Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

Arquivo para o mês “outubro, 2012”

Bodas de diamante

A Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos completou 75 anos.

Constitui, de certa maneira, um reservatório de técnica, em geral, e de inteligência urbanística, em particular, super-importante para a cidade e para a região.

Na comemoração dos três quartos de século, a diretoria atual, capitaneada pelo engº Marcos Teixeira, o Piu, prestou homenagem aos ex-presidentes. Muitos, ainda vivos. Outros, representados por parentes.

Tem lógica.

Uma entidade desse tipo cresce e se valoriza a partir do trabalho de dirigentes que se dedicam a ela geração depois de geração. E o presidente de cada diretoria simboliza o grupo de pessoas que foi moldando vigas, pilares e lajes dessa estrutura.

Num determinado momento da cerimônia, o ex-presidente Antônio Carlos Silva Gonçalves, o Fifi, traduziu com muita propriedade, o espírito dessa continuidade. Ele contou que quando se candidatou à presidência da AEAS, em 1993, foi sabatinado por alguns ex-dirigentes – entre eles o lendário arquiteto Aníbal Martins Clemente – para uma avaliação do potencial de gestão que ele trazia na bagagem.

Esse grupo de ex-presidentes funcionava mais ou menos como o conselho de anciões de algumas civilizações antigas que valorizavam o conhecimento e a experiência dos mais antigos.

Um momento especial da solenidade foi protagonizado por Sylvia Passarelli, que foi receber a homenagem como representante do pai, Sílvio Passarelli, que presidiu a Associação de 1941 a 1943, quando a entidade ainda engatinhava.

Ela contou a história da compra do terreno onde está construída a sede. O lote ia da praia até a Rua Governador Pedro de Toledo. Dividido em três partes, duas foram vendidas e a da Associação saiu gratuita.

75 anos depois da fundação, a AEAS tem participações importantes em questões recentes da cidade e da região como as audiências públicas em que foram discutidos os prédios tortos da orla de Santos e a ponte que o governo estadual ameaçava construir entre Santos e Guarujá.

Talvez esteja na hora da AEAS meter a colher – de pedreiro – em outras questões como a entrada de Santos, o trevo de Cubatão e a verticalização.

Fica a sugestão…

Serra e Neymar

Um copo com água pela metade. Nada mais banal e cotidiano. Pois uma parte das pessoas tem uma visão: a de um copo 50% cheio. E outra parte vê o copo meio vazio. As duas visões têm significados idênticos. Mas são diferentes e, às vezes, até confrontantes e conflituosas. Depende da sede… Só para dar o crédito: a primeira pessoa que vi expressar esse conceito foi Yoko Ono, a viúva do beatle John Lennon.

Se é assim com o copo, assim é com José Serra, o tucano que parece chegar a um melancólico final de carreira com a derrota desse domingo em São Paulo.

Um jornalista tucano definiu com perfeição: Serra tem ótimos atributos mas uma carreira com péssimas atitudes. Inteligência poderosa, ótima capacidade de gestão, Serra é o ministro dos genéricos e da quebra de patente dos medicamentos contra a Aids, entre outras realizações. Foi um dos principais mentores do excelente governo Montoro em SP. Mas a antipatia, uma dose de arrogância e as renúncias à prefeitura e ao governo estadual para concorrer a outros cargos fizeram com que ele perdesse para ele mesmo.

E se é assim com o copo d´água e com o candidato tucano, assim também é com Neymar. Craque excepcional? Sim, já demonstrou com sobras em campo. Comparável a Pelé e a Garrincha, embora ainda esteja no início da carreira. Maior que Zico, Romário e Ronaldo, provavelmente. Mas questionado porque ainda não jogou em outros países. Precisa?

Questionado também nesta semana porque reclamou que os companheiros, muitas vezes, ficam estáticos, esperando que ele resolva a jogada – e o jogo – sozinho. Futebol é coletivo. Se os adversários cercam ele com três e dão pancada, como tem acontecido, os companheiros ficam com marcação mais frouxa. Às vezes Neymar consegue mesmo resolver sozinho. Mas na maior parte das partidas, não. Mesmo assim tem torcedor que em lugar da gratidão pelo futebol e pela dedicação fora de série, acha que ele TEM que resolver sozinho pelo que ganha.

Meio cheio ou meio vazio?

A mãe de 61 anos

Nem a condenação por formação de quadrilha de José Dirceu, nem o leilão milionário da virgindade da pós-adolescente Ingrid Migliorini. Das histórias recentes que os meios de comunicação popularizaram, a que mais repercutiu dentro de mim foi a da mulher que se tornou mãe aos 61 anos.

Os conselhos de medicina da vida querem limitar a idade para tratamentos de fertilidade. Trata-se de interferência indevida nas escolhas individuais de seres humanos. Deveriam concentrar as energias na humanização dos procedimentos médicos durante as consultas, cada vez mais robotizadas. Médicos que conversam com o paciente e examinam com cuidado vão se transformando em exceções.

Sob qualquer ângulo que você escolha para análise, a história da mãe é maravilhosa.

Pelo lado dos desejos essenciais, por exemplo. Atrapalham a vida? Há casos em que a pessoa esquece do resto e se concentra nele. Aí pode desandar. Ou a pessoa pode cuidar bem de todos – ou pelo menos dos mais importantes departamentos da vida – e continuar batalhando pelo sonho. Qual terá sido o caso dessa mãe?

10 de cada 10 fórmulas de auto-ajuda empatam com 20 de cada 20 receitas de gente mais experiente para o sucesso: persistência e continuidade. Nesse ponto a mãe deu show de bola: juntou dinheiro para a fertilização, fez quatro tentativas e não desanimou nem quando o processo de adoção recebeu cartão vermelho por causa da idade dela.

Enfocada pelo ângulo da espiritualidade, a história é ainda mais impressionante. Quem acredita em carma, tem um campo enorme para todo tipo de especulação. Qual seria o resgate de vidas anteriores que essa mulher alcançou com essa dose inacreditável de determinação?

Tem ainda uma cereja nesse bolo: o fato de não só ela ter alcançado o sucesso da maternidade mas também o de ter recebido um presente da vida: um casal de gêmeos. Tudo de bom.

Depois que um homem se torna pai e uma mulher se torna mãe, quando passam na rua por uma criança pequena acompanhada é comum desejarem ao adulto que acompanha o pequeno saúde e amor em doses cavalares para que a criação daquela criança seja bacana.

Essa mãe super-tardia e super-corajosa merece que o coração de cada um nós vibre nessa frequência com uma intensidade muitas vezes multiplicada.

Avestruz contagiosa

Diz a lenda que a avestruz, quando ameaçada, esconde a cabeça no solo, no primeiro buraco que encontra. A interpretação mais comum é a de uma tentativa de escapar deixando de olhar o perigo.

O que os olhos não vêem, o coração não sente, diz outra crença.

Você provavelmente entende como ridícula essa reação. A ameaça não vai desaparecer. E a avestruz, com a cabeça enfiada no buraco, vai ser presa fácil para os predadores ou animais peçonhentos dos quais quer escapar. Melhor seria correr ou enfrentar.

O interessante é que essa atitude de avestruz está espalhada em volta da gente sem ser percebida. Na vida cotidiana, por exemplo, quantos pais e mães preferem não ver as artes que o filho está fazendo? Ou pior, os traficantes dos quais virou cliente?

O pior marido traído não é aquele que não quer ver? Diziam durante a novela Avenida Brasil que o personagem Tufão era tão corno, mas tão corno, que só ia descobrir no Vale a Pena Ver de Novo.

A política brasileira também está infestada de avestruzes.

No plano federal, o ex-presidente Lula jurava beijando a cruz que o mensalão nunca existiu. Como será, então, que o operador Marcos Valério pega pena de 40 anos de prisão no julgamento do Supremo e o poderoso chefão Zé Dirceu recebe condenação por formação de quadrilha?

Para o governo paulista de Geraldo Alckmin, é o PCC que não existe. Os policiais morrem que nem moscas, a Polícia Militar anuncia que vai colocar mais 21 mil policiais na rua mas o PCC continua não existindo. O pior cego é aquele que não quer ver…

E no plano municipal, o prefeito João Paulo Papa, de Santos, diz acreditar piamente que a verticalização não compromete a qualidade de vida. O sistema viário infartado, a mobilidade urbana ameaçada de colapso, motoristas à beira de um ataque de nervos… e o prefeito candidamente diz que quando uma torre de trocentos apartamentos cada um com múltiplas vagas de garagem é erguido onde antes havia 3 ou 4 casas não há impacto na qualidade de vida…

Cientista brasileiro

Um cientista brasileiro é o responsável pelo mais recente – e sensacional – avanço no tratamento da Aids. O imunologista Michel Nussenzweig é o autor da façanha. Ele criou e testou uma vacina com a combinação de cinco anticorpos. E ela conseguiu manter os níveis do vírus da Aids (HIV-1) abaixo dos detectáveis durante mais tempo que os tratamentos atuais. Os ratos-cobaias em que a vacina foi testada têm sistema imunológico igual ao humano.

A notícia apresenta alguns aspectos muito interessantes.

Um deles é o de um brasileiro se notabilizando no campo da ciência, coisa sempre rara. Quando a gente tenta lembrar de um pesquisador brasuca e bem-sucedido, fica fixado em raríssimos nomes. E das antigas. César Lattes, por exemplo.

Os avanços no tratamento da Aids renderam até prêmios importantes como o Nobel para alguns pesquisadores. Os franceses Francoise Barre-Sinoussi e Luc Montagnier foram agraciados em 2008 pela descoberta do vírus HIV. Publicaram artigos sobre o vírus em 1983 e estiveram envolvidos em grandes descobertas sobre a seleção e desenvolvimento vacinas. Mas nenhuma tão eficaz quanto essa do brasileiro.

Você deve estar se perguntando: “Ele trabalha no Brasil?”. Não, meu caro Watson, responderia Sherlock Holmes. Nos Estados Unidos, país que tem excelência nesse quesito da pesquisa científica. Brasileiros vocacionados para a ciência, como o autor dessa descoberta, infelizmente ainda não têm outra alternativa para desenvolver o talento: só aviões internacionais.

Esse é um dos fatores que inibe o desenvolvimento completo do país: a falta de investimento em pesquisa e inovação. Trata-se ser uma política burra. Porque os pagamentos por patentes de descobertas internacionais é maior do que o investimento que faria elas jorrarem aqui. E o país, nesse cenário, continua destinado a vender minerais e produtos agrícolas que agregam pouco valor ao trabalho dos brasileiros e comprar equipamentos, medicamentos e produtos de tecnologia que agregam muito valor ao trabalho de alemães, coreanos, japoneses e estadunidenses.

Na temporada 2008 / 2009, naquela crise financeira, lembro de ter comentado com você, leitora / leitor, que o governo Lula cortou imediatamente gastos na educação. Na pesquisa nem tem muito o que cortar. É insignificante. E o governo alemão cortou em vários setores. Só preservou a educação e a pesquisa.

Será que é só coincidência o fato de cientistas alemães realizarem suas descobertas trabalhando perto de casa? E a Alemanha voltar a ser a locomotiva da Europa e se mostrar imunizada contra crises?

Roubo e receptação

Pablo Picasso, Claude Monet, Henri Matisse e Paul Guaguin estão entre os maiores monstros sagrados da história da pintura no mundo.

Faz uma semana, ladrões conseguiram levar telas de todos eles que estavam numa exposição num museu holandês.

Telas lendárias foram levadas como “Cabeça de Arlequim”, de Picasso, e “A Leitora em Branco e Amarelo” de Matisse.

O sistema de segurança do Museu Khunstal, em Roterdã, estava reforçado por causa da exposição. A polícia chegou 5 minutos depois do acionamento do alarme e já não sentiu mais nem o cheiro dos ladrões no ar. Evaporaram.

A tecnologia talvez ajude na investigação para encontrar os autores do roubo cinematográfico. Você, leitora / leitor do DL, pode acessar no You Tube as imagens registradas por uma câmera de segurança que a polícia da Holanda está divulgando. A idéia dos policiais é descobrir o local onde as bolsas em que as telas foram levadas do museu foram compradas. Pista fraca.

Como a avaliação das telas está entre 50 e 100 milhões de dólares, a empresa seguradora vai fazer o possível e o impossível para a recuperação.

Talvez aí a vida imite a arte. Porque no filme Thomas Crown – A Arte do Crime, uma tela de Monet de US$ 100 milhões é roubada assim com maestria de um museu. Mas uma investigadora contratada pela empresa seguradora… Não vou contar o filme, que é de 99 e está disponível. A dupla central é vivida pelo ex-007, Pierce Brosnan, e pela atriz Rene Russo.

E o que a gente tem a ver com isso? – você deve estar pensando.

No ponto em comum que a elucidação desse roubo vai ter com todos dos quais a gente é vítima aqui no Brasil em geral e nas cidades da Baixada em particular: laptops, correntinhas, automóveis, cargas de caminhão, celulares… tudo: o receptador. Pode apostar: a polícia da Holanda ou a empresa seguradora vão desvendar esse roubo quando os ladrões tentarem vender as telas. É só ficar de olho nos receptadores.

E por que a polícia daqui não faz isso mesmo com desmanches de carros, feiras do rolo e lojas de compra de ouro escancaradas? Esse, leitora / leitor, é um mistério muito maior do que o roubo da Holanda…

Avenida Brasil

O país parou na sexta-feira às nove da noite para assistir ao último capítulo da novela Avenida Brasil. Noveleiros assumidos se juntaram aos que saíram do armário e aos anti-noveleiros para surfar na onda da Carminha, do Tufão e da Nina. O contágio foi geral. Ganhou repercussão o fato de a presidenta Dilma ter alterado a agenda em função da novela na última semana.

Para autores, diretores e elenco, fica uma marca inesquecível na carreira. O sucesso é doce e inebriante. A Rede Globo conhece o público brasileiro e alcançou a excelência nesse negócio de produzir novelas. Estranhamente perdeu espaço no mercado internacional nos últimos anos. Talvez porque a temática tenha se aproximado mais de questões especificamente brasileiras e se afastado das universais.

Pão e circo, diziam no tempo dos romanos. Alimento e diversão constituíam a fórmula de manter o apoio da população ao esquema no poder.

Não mudou muita coisa nesse ponto do psiquismo humano. O circo ganhou aparato eletrônico. Futebol e novela dominam as conversas ao ponto do ex-presidente Lula ter dito que a população está mais preocupada com o Palmeiras, ameaçado de rebaixamento, do que com o julgamento do mensalão.

Comida, diversão e arte, pediam os Titãs na letra do concretista Arnaldo Antunes.

A novela tem esse status de arte? Se a discussão entrar nesse campo, não termina mais. Grandes atores e atrizes, sem dúvida. Grandes histórias. E a verdade é que a novela tem se aproximado de questões importantes como a corrupção, as características de algumas doenças, o avanço do homossexualismo…

Ainda sem a agudeza de filmes como Tropa de Elite. Mas tem colocado  questões reais, dentro do limite que a obrigação de abranger públicos de todos as faixas de idade e renda impõe.

As outras redes de televisão, para enfrentar essa excelência ainda têm de comer muito mingau. 

Sorte e azar

O filme Match Point, do genial Woody Allen, começa com uma jogada de tênis. A bolinha bate na rede e sobe. Pode cair para o lado de quem jogou. Pode cair para o outro lado. Um átomo a mais de força ou de efeito vai fazer a diferença. Ou um centímetro por hora a mais na velocidade do vento. Pura questão de sorte.

Woody Allen está abordando a influência do acaso na vida da gente.

É fácil discordar dele. O que resolve mesmo é o trabalho, a continuidade, a consistência da atitude diante da vida, o investimento na qualificação, o comportamento ético.

Perfeitamente correto. Completamente certo.

Mesmo no jogo de tênis, aquele ponto creditado à sorte, na maior parte das vezes não vai ser decisivo. A não ser que seja o Match Point do título do filme, o ponto que decide o jogo. E que se acontecer numa final, decide o campeonato. Mas é bom a gente lembrar que o jogador finalista não chegou até ali por sorte. Chegou pela competência, pela força do jogo, quase sempre conquistada com a aliança de talento e treinamento duro. Aliás, quase sempre mais pela preparação do que pelo dom.

Só que tem o outro lado. Dois jogadores nasceram com talentos equivalentes e se prepararam com dedicação máxima. A sorte pode decidir uma disputa entre eles.

No filme, o assassino da amante joga as jóias dela no rio para se livrar de provas contra ele. Uma aliança bate na mureta, sobe cirando no ar como a bolinha de tênis do início do filme. Pode cair em terra ou na água. E o lado em que a jóia cair vai ser decisivo no futuro dele. Pura questão de sorte. Ou de azar.

Woody Allen aborda uma questão importante. A vida é mesmo feita de circunstâncias e acasos. Ou melhor, é feita também de circunstâncias e acasos. Se a oportunidade se apresentar num determinado dia e numa determinada hora, pode ser aproveitada. No dia seguinte, ou uma hora antes, é impossível.

Sobre circunstâncias e acasos, a gente não tem nenhum poder.

O que está ao nosso alcance é mesmo trabalho, continuidade, consistência, qualificação e ética.

Ônibus sem cobrador

Um estudante de Direito da Unip de Santos conta numa roda de conversa que o ônibus 42, lá pelas 10 e meia, 10 e 40 da noite, fica parado 15, 20 minutos no ponto dali do início da avenida Ana Costa. É saída da faculdade. Tem muita gente. E um dos fatores desse retardamento é o fato do motorista ter de cobrar a passagem. Não tem cobrador. A cena se repete todos os dias, de segunda a sexta.

Um advogado que está na rodinha, Ranieri Cecconi, faz uma pergunta que define a questão com objetividade e agudeza:

“A quem interessa o ônibus sem cobrador?”. Ele mesmo explica: “Todos saem prejudicados: o passageiro, que espera mais, o motorista, que tem tripla função, o trânsito, que fica mais lento, o cobrador, que fica sem emprego, a cidade que fica com mais desempregados e com o trânsito mais complicado”…

A quem interessa o ônibus sem cobrador?

Dá para ter cobrador? Dá. Em Cubatão tem.

Quem tirou os cobradores dos ônibus de Santos foi o ex-prefeito Beto Mansur. O atual prefeito, que fazia parte do governo dele, manteve a decisão.

Falta de sensibilidade em estado bruto.

Se você estranhou a palavra tripla ao lado da função do motorista, não foi erro de digitação, não. É tripla mesmo e não dupla. O motorista dirige, cobra e escuta todo tipo de reclamação, principalmente quanto à falta de troco e ao muito tempo parado no ponto. Motorista, cobrador e ouvidor.

Centenas de motoristas estão afastados por problemas de desgaste emocional.

O Código de Trânsito não permite dirigir e falar no celular. E dirigir e fazer troco? E dirigir e ouvir reclamação?

As empresas de ônibus fazem uma economia porca.

E a pergunta do advogado fica no ar:

“A quem interessa o ônibus sem cobrador?”.

O governador e a ameaça de colapso viário na Baixada Santista

Uma olhadinha rápida na lista de prefeitos eleitos nas 9 cidades da Baixada Santista leva a uma conclusão evidente: o governador Geraldo Alckmin, que já era forte na região, multiplicou a musculatura.

São três prefeitos do PSDB e dois do DEM. Pelos tucanos, Paulo Alexandre Barbosa, em Santos, Alberto Mourão, em Praia Grande e Marco Aurélio, em Itanhaém. Pelos demos, como diria o ex-presidente Lula, Mauro Orlandini, em Bertioga e Paulinho Wiasovski, em Mongaguá.

Estes dois últimos disputavam reeleições e portanto carregavam uma certa dose de favoritismo. Já os três tucanos tiveram vitórias eleitorais expressivas.

Paulo Alexandre conquista o primeiro mandato executivo. É importante observar que é a primeira vez, também, depois de cinco tentativas, que o partido do governador vai administrar Santos.

Alberto Mourão torna-se o primeiro prefeito com 4 mandatos conquistados nas urnas na Baixada Santista.

E Marco Aurélio consegue manter a Prefeitura de Mongaguá com o PSDB depois de dois mandatos do também tucano Forssel.

Essa força política, que deve ajudar Alckmin em 2014, traz junto a responsabilidade de uma enorme expectativa.

Estão nas mãos do governador algumas decisões vitais, cruciais mesmo, para a região de Santos nos próximos anos.

Uma delas, a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos, espécie de metrô de superfície, vai definir se a região metropolitana se integra definitivamente ou se permanece com a atual desintegração do transporte coletivo e do sistema viário que martiriza moradores de uma cidade que trabalham, estudam e tem parentes ou namorados em outras, caso muito comum. A questão chega a ser bizarra. Santos e São Vicente, por exemplo são totalmente conurbadas. As divisas entre as duas cidades estão marcadas em ruas e avenidas, mudam tudo. O transporte coletivo vicentino é feito por vans que são proibidas de circular em Santos. Na Praia do Itararé, há uma motovia que termina abruptamente na divisa com Santos e por aí vai.

O túnel entre Santos e Guarujá é outra dessas decisões. A obsoleta travessia por balsas é uma das mais movimentadas do mundo. Transversal à entrada e à saída de navios do Porto, registrou pelo menos dois acidentes entre os dois tipos de embarcação nos últimos meses. O ex-governador Serra chegou até a inaugurar uma maquete de ponte na pré-campanha presidencial de 2010, mas até agora essa ligação seca entre as duas cidades ficou só na conversa. Fiada.

O Porto de Santos tem gestão federal. Mas os grandes problemas dele estão longe do cais, nos acessos ferroviários e rodoviários. Que dependem de recursos e iniciativas estaduais: a entrada de Santos, o trevo de Cubatão…

A questão é dramática. A frota de veículos das cidades da Baixada tem duplicado a cada seis anos. O número de caminhões ficou multiplicado por 2,5 nos últimos 15 anos, quando a movimentação de cargas saltou da casa de 40 milhões de toneladas para a de 100 milhões deste ano que pode se transformar em 250 milhões em 10 ou 12 anos. E o sistema viário permanece o mesmo, com raríssimas intervenções. Se vai haver colapso ou não, depende do governador.

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