Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

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Cenas de Quinto Mundo

A volta do litoral depois de um feriado é coisa de quinto mundo. Décima categoria. Prefeitos que saem, prefeitos que entram, deputados da Baixada, governo estadual, concessionárias das estradas… É questão de vergonha na cara.

Ontem muita gente que mora no litoral sul e trabalha em Santos, São Vicente, Cubatão teve enorme dificuldade para chegar ao trabalho. Muitos chegaram com duas, três ou até mais horas de atraso. Quem volta para a Grande São Paulo e para o interior já vem com a alma preparada para o calvário.

Em outros anos havia banheiros químicos no acostamento da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega. Ontem, nem isso.

Ambulâncias, bombeiros, policiais tinham de contar com a boa vontade de motoristas que fazem manobras complicadas para abrir passagem.

A tragédia é anunciada. Todo mundo sabe que vai acontecer. O atraso das obras de elevação da Imigrantes nos cruzamentos com o trânsito de São Vicente é só um fator a mais para a construção desse inferno.

O curioso é que não tem para quem reclamar. É como se fosse necessário ser assim.

Muita gente, pouca estrada…

Pode ser até que que não haja solução satisfatória, ideal.

Mas não tem nenhum sentido a omissão absoluta.

Prefeitos, deputados, governador, concessionárias com o cofre esturricado do dinheiro do pedágio não tomam nenhuma providência para amenizar esse circo de horrores.

Nem uma operação especial como é feita no sistema Anchieta-Imigrantes, nem um escalonamento de horários por placas… nada.

Um bando de pôncios pilatos lavando as mãos em gabinetes refrigerados por ar condicionado e regados com água mineral e cafezinho.

Aqueles motoristas pagam IPVA, pedágio, IPTU e são abandonados à voracidade dos arrasteiros e assaltantes…

Vergonha é muito pouco. Não tem uma palavra adequada para definir essa insanidade, esse descalabro, esse desumanidade que é feita com quem vem buscar um pouco de relaxamento, emoção e beleza no reveillón do litoral e com quem mora aqui e precisa dessas estradas para tocar a vida cotidiana.

É o fim do mundo

O dia de ontem trazia um número todo especial: 12 / 12 / 12. Dia doze do mês doze do ano doze deste século. Dia, mês e ano com números iguais é coisa que só vai se repetir no próximo século, no dia 01 de janeiro de 2101. A não ser que se invente um mês 13 para homenagear o Corinthians campeão do mundo…

Na semana que vem outra data especial: 21 / 12 / 2012, suposto final do mundo previsto no calendário maia.

O filme e o livro sobre esse possível apocalipse não fizeram o sucesso que os produtores esperavam. Nem no Brasil, mesmo com aquela cena impressionante que mostrava a estátua do Cristo Redentor do Rio de Janeiro destruída pela força das águas.

Tem gente assustada com a proximidade desse dia 21, sexta da semana que vem. Tem gente que aproveita para fazer marketing em cima. Uma universidade daqui da Baixada convida para o Fim do Mundo, na verdade uma confraternização de final de ano na véspera, dia 20. No convite, o traje é definido assim: adequado para estar usando no fim do mundo.

Muitas brincadeiras também estão sendo feitas. Uma delas é a de que os corintianos vão ter pouco tempo para zoar os torcedores dos outros times com o campeonato mundial: só cinco dias.

Nos últimos anos, o fantasma do aquecimento global anda assombrando o planeta. Apagões, ressacas, tsunamis, terremotos, furacões e ondas de calor são associados a ele. A previsão maia abarca tudo isso e acrescenta a ameaça nuclear, asteróides gigantes, cometas desgovernados e até o anti-cristo…

O final do século passado também carregava essas previsões sombrias e mais a do bug do milênio, que travaria os computadores na passagem de 1999 para 2000, que na verdade era o último ano do século passado. Não aconteceu nada.

Sobre esse tipo de coisa se encaixa perfeitamente uma frase inspirada de um grande político brasileiro do passado, Carlos Lacerda:

O futuro não é que tememos, é o que ousamos.”

Inventário de terrenos

Faz alguns anos, o jornalista Rodolfo Amaral tentava mobilizar as autoridades das cidades da Baixada Santista para a realização de um inventário dos terrenos disponíveis para utilização habitacional.

O tempo passou e o inventário da cruzada do Rodolfo não foi realizado. Os terrenos, de lá para cá, escassearam dramaticamente. E tiveram os preços multiplicados pelo boom imobiliário que explodiu em Santos e se espalhou por toda a região.

A questão habitacional continua dramática. Além do fenômeno da expulsão dos moradores das faixas de menor renda de Santos para as outras cidades – subproduto do boom – há a perspectiva do aumento de 400 a 500 mil habitantes na região nos próximos anos. Uma nova Santos.

O inventário de terrenos disponíveis agora deve ser providenciado para ontem. E não mais só para planejamento habitacional. Mas também para instalação das empresas fornecedoras de bens e serviços para a Petrobrás. E para as empresas fornecedoras dessas fornecedoras. Para retroporto. Para porto-indústria…

O planejamento regional precisa ser milimetricamente definido a partir de agora.

Em que terrenos vão ser implantados os novos empreendimentos gerados pelo VLT? Será que essa opção de traçado inicial, projetada para um trecho (Santos – São Vicente) já muito adensado é a mais correta?

O túnel entre Santos e Guarujá, no desenho atual, leva para a perimetral de Santos, ainda nem concluída, um trânsito para o qual ela não foi projetada?

Os programas de géo-processamento tornaram muito simples o inventário de terrenos que o Rodolfo Amaral queria há dez anos. O que será que falta para que ele já esteja na mesa de quem vai tomar essas decisões?

Passagens aéreas e ilhas de calor

Passagem aérea de um edifício para outro. Como aquela do Shopping Brisamar, em São Vicente. Algum problema? Numa primeira análise, não. A interferência urbana é mínima ou nula, desde que a lei de uso do solo não permita abusos ou exageros. A ligação entre os prédios, inclusive, reforça a segurança. Num incêndio num deles, abre uma possibilidade de salvamento no outro.

Todo mundo, entretanto, olha para esse tipo de autorização com desconfiança. Por dois motivos:

1) A ligação cria uma área de construção sobre um equipamento público, que é a rua.

2) Qualquer licença diferente da rotina para uma empresa, e em especial uma empresa da área de construção, é vista como oportunidade de propina para os políticos que têm o poder de conceder a autorização, como prefeitos e vereadores.

Você pode imaginar uma situação extrema em que uma série de prédios vizinhos criem essa ligação com os edifícios do outro lado da rua. É por isso que a lei tem de disciplinar.

Mas é importante tirar esse ranço para enxergar a questão como ela é realmente. Sem chifre em cabeça de cavalo.

***

Ilhas de calor. Pode parecer coisa distante, elucubração de ambientalista xiita.

Mas está muito mais perto do que a gente pode imaginar.

Uma pesquisa conduzida em São Paulo revelou aquecimentos de até 14ºC em bairros como Itaim e Penha.

As causas dessa aberração são conhecidas: escassez de áreas verdes e excesso de construções.

Nos municípios da Baixada Santista, a brisa marinha atenua um pouco essa anomalia. Isso onde ela consegue passar, é lógico. Em Santos, onde há uma muralha de prédios na orla que canaliza a brisa e terral, o pesquisador Érico de Almeida encontrou variações de até 6º entre a praia e a área atrás do primeiro quarteirão.

A área verde urbana recomendada pelos organismos internacionais é de 12 m² por habitante.

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