Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

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Adultério

Leio um texto de Luiz Felipe Pondé. Cabeça cansada, não consigo encontrar o termo certo para definir o artigo. Só no dia seguinte: “instigante”. O tema está na escolha feminina entre o desejo que pulsa por outro homem e a rotina massacrante de um casamento sem amor. Pondé parte da personagem Francesca, do filme As Pontes de Madison, de Clint Eastwood.

O filme é de 1995. Muito bonito. E toca com sensibilidade nessa questão. Francesca até vive, por um breve momento, a paixão adúltera. Mas desiste dela. Renuncia. Faz a opção pelo marido e pelos dois filhos e vai imaginar o não-vivido com o homem por quem se apaixonou pelo resto da vida.

Pondé defende que essa opção não é só de muitas mulheres. Mas também de muitos homens. Verdade. E enaltece o sacrifício contra o pecado. Pecado, define ele, porque Francesca (e cada pessoa mergulhada em um casamento, cinzento ou não) tem consciência de não ser dona de si própria.

O cansaço faz com que eu simplesmente leia o artigo. Sem olhar crítico. Apenas absorvendo e assimilando as ideias do autor.

No dia seguinte, leio uma crítica ao artigo. É uma mulher que escreve. Diz que a escolha de Francesca não é sacrifício. É acomodação. Na argumentação dela, um conceito que eu internalizei há muito tempo e pelo qual tenho muito carinho intelectual:

“O primeiro amor é o amor-próprio. Só quem gosta de si mesmo(a) tem capacidade de amar outra pessoa”.

Diz a mulher que critica o artigo: “Quem não é feliz não consegue dar felicidade ao outro. Francesca fez o que muitas mulheres fazem. Vive a acomodação às regras construídas. Sem a capacidade de medir o quanto esta escolha traz de prejuízos e sacrifícios até para aqueles que pensa estar protegendo”.

As questões da alma humana têm alto grau de complexidade. Esta envolve acomodação e sacrifício, adultério, ruptura ou renúncia, paixão ou rotina. Como é que você, leitora / leitor, analisa a escolha de Francesca que é também a de tantas mulheres e de tantos homens que você conhece?

Pesadelo petista

Uma semana terrível. Muitos petistas gostariam de exorcizar esse começo de fevereiro. O DNA sindicalista do PT aprendendo na Bahia que gás de pimenta na greve dos outros é refresco. E o governo de Dilma Roussef, conjugando nos aeroportos o verbo-palavrão da cartilha do partido: privatizar.

É verdade que não é o primeiro sutiã, aquele que a garota nunca esquece. A temporada de greves do ano passado já tinha sido brava. Assim como na gestão de Lula estradas federais tinham sido concedidas à iniciativa privada. 

Só que agora é diferente. Agudizou. Nas rodovias, o critério de menor preço de pedágio tinha adoçado o remédio amargo da privatização. E na greve, Assembléia ocupada, bandidagem de policiais, prisão de lideranças… O mundo virou de cabeça para baixo.

Dessa vez, bicos tucanos saíram em campo para lembrar discursos do passado: Fernando Henrique, Luís Carlos Mendonça de Barros…

De um lado, privatizações e posturas rigorosas contra grevistas lembram aquele velho ditado da política:

“Muda tudo quando senta na cadeira”.

É muito difícil, no exercício do poder, manter a coerência do discurso de oposição.

Dilma deve ter travado a língua trinta vezes antes de dizer que:

 “Não é possível esse tipo de prática [conceder anistia], senão vai chegar um momento em que vão anistiar antes que o movimento comece”. E que “Se anistiar, vira um país sem regras”.

Petistas vão ter pesadelos nos próximos dias imaginando a campanha de 2014. Já pensaram na imagem de Aécio Neves em cima de um palanque acusando Dilma de querer privatizar a Petrobrás? 

Galinha dos impostos de ouro

Entre os principais troféus do primeiro ano da gestão Dilma Roussef, está o êxito do cumprimento da meta de superávit fiscal. Houve folga de quase R$ 1 bilhão em relação aos R$ 128 bilhões previstos. Sucesso. Mas…

Mas a taxa Selic, mais alta durante o ano todo, jogou o pagamento dos juros da dívida pública para a estratosfera: R$ 237 bilhões, uma montanha de dinheiro. Ou seja: déficit real de R$ 108 bilhões. Uma fatia – perigosa – de 2,61% do Produto Interno Bruto – PIB. Maior que a de 2010, 2,48%.  

Isso explica dois movimentos federais nesse começo de 2011. Um deles é bissexto: redução da taxa Selic. O segundo é o assanhamento arrecadatório de sempre.

“Vamos fermentar esse bolo” é o mantra de Dilma e de Mantega antes de dormir. Como era de Lula, Fernando Henrique, Dom Pedro II… 

O aumento de arrecadação está entre os pilares do cumprimento da meta de superávit primário do ano passado. E a idéia é engordar um pouquinho mais essa coluna neste ano duro, que tem reajuste ambicioso do salário mínimo, e enorme pressão por investimentos para Copa e Jogos Olímpicos.

Os aeroportos já entraram nesse bolão com o sucesso do leilão de privatização desta semana.

E os portos, onde entram nisso?

Pelos anúncios desta semana, pagando impostos e taxas mais altas.

Na terça-feira já abordamos aqui a iniciativa da Companhia Docas do Estado de São Paulo – Codesp – de submeter à aprovação do Conselho de Autoridade Portuária um salgado reajuste de taxas. O uso da infra-estrutura portuária, normalmente desembolsado pelo armador, seria reajustado em 32,5%. O da infra terrestre, pago pelo terminal, 103,9%. E os serviços gerais, 188,3%. Para amenizar o impacto desse aumento de custos para armadores e operadores, a idéia é escalonar em 3 anos o reajuste. Agência Nacional de Transportes Aquaviários relativa à Resolução Nº 2.367 que aprova a proposta de norma para procedimentos para a elaboração de projetos de arrendamentos e para a revisão do

E hoje em Brasília vai ser realizada a audiência pública presencial da equilíbrio econômico financeiro dos contratos de arrendamento de áreas e instalações nos portos organizados.

Se já existe a revisão extraordinária dos contratos de arrendamento diante da “ocorrência de externalidades que afetem, de forma continuada e substancial a operação da arrendatária”, para que revisões ordinária a cada 5 anos?

Sobrecarga tributária pode inibir a atividade e ter efeito oposto: reduzir arrecadação.

Conselho de Autoridade Portuária – CAP

O movimento que pleiteia a nomeação de uma liderança empresarial para a presidência do CAP de Santos, para ganhos de agilidade e da função estratégica desse órgão, está usando o exemplo do governo federal.

O empresário Jorge Gerdau, coordenador da Câmara de Gestão e Planejamento do governo de Dilma Rousseff, uma espécie de consultoria interna para assuntos estratégicos, é o modelo citado.

A idéia é a de trazer para o CAP uma pessoa que tenha, como Gerdau, um olhar crítico em relação às políticas publicas, no caso as do Porto de Santos, e consiga, ao mesmo tempo, manter a sintonia com as autoridades, no caso as  portuárias.

Para escapar do “Endurecer sem perder a ternura”, “Avanço em etapas” é o slogan do movimento. 

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