Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

Arquivo para o mês “fevereiro, 2013”

Histórias que não colam

Fragilidade física para exercer a função de papa. Quando Bento 16 anunciou a renúncia, usou essa justificativa. Ficou uma pergunta no ar:

  • Quem quer acreditar nisso?

As sombras atrás da porta se apresentavam muito mais convincentes e temperadas: sexo proibido, chantagem e roubalheira.

Os desdobramentos da renúncia vão mostrando aos poucos que os incrédulos estavam certos. Desvios no Banco Central do Vaticano, orgias homossexuais de figuras importantes da Santa Sé e acobertamento de casos de pedofilia têm muito mais mais relação com a decisão do Papa do que saúde abalada.

Acontece coisa parecida com outras duas histórias deste fevereiro.

A primeira é a da morte do adolescente boliviano no estádio. A confissão do crime pelo menor de idade membro da torcida organizada Gaviões da Fiel pode até ser verdadeira. Mas é tão conveniente que ninguém quer acreditar nela. E os primeiros incrédulos são os bolivianos. A figura meio patética do advogado que deveria defender o cliente mas que se constitui em acusador reforça a imagem de farsa. Mais patética ainda a entrevista “exclusiva” com o rapaz no Fantástico de domingo. Não é que as perguntas importantes não tenham sido feitas. Elas foram claramente evitadas.

A versão do corredor sul-africano Oscar Pistorius para a morte da namorada cai na mesma vala do descrédito. Por que ele teria se arrastado sem as próteses até o banheiro, executado os disparos através da porta para só depois voltar ao quarto e colocar as pernas mecânicas que usa com tanta habilidade? Enquanto se arrastava, ele não estava muito mais sujeito à violência do suposto ladrão do que com as próteses?

Três versões bem construídas. Mas nenhuma delas convence a galera. Marcaram esse mês de fevereiro que vai terminando. Na verdade, esse tipo de coisa marca cada vez mais a nossa época.

A blogueira cubana

'Brasil' hostil a Yoani?

‘Brasil’ hostil a Yoani?

Você sairia de casa e enfrentaria o trânsito de São Paulo, do Rio de Janeiro ou de Brasília para ir vaiar e xingar a blogueira cubana que visita o Brasil?

Imagino que nem por decreto você faria isso. Eu, também não.

Daí que você deve estar encafifado, como eu também estou, com as muitas pessoas que tomaram essa atitude.

Qual o sentido?

A blogueira simplesmente enfrenta a ditadura de mais de 50 anos dos irmãos Castro denunciando as muitas deficiências e mazelas do regime que ficam encobertas por uma falsa aura romântica com que alguns insistem em olhar a vida em Cuba.

Yoani Sánchez foi hostilizada e xingada em todos os lugares por onde passou no Brasil. Muitos jovens entre os manifestantes.

Fica evidente que a reação não é espontânea nem natural. Coisa orquestrada. Mas quem, com a saúde mental em dia, pode articular uma bobagem dessas?

A resposta, por mais estranha que possa parecer, aponta para os puxa-sacos do regime cubano instalados em cargos públicos no Brasil. E também, é lógico, para o embaixador de Cuba. Os funcionários do governo que articularam nas redes sociais os ataques à blogueira são duplamente puxa-sacos: tanto dos ditadores de Cuba quanto dos ocupantes de cargos públicos no Brasil que ficam babando ovo para Fidel e o irmão. Se trabalhassem em empresas privadas provavelmente não teriam tempo ocioso para armar essa patacoada.

A blogueira respondeu com uma simplicidade atordoante, dizendo que gostaria que esse tipo de manifestação, própria das democracias, também existisse em Cuba.

A resposta, por si só, escancara a estupidez desse movimento que usa a liberdade de expressão existente no Brasil para atacar quem luta por essa mesma liberdade de expressão na ditadura cubana.

Simples assim.

Sexta-feira de caos

A sexta-feira estava mesmo predestinada ao caos. Reuniu um elenco de complicadores talvez nunca reunido antes:

  1. Chuva fortíssima

  2. Greve no Porto de Santos

  3. Protesto de caminhoneiros em Guarujá

  4. Deslizamento de encostas na Anchieta e na Imigrantes.

O resultado foi um pandemônio. Motoristas pediam socorro na Dom Domênico Rangoni completamente parada desde a manhã. O desespero se repetia na entrada e na saída de Santos do meio da tarde em diante. Em alguns pontos de Cubatão e São Vicente o trânsito parou em função das inundações.

Quem ia, não foi. Quem estava no caminho e conseguiu voltar, deu sorte. Pais não conseguiram buscar filhos na escola. Algumas pessoas tiveram de dormir inesperadamente em hotel ou em casa de amigos. Transtornos de todos os tipos.

É certo que o conjunto de complicadores reunidos por essa sexta-feira caótica tão cedo não vai se repetir. Mas não é menos certo que há um conjunto de gargalos para a mobilidade urbana e para a logística de acesso ao Porto de Santos que encaminham o sistema viário e rodoviário rapidamente para o colapso. A sexta-feira deu uma amostra não-grátis desse caos anunciado.

O Trevo de Cubatão, a Rua do Adubo em Guarujá, a Dom Domênico Rangoni, a entrada de Santos, o trecho vicentino coalhado de semáforos da Imigrantes, a travessia por balsas entre Santos e Guaruja, transversal à entrada e saída de navios… Os pontos-problema estão todos carecas de tão conhecidos.

Para todos eles existem projetos (no caso da entrada de Santos, projeto conceitual) em andamento. Andamento de tartaruga.

A frota dobra a cada seis, sete anos. O número de carretas aumentou 150% em vinte anos.

Um dia a casa cai. Está chegando a hora em que todos os dias vão ser que nem essa sexta-feira.

Corrida presidencial

O jogo de 2014 já começou

O jogo de 2014 já começou

Aécio Neves decidiu disputar a presidência do PSDB nacional em maio. É provável que nenhum adversário se apresente e que, assim, o senador mineiro seja eleito por aclamação.

Marina Silva apresentou ao país a nova sigla partidária com nome diferente: Rede Sustentabilidade.

Dilma Roussef, ao lado do ex-presidente Lula, festejou ontem, com pompa, circunstância e muita auto-louvação, os 33 anos do PT e os 10 anos do partido no poder federal. E, pelo sim pelo não, incluiu mais 2,5 milhões de famílias no Brasil Sem Miséria.

As movimentações dos presidenciáveis mostram que o pós-carnaval inaugurou pra valer o pré-eleitoral de 2014.

Na verdade, a corrida presidencial já tinha mostrado o ar da graça durante o carnaval. O governador Eduardo Campos (PSB) dançou frevo e maracatu em oito cidades pernambucanas e até subiu ao palco, em Recife, com Caetano Veloso.

O jogo já começou.

Dilma é favorita disparada. Mas morre de medo de outro pibinho. Reeleição com economia estagnada sempre é mais complicada.

Aécio tem de concorrer. Uma porque é o presidenciável do PSDB. E outra porque até mesmo uma derrota para Dilma agora pode servir para pavimentar a campanha de 2018.

Eduardo Campos está mais ou menos na mesma situação. Com a diferença de que pode brincar como pré-candidato e depois virar vice ou de Aécio ou de Dilma. É noiva cobiçada.

E Marina? Saiu com uma imagem positiva da campanha presidencial pelo PV em 2010. Mas continua sendo olhada como uma estranha nesse ninho, alternativa, monotemática.

Se nada muito diferente acontecer, como um novo escândalo da dimensão do mensalão, o jogo é mesmo de Dilma e a herança de Aécio. Conquistar Eduardo Campos como vice não muda muita coisa para nenhum dos dois.

Se o PIB vai ser pibinho ou pibão, também não é decisivo. A não ser que seja muito pibizinho ou muito pibizão.

Malandragens e coincidências

Ronaldinho Gaúcho disse que foi por acaso. Mas a releitura das imagens imediatamente anteriores ao primeiro gol do Atlético contra o São Paulo, na quarta -feira à noite, indica que foi malandragem. E malandragem planejada. Ele deu um “migué”, ficou tomando água com o goleiro Rogério Ceni enquanto a bola estava parada e, despercebido, recebeu livre, dentro da área sãopaulina, na reposição. E sem impedimento, que não existe na cobrança de lateral. Nota dez para a malandragem, que recupera um encanto que anda rarefeito no futebol atual.

***

E por falar em malandragem, o ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, misturou no mesmo caldeirão a renúncia do papa, a bomba atômica coreana e a profecia do fim do mundo maia. O resultado foi uma revisita às profecias de São Malaquias, no século 12. Malaquias é visto pelos esotéricos como um iniciado que, por malandragem, viveu entre os padres e frades como se fosse um deles para evitar as duras perseguições religiosas aos magos e feiticeiros no século 12.

A profecia mais impressionante dele é a da sequência dos 115 papas até a “desolação total da Igreja”. O sucessor de Bento 16 seria esse último papa. E as coincidências entre os 15 últimos papas e as profecias fazem valer a pena uma olhadinha na internet.

***

Por falar em coincidência, tem torcedor do Santos, encafifado com o namoro do Neymar com a atriz de novelas Bruna Marquezini.

Os cismados mais antigos lembram do namoro entre Garrincha e a cantora Elza Soares, que coincide com o sumiço das habilidades do botafoguense em campo.

E os mais recentes lembram do eclipse da carreira no Santos e na seleção do meia Elano, que coincidiu com o caso turbulento que ele manteve com a atriz de novelas Nívea Stelman.,

É bom lembrar aos mais preocupados que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Garrincha e Elano saíram de maneira tumultuada de casamentos para esses relacionamentos. Neymar, mesmo já sendo papai, é solteiro.

Amor romântico: possível ou não?

Crônicas de amor...

Crônicas de amor…

Ferreira Gullar, poeta do primeiro time, também brilha como cronista. Sobre o Amor está selecionada na coletânea As Cem Melhores Crônicas Brasileiras. Com justiça. Se você digitar o autor e o título num programa de busca na internet vai ter acesso a um texto leve e envolvente e com uma reflexão límpida e poderosa.

Ele atribui a uma amiga a definição de que a máquina de lavar, o espanador de pó e o bife com fritas acabam com qualquer paixão. Esse seria o estigmado casamento, “que é o amor institucionalizado, disciplinado, integrado na sociedade”. Um anti-amor, na verdade já que na origem, o amor é constituído de liberação e aventura.

Gullar defende que só a precariedade garante ao amor atingir a ignição máxima. Ou seja, tem necessariamente de acabar bruscamente como começou.

O texto envolve, conduz. E entristece.

Será então impossível uma vivência prolongada de uma paixão incandescente?

A transição de paixão para amor tem mesmo contornos complicados. Quantos apaixonados que você conheceu permanecem assim depois de algumas semanas, meses ou anos de relação?

Mas certamente você conhece pelo menos uma exceção. Qual será o segredo desse casal?

No livro A Arte de Amar, o autor Erich Fromm se debruça sobre essa questão. A partir da constatação de que nenhum outro empreendimento humano fracassa tantas vezes e tantas vezes é retomado como o projeto de viver uma paixão, Fromm examina o ser amoroso e a o amor em si.

O livro é denso e não cabe num texto dessa dimensão.

Mas é importante dizer que Fromm aponta a dificuldade mas também as possibilidades da manutenção do amor-paixão. De maneira bem resumida, o pensador considera fundamentais na relação o cuidado, o respeito, a responsabilidade e o conhecimento recíprocos. E em cada um dos apaixonados, como requisitos para a capacidade de amar, a humildade, a coragem, a fé e a disciplina.

Amar de verdade, para Erich Fromm, é muito, muito difícil. Coisa para gente muito evoluída. Mas possível. Viabilidade da qual a crônica de Ferreira Gullar leva o leitor a duvidar.

Carnaval desmetropolizado

Chegou o Carnaval. Santos tem desfile de escolas de samba. São Vicente, não. Cubatão, também não.

O curioso é que o sambódromo de Santos fica quase na divisa com São Vicente. E com acesso de boa qualidade para as cubatenses.

Guarujá tem ligação mais complicada com Santos. Mas isso nunca impediu a participação da escola de samba Amazonense.

Por que não, então, um carnaval metropolitano?

Para as escolas de Cubatão e São Vicente, 2013 vai ser um ano nefasto. Um ano de interrupção de desfile significa um prejuízo terrível. Não é só o desânimo dos integrantes. É a falta de confiança que vai contaminar os próximos anos:

“Vai ter Carnaval? Será que não vai rolar de novo?”.

Você pode pensar que não houve tempo para organizar. Afinal os prefeitos assumiram no início do ano, a menos de 2 meses da festa. Mas eles se elegeram no início de outubro. Paulo Alexandre em Santos, venceu no primeiro turno. Bili, em São Vicente, também. E em Cubatão, nem tem segundo turno.

Um pouquinho de boa vontade, outro de conversa e a coisa poderia ter ficado esquematizada mesmo antes da posse.

O mais curioso é que o carnaval já foi metropolitano. E isso, na década de 80, portanto antes da institucionalização da região metropolitana. Houve, portanto, um retrocesso.

Um campeonato metropolitano de escolas de samba fica mais barato para cada prefeitura. Pode atrair verbas estaduais. E tem potencial para se transformar numa atração turística.

O carnaval santista das escolas de samba desmente sozinho toda essa lenga-lenga de integração metropolitana que a gente escuta dos políticos da região faz tanto tempo.

Pés pós-modernos

As ruas estão mais coloridas. As cores fluorescentes, de repente, não mais que de repente, dominaram os tênis. Não tem como não perceber: verde limão, abóbora, rosa pink, azul turquesa, amarelo ovo… Os cadarços acompanharam.

Moderno ou pós-moderno? A aura é de coisa atualíssima.

Faz pouquíssimo tempo, quando a Nike lançou as chuteiras pink, o craque Robinho disse que não usaria: “Sou negão e jogador do Santos” disse esquecendo que usa a camila do Milan.

Mesmo assim esse tom se juntou nos gramados aos outros fluorescentes. Os negões também se renderam à sedução do pink.

Nas ruas, o modelo que todo adolescente quer é um que mistura esses tons todos de uma maneira surpreendentemente harmonizada.

A novidade não traduz só os avanços quase inacreditáveis do design, da tecnologia e do consumo. Que passam despercebidos, apesar de fantásticos, porque são muito familiares e contínuos e porque fazem parte do cotidiano. Mas se você comparar os modelos atuais com aqueles que se limitavam ao branco e ao azul-marinho com sola de borracha, da década de 60… Um abismo.

Os tênis coloridos mostram também o poder da inovação e da criatividade. Tinha gente que jurava que as possibilidades de inovar nos tênis estavam esgotadas.

Essa invasão colorida desvela ainda, no campo do comportamento, o poder de derrubada de preconceitos da liberdade de informação.

Nessa galeria, essa coleção de pés pós-modernos figura ao lado de outras conquistas inimagináveis há 50 anos como a parada do orgulho gay, uma mulher presidente do Brasil, um negro presidente dos Estados Unidos…

É… o mundo mudou muito. E para muito melhor.

Comunicação pós-moderna

Quem lê tanta notícia?” perguntava um espantado e preguiçoso Caetano Veloso em Alegria, Alegria. Rolava a década de 60. As “bancas de revistas” certamente não exibiam nem 0,1% da variedade atual. As revistas – e as emissoras de televisão – ainda não eram segmentadas.

Mas onde está o Caetano Veloso do século 21 para perguntar “Quem lê tantos e-mails e torpedos, quem consegue deixar em dia tantas redes sociais?”.

É uma enxurrada. O celular e o facebook moldam uma pressão pelo retorno imediato. A pessoa liga para o celular da outra e fica indignada se não consegue falar na hora. Manda uma mensagem no facebook e xinga de relaxado quem não responde em 15 minutos. E isso é geral. Vale para quem tem intimidade com o “lento” para responder e também para quem não tem.

Conheço gente que atropela o estágio educado de dar um toque no rádio da pessoa com quem quer falar. Aciona logo o alarme. Sei de casos em que o ansioso liga para o celular da vítima e no telefone fixo e aciona alarme nos dois rádios dela . Tudo ao mesmo tempo.

O interlocutor fica transformado em barata tonta.

A comunicação está completamente mudada. Talvez tenha até de mudar de nome. No formato que recebemos de nossos antepassados, comunicar significava tornar comum a informação, compartilhar. No século 20 a comunicação interpessoal perdeu espaço para a comunicação de massas.

E agora veio essa transformação radical do instantâneo, do on line. Que modifica, que deixa sequelas, que exige adaptações – pelo menos as possíveis. Ainda não dá, por exemplo, para deixar de dormir e responder todos os e-mails, torpedos e mensagens de redes sociais.

Será que é o próximo passo?

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