Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

Arquivo para o mês “junho, 2012”

São Pedro e a solidariedade

Um caminhão de entregas estava parado na avenida Washington Luiz, Canal 3, na quadra que começa na praia, ontem á noite em Santos. Sentido centro. Mais largo que um carro normal, permitia a passagem de apenas um automóvel por vez. Algumas tábuas que saíam transversalmente da carroceria completavam a atrapalhação.

Numa das vezes em que o funcionário que descarregava a entrega num edifício voltou ao caminhão, o motorista disse a ele que o pessoal que enfrentava o trânsito congestionado por causa deles estava reclamando. O rapaz respondeu bem alto:

“Manda tomar no …”.

Reação típica de quem, mesmo errado, está se lixando para os outros. Falta de solidariedade absoluta em questão importante: cidadania.

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Meu filho, que estuda em São Paulo, e como eu é torcedor do Santos, conta que na quarta-feira, na hora do gol do Boca, contra o Corinthians, a comemoração na vizinhança dele, na Vila Mariana, foi a de um gol do Brasil em Copa do Mundo.

Eu, que me diverti muito com uma frase que li nas redes sociais: “O Boca é o Brasil na Libertadores” acho curioso esse fenômeno. Não basta torcer para o time da gente. Os adversários têm de se dar mal.

Por que será que a gente torce contra o Corinthians e o corintiano torce contra o Santos mesmo se estamos enfrentando times de outros países?

Falta de solidariedade absoluta no futebol, que das coisas menos importantes é a mais importante, segundo o jornalista Milton Neves.

***

Hoje é dia de São Pedro. Festa junina tradicional para um dos apóstolos de Cristo, talvez o mais humano deles nas narrativas, em termos de defeitos e imperfeições assumidas.

São Pedro, no folclore católico, é apresentado como o chaveiro do céu. É atribuição dele, nessa versão, decidir quem entra e quem não entra no céu. Cristo falou sobre a dificuldade dessa entrada para os ricos. Muita gente fala que para os ingratos também é muito difícil. Alguma coisa me diz que para os não-solidários, pelo menos nas questões mais importantes que o futebol, é impossível.

Inventário de terrenos

Faz alguns anos, o jornalista Rodolfo Amaral tentava mobilizar as autoridades das cidades da Baixada Santista para a realização de um inventário dos terrenos disponíveis para utilização habitacional.

O tempo passou e o inventário da cruzada do Rodolfo não foi realizado. Os terrenos, de lá para cá, escassearam dramaticamente. E tiveram os preços multiplicados pelo boom imobiliário que explodiu em Santos e se espalhou por toda a região.

A questão habitacional continua dramática. Além do fenômeno da expulsão dos moradores das faixas de menor renda de Santos para as outras cidades – subproduto do boom – há a perspectiva do aumento de 400 a 500 mil habitantes na região nos próximos anos. Uma nova Santos.

O inventário de terrenos disponíveis agora deve ser providenciado para ontem. E não mais só para planejamento habitacional. Mas também para instalação das empresas fornecedoras de bens e serviços para a Petrobrás. E para as empresas fornecedoras dessas fornecedoras. Para retroporto. Para porto-indústria…

O planejamento regional precisa ser milimetricamente definido a partir de agora.

Em que terrenos vão ser implantados os novos empreendimentos gerados pelo VLT? Será que essa opção de traçado inicial, projetada para um trecho (Santos – São Vicente) já muito adensado é a mais correta?

O túnel entre Santos e Guarujá, no desenho atual, leva para a perimetral de Santos, ainda nem concluída, um trânsito para o qual ela não foi projetada?

Os programas de géo-processamento tornaram muito simples o inventário de terrenos que o Rodolfo Amaral queria há dez anos. O que será que falta para que ele já esteja na mesa de quem vai tomar essas decisões?

O maior salto de desenvolvimento regional em andamento no Brasil

Na abertura do Fórum Brasil Comex, ontem, em Santos, o jornalista Joelmir Betting disse que o Brasil está descendo a Serra do Mar em direção à Baixada Santista.

Para ele, o salto de desenvolvimento que a região metropolitana de Santos está vivendo é o maior de todo o país.

Joelmir Betting se baseia principalmente em dois números:

1)   A previsão da Petrobrás, que espera com a exploração já iniciada da Bacia de Santos dobrar a produção brasileira de petróleo até 2020.

2)   O do Porto de Santos, que já teve em 20 anos, 93-2012, um incremento de 150% na movimentação de cargas, de 40 para 100 milhões de toneladas, e que se prepara para outro aumento de 150%, para 250 milhões, nos próximos 12 anos, até 2024, segundo estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

 Da mesma maneira como mostrou as perspectivas otimistas de crescimento do Brasil no plano mundial, mas apontando os múltiplos apagões que devem ser superados – educação, saneamento, moralidade pública, energia, logístico etc.. – o jornalista da Band apontou os gargalos da Baixada Santista: mobilidade urbana e qualificação profissional.

A previsão é de que as nove cidades – Bertioga, Guarujá, Cubatão, Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe – aumentem a população de 1,8 milhão para 2,2 milhão nos próximos 8 anos.

E essa perspectiva assusta. O boom imobiliário de Santos  e região – ou imobilionário – como já foi apresentado aqui neste espaço do DCI, não é visto como bolha por Joelmir Betting. Trata-se de crescimento real para o jornalista. 

A população das nove cidades está realmente preocupada com essa perspectiva de crescimento que pode trazer não só problemas como uma bolha mas também um cinturão de miséria como aconteceu em muitas outras regiões que experimentaram booms de exploração de petróleo, inclusive o exemplo recente de Macaé, no Rio de Janeiro.

Essa preocupação, quase uma angústia, esteve traduzida nas questões que foram debatidas no Fórum ontem: colapso de mobilidade urbana, aumento da participação dos modais não-rodoviários – ferrovia, hidrovia, dutovia – nos acessos ao Porto e principalmente aquele que foi apontado pelo jornalista da Band como o grande gargalo a ser enfrentado pelos municípios da Baixada: a qualificação profissional dos moradores da região.

Nessa questão, o exemplo de Macaé não é o único que assusta. Na própria região há o problema enfrentado por décadas pela cidade de Cubatão, sede de um dos maiores pólos industriais do Brasil. Cubatão enfrentou primeiro os problemas ambientais gerados por uma industrialização planejada numa época em que não havia cuidados estabelecidos com o meio ambiente. E depois, por décadas era a cidade dos empregos e dos desempregados, por falta de qualificação dos moradores para as vagas que as indústrias ofereciam.

Ninguém, nas cidades da Baixada Santista, quer assistir à reapresentação desse filme das décadas de 70, 80 e 90, que só agora ensaia um final feliz, estendido de Cuabtaõ para toda a região neste início de século 21. 

A eleição santista

As urnas de Santos podem surpreender? Podem. A eleição deste ano já tem a aura de ser a mais interessante dos últimos tempos. E pode ser também a mais surpreendente.

Por quê?

Porque o quadro eleitoral está em descompasso com a moldura política.

As pesquisas apontam dois favoritos destacados para o segundo turno: Telma de Souza (PT) e Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). Os dois foram também os mais votados em Santos nas eleições para deputado em 2010.

Só que politicamente, Telma parece muito isolada. Não só porque o PT vai sozinho para a eleição, sem nenhuma coligação. Mas também porque desta vez Telma parece não unir os petistas em torno da candidatura dela.

Acontece alguma coisa parecida com o outro ex-prefeito envolvido na disputa: Beto Mansur (PP). Administrou a cidade de 97 a 2004 e elegeu o sucessor, João Paulo Papa (PMDB), que não retribui o apoio neste ano. Mansur vai ter de enfrentar um candidato que sai do grupo que está na Prefeitura, Sérgio Aquino (PMDB).

Os observadores se dividem nas previsões.

Uma primeira parte aposta na desidratação eleitoral de Telma, na falta de oxigênio de Mansur e no crescimento de Aquino turbinado pela taxa de aprovação alta do prefeito com o eleitorado.

Outra parte não enxerga onde Aquino possa buscar votos. Vêem Telma acima de um patamar de 25%. Beto Mansur, bom de campanha, ganhando eleitores. E Paulo Alexandre, consolidado.

Esse raciocínio, aritmeticamente, garante à candidata do PT uma vaga no segundo turno. E exclui Sérgio Aquino. Porque dos cerca de 90% dos votos válidos, se ela tiver mesmo esses 25%, mesmo que os candidatos de partidos menores não passem de 5%, hipótese pessimista, sobrariam só 60% para Mansur Alexandre e Aquino. E só um deles poderia ter mais de 25%.

Isso faz com que a eleição seja necessariamente surpreendente. Pelo menos para um dos grupos de analistas políticos.

Falta pão

A Polícia Militar de São Paulo parece atordoada pela sequência de golpes que vêm tomando dos bandidos. Bases são atacadas, ônibus incendiados e policiais assassinados. O estado de alerta, as interrupções de férias e os PMs da área administrativa reforçando a tropa de rua parecem insuficientes para enfrentar a crise.

Os líderes de países sul-americanos parecem atordoados diante do impeachment-relâmpago do presidente do Paraguai. Fernando Lugo foi derrubado institucionalmente do poder para o qual foi eleito em 30 horas. A oposição responsabiliza Lugo por um conflito entre policiais e camponeses com quase 20 mortes. Dilma Roussef, do Brasil, e Cristina Kirchner, da Argentina, estudam com outras lideranças sanções políticas e econômicas contra o Paraguai em crise. Mas parece impotente essa defesa externa da frágil democracia paraguaia.

Líderes do mundo todo parecem atordoados, também, diante da escalada da degradação ambiental. A Conferência Rio + 20 terminou sem nenhuma resolução firme sobra sustentabilidade, tema do encontro de 114 países, e sobre alternativas para proteção dos oceanos.

No plano interno da política, até o antes infalível ex-presidente Lula parece atordoado diante da quizumba do PT de São Paulo. A vice prometida, Erundina, se rebelou contra a aliança com Maluf e tirou o time de campo. E a senadora Marta Suplicy que queria ser a candidata petista e nunca engoliu a “novidade” Fernando Haddad, ungido por Lula, agora questiona abertamente a decisão que veio imposta ao partido, de cima para baixo.

No plano regional, todos os envolvidos, que são muitos, parecem, também, atordoados na questão da escala de trabalhadores avulsos no Porto de Santos. Ministério Público do Trabalho, sindicatos de trabalhadores e patronais, Órgão Gestor de Mão de Obra entram e saem de reuniões intermináveis e a confusão só faz aumentar. Será que os 60 dias determinados pelo Tribunal Regional do Trabalho serão suficientes para um acordo?

A sensação é a de que chegamos a uma época em que as minorias, com voz ativa nas redes sociais, não aceitam mais decisões tomadas pela maioria. Isso vale também para as leis que atualmente parecem feitas para ser desrespeitadas.

Ou então está valendo aquele velho ditado que diz que em casa onde falta pão todos gritam e ninguém tem razão.

Professor Fabião

Na semana passada compartilhei neste espaço com você, leitora / leitor do Diário do Litoral e deste blog, a sensação de que Telma de Souza e Beto Mansur, protagonistas das eleições de Santos em 96, 2000 e 2004, correm o risco de participar apenas como coadjuvantes neste ano.

Os dois apresentam sintomas de esvaziamento político.

Quem pode crescer nessa campanha para preencher esse vácuo mais à frente é outro pré-candidato: Professor Fabião.

Tem história política e partidária no PSB como vereador e secretário de Meio Ambiente de Santos. Inteligente. Articulado. Simpático. Espontâneo. Antenado nas questões atuais. E, principalmente, fala a linguagem do jovem e do adolescente com rara habilidade em função da atividade como professor de ensino médio e vestibular.

Fabião tem potencial para trazer para a campanha temas muito mais arejados e sintonizados com o cotidiano das pessoas do que aquelas empoeiradas propostas de educação, saúde, emprego, geração de renda e qualificação profissional que são reembrulhadas e apresentadas como novidades a cada dois anos.

Pode falar, com propriedade, por exemplo, de temas como:

1) Reescalonamento dos horários de funcionamento de empresas e repartições públicas para evitar horários de pico no trânsito.

2) Transporte escolar solidário

3) Mudanças comunitárias de hábitos em questões como o lixo

E vários outros.

E, como outsider, candidato alternativo, pode perfeitamente, encarar outros temas mais polêmicos dos quais outros candidatos fogem como vampiro diante da água benta como, por exemplo, os contratos de transporte coletivo e de lixo com custo-benefício para quem paga impostos muito abaixo do desejável.

Em política, qualquer previsão de cenário futuro pode ser redondamente fracassada. Mas algumas previsões têm margem de erro pequena. Uma delas é a de que esse conjunto de potencialidades e oportunidades pode não ser suficiente para Fabião superar campanhas mais estruturadas politicamente como as de Sérgio Aquino (PMDB) e Paulo Alexandre (PSDB). Mas que se for bem utilizado na campanha, pode colocar o pré-candidato do PSB na frente de muita gente mais pesada na corrida por uma cadeira de deputado em 2014.

Efeito misterioso

Anoitece amanhece o efeito permanece. Estava escrito no pára-choque de um caminhão de Jundiaí que circulava por Santos nesta semana. Assim mesmo, sem pontuação, uma palavra engatada na outra.

Que efeito danado será esse que tem permanência que sobrevive a um anoitecer e a um amanhecer encadeados?

Jornalista, lembrei logo de uma reportagem recente na TV que mostrava os truques dos caminhoneiros para atravessar noites e noites percorrendo estradas acordados. Combinações de remédios com bebidas, reza para São Cristóvão, cobertor de orelha na cabine, drogas, energéticos… Seria uma droga com capacidade de manter o motorista daquele caminhão acordado?

Fiquei pensando em outras possíveis interpretações.

Um tarado certamente pensaria num super-viagra. Já pensou que festança? Anoitece, amanhece e o neguinho está lá. Desempenhando.

Um romântico incorrigível. O cara lê, dá um sorriso cheio de saudade e pensa: “Com certeza, ele está falando do efeito dos beijos, dos carinhos e das palavras da mulher amada. Quantas noites já passei sem dormir sob o efeito dessa magia que é a mais encantadora de todas…”

Um universitário desses bem caxias, cdf, como se dizia antigamente, adepto das noites viradas em altos estudos, iria pensar em comprimidos e cafeínas que mantém a concentração pela noite toda.

Um acelerado com o efeito do ansiolítico, uma vítima de insônia com o do Lexotan, um político com o efeito de um discurso sobre uma multidão de eleitores, um contador de piadas com as gargalhadas da platéia…

Para cada atividade, para cada tipo de pessoa, uma possibilidade nova para esse enigma do pára-choque do caminhão:

Que efeito será esse?

Você leitora / leitor, tem algum palpite?

Donos da verdade

Tem gente que consegue viver com as próprias crenças. Outros não conseguem e vivem em conflito consigo próprios. Até aí, tudo bem. O problema começa quando uma pessoa quer que os outros sejam obrigados a seguir as crenças dela.

Dois mecanismos normalmente são adotados para essa finalidade:

1) A conversão do outro.

2) A imposição da crença particular como lei que vale para todos.

Jesuítas converteram para o cristianismo os índios que encontraram em estado semi-selvagem no Brasil. Na marra. O resultado foi tão ruim que cinco séculos depois o Papa resolver pedir perdão por essa conversão.

Hoje parece evidente que a cultura dos indígenas não tinha nada a ver com a cultura católica e que a imposição da crença era completamente absurda.

Mas o equívoco continua sendo cometido todos os dias em pleno século 21. Católicos acreditam que o aborto deve ser evitado porque o feto já tem vida. Também acredito nisso. Só não concordo que a crença dos católicos, que também é minha, deva ser uma lei que atinja todos, inclusive os que são favoráveis ao aborto por questões sociais ou de saúde pública.

Evangélicos se propõem a “curar” homossexuais, como se a orientação sexual de alguém pudesse ser tratada como doença. E homossexuais são acusados, não sei se justamente ou se é mais uma das teorias da conspiração, de impor essa orientação aos héteros.

Tenho um amigo que brinca sobre essa suposta ação homossexual de convencimento da sociedade dizendo que no Brasil o homossexualismo passou de proibido para tolerado, depois para normalizado, está neste momento incentivado e que ele vai embora antes que seja obrigatório.

Quando alguém tenta impor aos outros as próprias convicções, deve ser olhado com desconfiança. Que motivos terá para isso?

Não acredita suficientemente nelas? Tem medo de que outros sejam mais felizes sem essas crenças?

E o pior é que na falta de argumentos, muitas vezes os “donos da verdade” apelam para a violência.

São Sebastião: ampliação do porto ou preservação?

O Porto de São Sebastião já foi conhecido como porto da DERSA, quando era administrado por essa empresa. Atualmente tem Autoridade Portuária e é administrado pela Companhia Docas de São Sebastião.

Está localizado numa das áreas mais bonitas e valorizadas turisticamente do litoral brasileiro: a costa compartilhada pelos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Por ficar muito próximo dos dois principais mercados importadores e exportadores do Brasil, a Grande São Paulo e o interior paulista, o Porto de São Sebastião tem potencial de ampliação de movimentação de cargas constantemente colocado em pauta.

E justamente por essas duas características, a beleza natural e o potencial portuário, São Sebastião tem provocado nos últimos anos um debate acalorado entre os defensores da ampliação do porto e os da preservação ambiental.

Já no começo do século passado, década de 1920, o Porto de Santos apresentava congestionamentos e se pensava numa alternativa.

O porto de São Sebastião começou a ser construído pelo governo paulista com concessão federal por 60 anos, de 1934 a 1994, depois prorrogada até 2007. As obras foram de 1934 a 1954, mas as operações portuárias só começaram na década de 60.

A necessidade de uma alternativa continua a mesma. Tanto que o mega-empresário Eike Batista projetou a construção de um porto em Peruíbe, no litoral sul paulista, recentemente. Chegou a iniciar negociações antes de optar pelo Porto do Açu, no Rio de Janeiro.

A movimentação de São Sebastião ainda é pequena, cerca de 1 milhão de toneladas por ano. A referência é Santos, com 100 milhões.

Só que a projeção para Santos, em 2024, em estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento, é de 240 milhões de toneladas por ano.

A alternativa logística de São Sebastião cai como uma luva, raciocina a equipe de Geraldo Alckmin no Palácio dos Bandeirantes. A Petrobrás, que já tem lá o Tebar – Terminal Almirante Barroso – e que já iniciou a exploração do petróleo e do gás das enormes reservas da Bacia de Santos, compartilha o entusiasmo.

E os ambientalistas e preservacionistas perdem o sono.

Anel viário por trás de Caraguatatuba, construção de ferrovia, duplicação da Rodovia dos Tamoios… tudo isso está nas pranchetas dos idealizadores da ampliação do porto. Uma idéia ainda mais arrojada é a de um corredor de cargas unindo Campinas – Vale do Paraíba – litoral norte de São Paulo.

O debate político extrapolou as discussões técnico/acaloradas e chegou aos tribunais. A ampliação portuária enfrenta ações judiciais. Algumas vitórias recentes nesse campo animaram o governo paulista que faz planos de completar o projeto executivo de duas obras do programa de expansão:

1) um novo píer para atracação de navios

2) a pavimentação de 200 mil m² para a movimentação de contêineres.

A idéia é licitar as obras ainda neste ano.

Conciliar o desenvolvimento portuário e preservar as belezas naturais, com todos os recursos legais e tecnológicos disponíveis no século 21, não é impossível.

Mas até agora, nessa novela, as divergências entre empresários e governo de um lado e preservacionistas de outro, ao contrário de caminhar para essa conciliação, só tem ficado cada vez mais intensas.

A era da ansiedade

1) A publicidade apresentou repetidamente, nas últimas décadas, corpos humanos e sentimentos / emoções como mercadorias. As cirurgias plásticas, o botox e o silicone completaram o estrago. As conseqüências sobre a vida atual desse desvirtuamento são terríveis. Entre elas a crueldade superlativa de alguns crimes.

2) A indústria farmacêutica colocou à disposição das pessoas remédios como Prozac, Lexotan e Viagra. Soluções químicas para questões não-equacionadas internamente: ansiedade, impotência sexual, depressão.

3) A indústria editorial por sua vez transformou frustrações e dificuldades em estorvos que podem ser eliminados pelas técnicas de auto-ajuda. Sucesso editorial.

Alegria, estar de bem com a vida, otimismo, paixão, desempenho sexual, corpo sarado e outras positividades passaram a ser obrigatórias. E compráveis.

Acontece que dificuldades, tristezas, frustrações e dificuldades afetivas fazem parte da vida. Não podem ser eliminadas por decreto, por remédios ou por técnicas de auto-ajuda. Mesmo porque representam o outro lado da moeda de conquistas, alegrias, sucessos e paixões correspondidas. Mais ainda porque é nas vivências difíceis e sofridas que estão as grandes oportunidades de aprendizado e crescimento pessoal.

Se não houvesse escuridão, não haveria luz.

Mas a cultura atual é a do narcisismo, individualismo, celebridade, ansiedade. Ninguém quer saber de dores, frustrações, demora.

Sucesso e prazer a qualquer preço. E rápido.

Estão aí alguns dos fatores que explicam cenas recentes e chocantes:

1) O atacante Luís Fabiano, do São Paulo, xingando e ameaçando o juiz por uma marcação correta e simples.

2) O tenista argentino David Nalbandian chutando a placa a e acertando a perna de um juiz de linha num ataque de fúria.

3) Uma mulher traída matando e esquartejando o marido.

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