Adultério
Leio um texto de Luiz Felipe Pondé. Cabeça cansada, não consigo encontrar o termo certo para definir o artigo. Só no dia seguinte: “instigante”. O tema está na escolha feminina entre o desejo que pulsa por outro homem e a rotina massacrante de um casamento sem amor. Pondé parte da personagem Francesca, do filme As Pontes de Madison, de Clint Eastwood.
O filme é de 1995. Muito bonito. E toca com sensibilidade nessa questão. Francesca até vive, por um breve momento, a paixão adúltera. Mas desiste dela. Renuncia. Faz a opção pelo marido e pelos dois filhos e vai imaginar o não-vivido com o homem por quem se apaixonou pelo resto da vida.
Pondé defende que essa opção não é só de muitas mulheres. Mas também de muitos homens. Verdade. E enaltece o sacrifício contra o pecado. Pecado, define ele, porque Francesca (e cada pessoa mergulhada em um casamento, cinzento ou não) tem consciência de não ser dona de si própria.
O cansaço faz com que eu simplesmente leia o artigo. Sem olhar crítico. Apenas absorvendo e assimilando as ideias do autor.
No dia seguinte, leio uma crítica ao artigo. É uma mulher que escreve. Diz que a escolha de Francesca não é sacrifício. É acomodação. Na argumentação dela, um conceito que eu internalizei há muito tempo e pelo qual tenho muito carinho intelectual:
“O primeiro amor é o amor-próprio. Só quem gosta de si mesmo(a) tem capacidade de amar outra pessoa”.
Diz a mulher que critica o artigo: “Quem não é feliz não consegue dar felicidade ao outro. Francesca fez o que muitas mulheres fazem. Vive a acomodação às regras construídas. Sem a capacidade de medir o quanto esta escolha traz de prejuízos e sacrifícios até para aqueles que pensa estar protegendo”.
As questões da alma humana têm alto grau de complexidade. Esta envolve acomodação e sacrifício, adultério, ruptura ou renúncia, paixão ou rotina. Como é que você, leitora / leitor, analisa a escolha de Francesca que é também a de tantas mulheres e de tantos homens que você conhece?