Números de guerra no trânsito
Em 2010, o número de mortos em acidentes de trânsito no Brasil superou 40 mil. 40 610 para ser exato. Se é que dá para ser exato nesse quesito. É impossível saber se todas as mortes que não aconteceram no local do acidente mas depois, em conseqüência dele, estão contabilizadas.
Houve uma época em que a CET de Santos divulgava uma estatística de óbitos de ciclistas na cidade e a Associação de Ciclistas contabilizava uma quantia 3 vezes maior. Faz dez anos. E o motivo da diferença era justamente esse: a CET não acompanhava os feridos que vinham a morrer depois, no hospital.
40 mil mortes em acidentes de trânsito é um número absurdo. Nos conflitos super-violentos entre israelenses e palestinos, por exemplo, o número não chega nem perto disso.
As mortes nas ruas, avenidas e rodovias brasileiras em um ano têm a mesma ordem de grandeza das da Guerra do Iraque.
E as pesquisas mostram que de cada 100 acidentes, menos de 10 são provocados por defeitos nos automóveis ou más condições das pistas. Mais de 90 acontecem por imprudência, imperícia ou excesso de velocidade.
O problema está atrás do volante.
São 111 mortes por dia, em média. Só para usar uma referência, em dois dias esse número já é maior que o de vítimas do acidente aéreo com o Airbus da TAM em 2007, o maior da história do Brasil.
Muitos desses acidentes têm participação importante da bebida alcoólica. O relaxamento das blitze da Lei Seca é apontado como um dos fatores desse recorde.
Cada uma dessa mais de 40 mil mortes levou luto e tristeza a familiares, amigos, colegas das vítimas. Muitas vezes esses sentimentos tiveram a companhia da revolta contra motoristas embriagados.
E a sensação que se tem é de passividade. Vamos para o trânsito como o boi vai para o matadouro. Como se essa guerra das ruas, avenidas e rodovias fosse natural e inevitável.
Não é. Nem natural. Nem inevitável.
O natural é que não houvesse nenhuma morte dessas. 40 mil, é absolutamente inaceitável.