Moderno x Arcaico
O abismo entre o novo e o velho na vida pública do país ficou mais escancarado nesta semana.
Num primeiro episódio, o ministro Luiz Fux, do Supremo, enfiou goela a baixo do presidente do Senado, José Interminável Sarney (PMDB-AP), o regimento do… próprio Congresso. Sarney tentou no melhor estilo dele, pautar com regime de urgência, por baixo do pano, o veto da presidente Dilma a alguns artigos da nova lei dos royalties do petróleo. Fux concedeu liminar suspendendo a sessão porque 3059 vetos estavam na fila e não podiam ser atropelados por aquele que interessava ao senador amapá-maranhense.
O próprio Fux também tinha interesse pessoal na história porque é do Rio de Janeiro, estado que seria o mais prejudicado pela derrubada do veto. E também porque chegou ao Supremo com um empurrãozinho político do governador de lá, Sérgio Cabral.
Sarney ainda tentou uma manobra que mistura cara-de-pau e prepotência: votar 3059 vetos de uma tacada só. Coisa de República Velhíssima. Não prosperou.
No outro episódio, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), lançou um balão de ensaio tosco. Como se estivesse na década de 60 ou 70, em plena ditadura militar, ameaçou dar asilo político no prédio do Congresso para os deputados ameaçados de prisão por causa do mensalão.
Algumas lideranças do PT já tinham tentado articular um “desagravo” nacional a José Dirceu e alguns outros condenados pelo mensalão. Desistiram porque alguns dias antes estourou o mega-escândalo dos “Bebês de Rosemary”.
Não que o Supremo seja uma Brastemp de modernidade. Mas tem mostrado, como nesses dois episódios, o lado guardião da lei, como exige a sociedade do século 21. Marco Maia e Sarney ainda estão na época do “jeitinho” e do “sabe com quem está falando?”.