrios de ditaduras no Brasil, bate essa emoção. Coisa para quem tem mais de 40. Quem tem menos de 30 vê a eleição como coisa natural – sempre foi assim. E até tediosa. “Como é chato esse horário eleitoral!”.

Viver sob o domínio de quem não foi escolhido pela maioria para isso, é renunciar à liberdade e à autonomia. O ditador é para a nação mais ou menos assim como um tio que manda em você. Escolhe onde você vai morar, que carreira vai tentar no vestibular e até com quem você vai casar. Insuportável.

Mas a democracia também é sofrida. Porque é processo. Demorado. Não tem como queimar etapas.

Nesses 30 anos de democracia, 23 dela completa com a escolha do presidente, o cenário brasileiro mudou para muito melhor. As crianças estão todas na escola. O produto brasileiro concorre no mercado internacional. A gente conhece melhor os nossos problemas. A renda está um pouquinho melhor distribuída. A moeda estabilizou. A impunidade do colarinho branco já não é absoluta.

Ainda falta muita coisa. A violência come solta. Nossos alunos ficam na rabeira das avaliações internacionais de aprendizagem. As empresas desrespeitam os consumidores. A justiça é tão lenta que vira injustiça.

Mas você percebe como já conhece esses problemas? Em 1979, último ano do presidente Geisel, da ditadura, a segunda causa de morte no Brasil era a diarréia. Mas o país não sabia disso. Então não tinha como consertar.

E para consertar coisas desse tipo, só tem um caminho. O voto. Com a razão e COM a emoção.

Candidatos à beira do ataque de nervos

O que aparece na superfície são cartazes, cavaletes, bandeiras, propagandas no rádio e na TV. Por baixo do pano, contratação de cabos eleitorais muitas vezes com intenção de compra de voto, aliciamento de líderes comunitários e de gente da comunicação, promessas de todos os tipos.

Hoje, são centenas de milhares de candidatos à beira de um ataque de nervos em todo o Brasil.

Para alguns, a eleição é a oportunidade de redenção. O mandato, um balcão de negócios. O que menos interessa é o bem-estar da comunidade. Para outros, movidos por idealismo e impulsionados por grupos sociais legitimamente organizados, amanhã é o dia em que a oportunidade de trabalhar por mudanças pode se materializar. Ou não.

Para todos hoje é véspera do Dia D.

Uma boa parte dos candidatos sabe exatamente que nota vão receber no boletim das urnas amanhã. As pesquisas já desvendaram as intenções do eleitor em relação a esses. Poucos esperam o milagre da multiplicação dos votos.

Para quem participa do processo como simples cidadão, algumas questões se apresentam.

Uma delas é entender o porquê do idealismo que a gente detectava em alguns candidatos no passado ter se dissolvido completamente durante o mandato. “Queres conhecer o vilão, dá-lhe o poder na mão” dizia o ex-prefeito de Santos Oswaldo Justo. Mas bem que essa regra poderia ter as exceções multiplicadas, não é?

Outra questão importante é o pega pra capar que se instalou nessa reta final das eleições aqui na Baixada. Uma verdadeira indústria de boatos se instalou com acusações falsas principalmente contra candidatos favoritos. Crimes eleitorais de todos os tipos foram cometidos inclusive em meios de comunicação eletrônicos. Depois das eleições é importante não esquecer que houve esses abusos. Coisa de bandido.

Politização, polarização, evolução

Quem costuma jogar todas as fichas na despolitização, vai ter de rever conceitos. Quem continuar dizendo que no Brasil não há partidos políticos vai perder o tal bonde da história.

As eleições 2012 estão desvelando um amadurecimento rápido do eleitor brasileiro.

É verdade que ele demora a se conectar com a eleição. Reclama do horário eleitoral. Mas fica antenado. E está varrendo do mapa oportunistas, bandalhos e aventureiros.

A eleição de 2010 para o Senado em SP já tinha dado uma pista. O despolitizado e midiático Netinho foi atropelado na reta final pelo tucano Aloísio Nunes.

Coisa parecida está acontecendo em São Paulo com Celso Russomano. Chegou a uma liderança folgada no final de agosto e início de setembro. Mas nessas duas últimas semanas, quando o eleitor realmente decide, despencou. Como a eleição paulistana tem características nacionais, vale aí o bipartidarismo informal PT-PSDB. Que pode ser quebrado tanto por Russomano – se conseguir estancar a sangria de votos – como por Chalita, se conseguir aceleração máxima nessa chegada.

O que é importante aqui é observar a falta de pegada do discurso despolitizado. Ele funciona na mesa de boteco, em volta de uma cerveja. Mas vai se desmilinguindo à medida que se aproxima o momento de digitar na urna eletrônica.

A eleição de Santos também traz novidades. Telma de Souza e Beto Mansur tinham recall eleitoral forte no início da campanha. Mas sofriam de uma doença fatal para candidatos: esvaziamento político. Telma ainda se sustentou um pouco, a duras penas, com a sigla petista. Beto Mansur, mesmo com campanha caprichada, se desmanchou.

Fabião soube sair da frente do voto que ele mesmo define como  avalanche, de Paulo Alexandre e fermentou um pouquinho no final. Sai inteiro.

E o prefeito Papa, se as pesquisas se confirmarem e Aquino chegar mesmo em terceiro e sem segundo turno, vai dizer o quê para o PMDB nacional de Michel Temer?

Candidatos fabricados, como Aquino em Santos, ou duvidosamente reciclados, como Nei Serra em Cubatão, já tiveram vida eleitoral mais fácil na história recente.

O voto-avalanche

Observadores da política de Santos – e até prefeituráveis adversários – começam a definir a tendência favorável a Paulo Alexandre Barbosa como voto-avalanche.

A palavra tsunami também tem sido utilizada. Cria-se num certo momento uma onda e a partir daí a candidatura não pára de crescer.

É evidente que tendências sempre são sujeitas a uma reversão.

Mas neste momento, a doze dias da eleição, reverter essa parece missão muito difícil.

O voto-avalanche se forma a partir de algumas premissas e provoca algumas consequências no ambiente político onde se desenvolve.

A bola de neve começa a se formar a partir de uma campanha bem planejada e bem feita e de um candidato que cai na simpatia da eleitora e do eleitor.

As pesquisas de intenção de voto aumentam a bola a partir do momento em que mostram aquela candidatura com chances de vitória ou até na liderança.

Muitos eleitores a partir daí se agregam porque gostam da ideia de votar no provável vencedor, de “não perder o voto”.

No caso de Santos, a possibilidade de resolver a questão já no primeiro turno ajuda a engrossar esse caldo.

Tudo isso forma a onda. Como a visibilidade do candidato que conseguiu esse efeito é altíssima, uma ação ou declaração desastrada pode quebrar o encanto. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o presidenciável Ciro Gomes na campanha de 2002, vencida por lula. Quando a onda favorável a ele estava formada, Ciro Gomes se referiu de maneira pejorativa e chula à mulher dele na época, a atriz de novelas Patrícia Pillar, dizendo que o principal papel de sua companheira em sua campanha era o de dormir com ele. Despencou nas pesquisas.

A principal consequência, se a onda cresce até a eleição, é o estrago que a campanha faz nos outros candidatos. A hemorragia de votos faz os adversários ficarem com muita dificuldade de enfrentamento. Aí são obrigados a adotar estratégias de sobrevivência política.

Injeção na cidade

Perguntei na Band para o Professor Fabião:

Se tivesse que escolher uma injeção só para dar em Santos entre três possibilidades: sustentabilidade, mobilidade urbana e geração de empregos, qual seria a opção dele”.

Geração de empregos”, Fabião respondeu. “Não há nada melhor do que exercer uma atividade para a qual a pessoa se preparou”.

Tem razão, o candidato do PSB. Do emprego vem a dignidade e sem ele não é possível nem pensar em felicidade.

E por muito tempo conseguir um emprego digno com possibilidades de carreira em Santos era só sonho. Gerações e gerações de jovens foram embora buscar oportunidades em outras cidades.

Mas o morador de Santos, reconhece o Professor Fabião, está muito preocupado com a mobilidade urbana. Desacostumado a conviver com engarrafamentos de trânsito, o santista oscila entre a raiva e o desespero. Manter a antiga fluidez do trânsito é problema complexo. Mas também é evidente que a cidade não se preparou nos últimos 10, 12 anos para para a crônica de uma morte anunciada: a da mobilidade. Uma frota que dobra a cada seis anos não tem como conviver harmoniosamente com um sistema viário que permanece intocado.

A cidade também precisa de um choque de sustentabilidade. O tratamento dado ao lixo, o descarte de óleo de frituras, o tipo de consumo de energia não combinam com a tradição de Santos de estar à frente do seu tempo. Ficamos para trás.

E temos outras preocupações que vão se traduzindo nessa campanha eleitoral: a verticalização, a qualidade do transporte coletivo, o sistema municipal de saúde, a rede municipal de ensino.

São muitas as questões que foram varridas para baixo do tapete à custa de publicidade, como o porquê dos ônibus circularem sem cobradores. Agora voltam à superfície.

E você, leitora / leitor, se tivesse que dar uma injeção só em Santos, qual seria a opção?

A eleição santista

As urnas de Santos podem surpreender? Podem. A eleição deste ano já tem a aura de ser a mais interessante dos últimos tempos. E pode ser também a mais surpreendente.

Por quê?

Porque o quadro eleitoral está em descompasso com a moldura política.

As pesquisas apontam dois favoritos destacados para o segundo turno: Telma de Souza (PT) e Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). Os dois foram também os mais votados em Santos nas eleições para deputado em 2010.

Só que politicamente, Telma parece muito isolada. Não só porque o PT vai sozinho para a eleição, sem nenhuma coligação. Mas também porque desta vez Telma parece não unir os petistas em torno da candidatura dela.

Acontece alguma coisa parecida com o outro ex-prefeito envolvido na disputa: Beto Mansur (PP). Administrou a cidade de 97 a 2004 e elegeu o sucessor, João Paulo Papa (PMDB), que não retribui o apoio neste ano. Mansur vai ter de enfrentar um candidato que sai do grupo que está na Prefeitura, Sérgio Aquino (PMDB).

Os observadores se dividem nas previsões.

Uma primeira parte aposta na desidratação eleitoral de Telma, na falta de oxigênio de Mansur e no crescimento de Aquino turbinado pela taxa de aprovação alta do prefeito com o eleitorado.

Outra parte não enxerga onde Aquino possa buscar votos. Vêem Telma acima de um patamar de 25%. Beto Mansur, bom de campanha, ganhando eleitores. E Paulo Alexandre, consolidado.

Esse raciocínio, aritmeticamente, garante à candidata do PT uma vaga no segundo turno. E exclui Sérgio Aquino. Porque dos cerca de 90% dos votos válidos, se ela tiver mesmo esses 25%, mesmo que os candidatos de partidos menores não passem de 5%, hipótese pessimista, sobrariam só 60% para Mansur Alexandre e Aquino. E só um deles poderia ter mais de 25%.

Isso faz com que a eleição seja necessariamente surpreendente. Pelo menos para um dos grupos de analistas políticos.

Telma e Beto

De 96 a 2004, Beto Mansur (PP) e Telma de Souza (PT) estrelaram os mais importantes duelos políticos de Santos. Dois segundos turnos diretamente disputados pelos dois (96 e 2000). E mais um (2004) entre ela e o atual prefeito, João Paulo Papa (PMDB), que era vice de Mansur e tinha nele o principal apoio político.

Oito anos depois, Beto Mansur e Telma de Souza correm o risco de se apresentarem como simples coadjuvantes na eleição deste ano.

Ambos têm mandato conquistado em 2010. Ele, deputado federal. Ela, estadual.

Ambos aparecem bem colocados nas pesquisas eleitorais. Ela, em primeiro ou segundo lugar. Ele, em terceiro.

Ambos têm estruturas de campanha bem lubrificadas. Conhecem profundamente o jogo das urnas.

Por que será, então, que estão afastados dos papéis principais?

A resposta é simples: esvaziamento político.

Mansur teria de estar representando a continuidade da administração que está há 15 anos e meio no poder. Mas é Sérgio Aquino (PMDB) que veste esse figurino. É ele que aparece na propaganda política do PMDB ao lado do prefeito, os dois com ternos e gravatas quase iguais, falando no “muito que ainda tem de ser feito”.

As fofocas da Rádio Peão falam em negociações de Beto Mansur para não sair candidato.

Telma de Souza teria de representar o PT encastelado no governo federal. Mas é Sérgio Aquino, também, que veste discretamente esse outro figurino. O partido, dividido em Santos, tem uma banda leal que vai provavelmente sustentar a candidatura de Telma. Mas uma outra banda de petistas e aliados políticos do governo Dilma…  nem pensar.

Sobraria para a deputada a roupa de oposição municipal. Mas esta vai se ajustando, surpreendentemente, a Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), candidato apoiado pelo governador Geraldo Alckmin.  

Os dois com o guarda-roupa político quase vazio, parecem perguntar um para o outro, como no samba de Noel Rosa:

“Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?”.

A eleição de Santos

A temporada de convenções partidárias está começando. Em Santos, o quadro de prefeituráveis parece estar completo.

Telma de Souza (PT) e Beto Mansur (PP) se reapresentam ao eleitorado santista. Ela, pela sexta vez, com uma vitória em 88. Ele, pela quarta vez, com duas vitórias em 96 e 2000.

Sérgio Aquino (PMDB) estréia em disputas eleitorais. Professor Fabião (PSB), tem três eleições para vereador no currículo.

Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) teve pai prefeito e é um campeão de votos em duas disputas para deputado estadual em 2006 e 2010.

Eneida (PSOL) já disputou a Prefeitura em 2008. Vagner Pelonha (PSDC) vai tentar pela primeira vez. E Jama (PRTB) tem no currículo três mandatos de vereador com votações expressivas, uma como o mais votado.

Duas desistências estão contabilizadas: Odair Gonzalez (PR) e Antônio Carlos Silva Gonçalves (PTB). Os dois tendem, por caminhos diferentes, a engrossar o caldo de Paulo Alexandre.

E tem ainda Vicente Cascione (DEM) na dúvida shakesperiana: ser ou não ser candidato?

Dois desses candidatos têm cabos eleitorais poderosos. Paulo Alexandre tem luz política própria e o apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB), de enorme prestígio em Santos. Sérgio Aquino vai ter a companhia do super-bem avaliado prefeito, João Paulo Papa (PMDB), na caça aos votos.

Telma de Souza poderia compor uma trinca de apadrinhados. Mas parece abandonada por Lula, mais preocupado em carregar no colo Fernando Haddad em São Paulo.

Entre os oito, a petista é a mais provável finalista da eleição. O fato de quatro candidatos fortes orbitarem próximos da administração Papa faz com que a estrela isolada da oposição, com alguma coisa entre 25 e 30% dos votos, índice que dificilmente escapa dela, vá para o segundo turno. Isso porque o restante dos cerca de 90% dos votos válidos (65% no caso mais positivo) esteja em disputa pelos outros sete. Se os cinco menos votados deles contabilizarem 20%, sobram 45%. E daí não dá para dois ultrapassarem Telma.

Só um.

Como a petista vem de três derrotas em segundo turno (96, 2000 e 2004) muitos observadores entendem que esse(a) outro(a) finalista vá ser o(a) futuro(a) prefeito(a).

Mas tudo isso, por enquanto, são só hipóteses, especulações. Até as urnas de outubro esses 8 ainda têm muita sola de sapato, muita saliva e muitos minutos de televisão para gastar.

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