Vidas interrompidas
A semana trouxe para o noticiário três líderes políticos de primeira grandeza da nossa região que tiveram carreiras abortadas pela truculência da ditadura militar.
O primeiro foi o ex-deputado Marcelo Gato, deputado federal eleito em 1972. Sindicalista da Cosipa, hoje Usiminas, teve votação consagradora, 101 mil votos, e ficou entre os seis mais votados daquela eleição em todo o Brasil.
Marcelo Gato teve aquele mandato cassado em 1974 e morreu nesta semana. Natural de Sertãozinho e radicado em São Paulo, fez questão de ser sepultado em Santos.
Rubens Paiva, também deputado federal, nunca foi sepultado. Desapareceu, no início de 1971, vítima da estupidez dos militares que mandavam no país. Estava com os direitos políticos cassados desde 1964. Sempre houve rumores de que teria sido jogado de um avião no mar.
A Comissão Nacional da Verdade recebeu ontem documentos do Doi-Codi, lugar de onde ele sumiu, no Rio de Janeiro, que estavam sob guarda do coronel reformado Julio Miguel Molina Dias, e vai investigar o desaparecimento.
Esmeraldo Tarquinio também teve direitos políticos cassados pelo militares da ditadura. Primeiro negro a se eleger prefeito de Santos, em 1968, não chegou a assumir o mandato em função dessa cassação.
O jornalista Rafael Motta retrata essa trajetória no livro Tarquinio – Começar de Novo, lançado ontem no salão nobre Esmeraldo Tarquínio da Prefeitura de Santos. Rafael define o prefeito eleito e não-empossado como o grande político de origem popular de Santos no século 20.
Três vidas interrompidas. Três interferências indevidas na vida política de Santos e da região. Três exemplos de abuso e estupidez de um poder ilegítimo.