Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

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Sexta-feira de caos

A sexta-feira estava mesmo predestinada ao caos. Reuniu um elenco de complicadores talvez nunca reunido antes:

  1. Chuva fortíssima

  2. Greve no Porto de Santos

  3. Protesto de caminhoneiros em Guarujá

  4. Deslizamento de encostas na Anchieta e na Imigrantes.

O resultado foi um pandemônio. Motoristas pediam socorro na Dom Domênico Rangoni completamente parada desde a manhã. O desespero se repetia na entrada e na saída de Santos do meio da tarde em diante. Em alguns pontos de Cubatão e São Vicente o trânsito parou em função das inundações.

Quem ia, não foi. Quem estava no caminho e conseguiu voltar, deu sorte. Pais não conseguiram buscar filhos na escola. Algumas pessoas tiveram de dormir inesperadamente em hotel ou em casa de amigos. Transtornos de todos os tipos.

É certo que o conjunto de complicadores reunidos por essa sexta-feira caótica tão cedo não vai se repetir. Mas não é menos certo que há um conjunto de gargalos para a mobilidade urbana e para a logística de acesso ao Porto de Santos que encaminham o sistema viário e rodoviário rapidamente para o colapso. A sexta-feira deu uma amostra não-grátis desse caos anunciado.

O Trevo de Cubatão, a Rua do Adubo em Guarujá, a Dom Domênico Rangoni, a entrada de Santos, o trecho vicentino coalhado de semáforos da Imigrantes, a travessia por balsas entre Santos e Guaruja, transversal à entrada e saída de navios… Os pontos-problema estão todos carecas de tão conhecidos.

Para todos eles existem projetos (no caso da entrada de Santos, projeto conceitual) em andamento. Andamento de tartaruga.

A frota dobra a cada seis, sete anos. O número de carretas aumentou 150% em vinte anos.

Um dia a casa cai. Está chegando a hora em que todos os dias vão ser que nem essa sexta-feira.

Cenas de Quinto Mundo

A volta do litoral depois de um feriado é coisa de quinto mundo. Décima categoria. Prefeitos que saem, prefeitos que entram, deputados da Baixada, governo estadual, concessionárias das estradas… É questão de vergonha na cara.

Ontem muita gente que mora no litoral sul e trabalha em Santos, São Vicente, Cubatão teve enorme dificuldade para chegar ao trabalho. Muitos chegaram com duas, três ou até mais horas de atraso. Quem volta para a Grande São Paulo e para o interior já vem com a alma preparada para o calvário.

Em outros anos havia banheiros químicos no acostamento da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega. Ontem, nem isso.

Ambulâncias, bombeiros, policiais tinham de contar com a boa vontade de motoristas que fazem manobras complicadas para abrir passagem.

A tragédia é anunciada. Todo mundo sabe que vai acontecer. O atraso das obras de elevação da Imigrantes nos cruzamentos com o trânsito de São Vicente é só um fator a mais para a construção desse inferno.

O curioso é que não tem para quem reclamar. É como se fosse necessário ser assim.

Muita gente, pouca estrada…

Pode ser até que que não haja solução satisfatória, ideal.

Mas não tem nenhum sentido a omissão absoluta.

Prefeitos, deputados, governador, concessionárias com o cofre esturricado do dinheiro do pedágio não tomam nenhuma providência para amenizar esse circo de horrores.

Nem uma operação especial como é feita no sistema Anchieta-Imigrantes, nem um escalonamento de horários por placas… nada.

Um bando de pôncios pilatos lavando as mãos em gabinetes refrigerados por ar condicionado e regados com água mineral e cafezinho.

Aqueles motoristas pagam IPVA, pedágio, IPTU e são abandonados à voracidade dos arrasteiros e assaltantes…

Vergonha é muito pouco. Não tem uma palavra adequada para definir essa insanidade, esse descalabro, esse desumanidade que é feita com quem vem buscar um pouco de relaxamento, emoção e beleza no reveillón do litoral e com quem mora aqui e precisa dessas estradas para tocar a vida cotidiana.

2013

Você é pessimista ou otimista? A Poliana do livro de cabeceira das adolescentes do século passado ou o Hardy do desenho animado, aquele do “Ó Vida, Ó Azar”?

Se você olha tudo com lentes cinzentas, tem motivos para um olhar sombrio para o 2013 das cidades da Baixada Santista. Afinal, as lendas urbanas mais antigas continuaram no papel em 2012: aeroporto metropolitano, ligação seca Santos-Guarujá, Veículo Leve Sobre Trilhos, anel viário no entroncamento Anchieta / Cônego Domênico Rangoni em Cubatão. E algumas mais recentes também não decolaram: arena do Santos, Museu Pelé, viadutos no trecho em que a Imigrantes corta a área urbana de São Vicente…

Além disso, problemas crônicos caminharam para patamares de agudeza, principalmente a mobilidade urbana estrangulada nas divisas entre Santos e São Vicente, nas entradas de Santos e de Praia Grande, no trevo de Cubatão…

… e as torres de mais de 30 andares que começam a ameaçar a tradicional qualidade de vida da região. Algumas vão projetar a sombra sobre a praia…

O que saiu do papel e dá munição para os otimistas é a construção da sede da Petrobrás no Centro Velho de Santos e as obras da Embraport e da Brasil Terminais que ampliam a capacidade de movimentação de cargas do Porto de Santos. O Programa Onda Limpa, da Sabesp também evoluiu e abre perspectivas de praias mais próprias para o banho de mar no ano que vem e nos próximos.

Se você prefere as lentes cor-de-rosa, vai perceber que houve também evolução política. As eleições deste ano enxotaram do poder dois esquemas de 16 anos que tinham caído em marasmo absoluto em Santos e em São Vicente. Paulo Alexandre, em Santos, vem cheio de gás e articulação. Bili injeta sangue novo em São Vicente.

As administrações municipais de Guarujá e de Cubatão, com Maria Antonieta e Marcia Rosa enfrentaram problemas e desgastes. Mesmo assim, a população não caiu na tentação de voltar a um passado que não deixou nenhuma saudade.

Será que 2013 vai deixar no coração da gente, no futuro, essa saudade?

Pedágio milionário

A tarifa mais alta de pedágio no Estado de São Paulo é a do sistema Anchieta-Imigrantes: R$ 20,10. E os paulistas já pagam os pedágios mais caros do Brasil…

As duas rodovias constituem uma mina de ouro para a concessionária Ecovias.

Numa época de safra, como agora, circulam entre o planalto e o litoral de 12 a 13 mil caminhões e carretas por dia. Nos meses mais fracos, no mínimo 7 mil. Cada um desses veículos paga para a concessionária R$ 20,10 por eixo. O maior deles, o de nove eixos, R$ 180,90.

12 mil carretas de 6 eixos, representam arrecadação de quase R$ 1,5 milhão por dia. No mês, mais de R$ 40 milhões. Isso só de veículos pesados de carga. Mas tem ônibus, vans, automóveis…

Mais que uma estrada, as duas rodovias funcionam como duas avenidas que ligam as cidades da Baixada à Grande São Paulo.

A concessão do sistema Anchieta-Imigrantes é, como se pode ver, dos poucos negócios no Brasil melhores do que a atividade bancária (pelo menos antes da guerra da Dilma aos juros!).

No próximo mês, vai ser definido o reajuste da tarifa de pedágio que vai valer a partir de 01 de julho.

Até o ano passado, o índice utilizado era o IGP-M – Índice Geral de Preços – Mercado. Como as tarifas de pedágio receberam muitas críticas pesadas na campanha eleitoral de 2010, o governador Geraldo Alckmin prometeu rever os contratos para baratear. Não conseguiu criar um índice específico, como pretendia. E negociou com as concessionárias que têm contratos antigos a mudança para o IPCA – Índice Preços ao Consumidor Amplo.

Ficou ainda pior, pelo menos neste ano, para o usuário do Sistema.

De 1998 a 2011, o IGP-M teve variação de 206%e o IPCA de 121%.

Pois não é que no período dos últimos 12 meses completados em abril o IGP-M acumulado está em 3,655 e o IPCA em 5,10%?

Parece até aquela história do pão que cai no chão sempre com a manteiga para baixo.

Num cenário desses, é fácil imaginar que a concessionária tente barganhar com o governo estadual a execução de obras em troca de prolongamentos do contrato de concessão.

É o que acontece agora em referência ao trevo de Cubatão. O caos está instalado ali nos horários de pico. Precisa de uma reformulação completa. E a Ecovias faz. Sem custo para o governo paulista. Mas quer um período de aditamento desse contratão.

Os caminhoneiros e as transportadoras paulistas, de um lado, reconhecem que trafegam nas melhores e mais conservadas estradas do Brasil. Mas por outro lado, discutem com o governador essas tarifas. Que, na ponta, são pagas:

1) Pelas empresas exportadoras. O frete entra na composição do custo dos produtos brasileiros no mercado internacional.

2) Pelos consumidores. O frete também faz parte do preço tanto do produto importado que entra no Brasil pelo Porto de Santos como do produto brasileiro que tem a distribuição feita por carretas e caminhões em território nacional.

Nas licitações de concessões só de manutenção das rodovias federais, o critério é diferente, o de menor tarifa. Os pedágios são bem menores.

A comparação faz as entidades que representam transportadoras e caminhoneiros questionarem a política paulista de pedágios. E a se posicionar totalmente contra aditamentos de contratos vigentes em troca de obras.

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