A dengue e a Aids
É tempo de radicalização. De julgamentos sumários. E o pior: conduzidos por conhecimentos superficiais. Uma olhada numa manchete de internet é suficiente para quem alguém forme um juízo de outro alguém. Bandido. Canalha. Safado.
Nesse tipo de julgamento, o direito de defesa não é respeitado. O internauta não tem paciência de chegar até o ponto em que o acusado coloca os argumentos. O leitor de jornal também não chega até o fim da notícia. E o telespectador ou ouvinte já acompanha a sonora dele com o juízo formado.
Prefeitos e secretários de saúde são sumariamente considerados responsáveis pela dengue. “Não fazem nada”. É como se as campanhas de conscientização não tivessem sido feitas. É como se o reclamento não tivesse recebido trocentas vezes a visita dos agentes da dengue em casa.
“Se não consegue eliminar a dengue, então que não se candidatasse”, bradam os radicais.
Um paralelo simples faz saltar aos olhos a insensatez dessa condenação sumária e superficial.
Vamos mudar de epidemia. Da dengue, para a Aids.
Será que ainda existe alguma pessoa no Brasil, com mais de dez anos de idade e alfabetizada, que não saiba como é que o vírus HIV contamina? Foram tantas campanhas, bem-feitas ou não, foram tantas entrevistas, tantas reportagens que é impossível alegar ignorância. Todo mundo sabe, também, como é que se faz a prevenção da Aids. No entanto, as pessoas continuam se contaminando ou pelo sexo ou pelo compartilhamento de acessórios de consumo de drogas. Será que a presidenta, o ministro da Saúde, os governadores e prefeitos podem ser responsabilizados por essa contaminação furtiva e quase sempre entre quatro paredes?
Não é exatamente igual com o criadouro do mosquito?
Tem coisa – muita coisa por sinal – que pode e deve ser cobrada das autoridades. Mas tem outras coisas em que a gente tem é de ter vergonha na cara.