Blog do Paulo Schiff

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Vidas interrompidas

A semana trouxe para o noticiário três líderes políticos de primeira grandeza da nossa região que tiveram carreiras abortadas pela truculência da ditadura militar.

O primeiro foi o ex-deputado Marcelo Gato, deputado federal eleito em 1972. Sindicalista da Cosipa, hoje Usiminas, teve votação consagradora, 101 mil votos, e ficou entre os seis mais votados daquela eleição em todo o Brasil.

Marcelo Gato teve aquele mandato cassado em 1974 e morreu nesta semana. Natural de Sertãozinho e radicado em São Paulo, fez questão de ser sepultado em Santos.

Rubens Paiva, também deputado federal, nunca foi sepultado. Desapareceu, no início de 1971, vítima da estupidez dos militares que mandavam no país. Estava com os direitos políticos cassados desde 1964. Sempre houve rumores de que teria sido jogado de um avião no mar.

A Comissão Nacional da Verdade recebeu ontem documentos do Doi-Codi, lugar de onde ele sumiu, no Rio de Janeiro, que estavam sob guarda do coronel reformado Julio Miguel Molina Dias, e vai investigar o desaparecimento.

Esmeraldo Tarquinio também teve direitos políticos cassados pelo militares da ditadura. Primeiro negro a se eleger prefeito de Santos, em 1968, não chegou a assumir o mandato em função dessa cassação.

O jornalista Rafael Motta retrata essa trajetória no livro Tarquinio – Começar de Novo, lançado ontem no salão nobre Esmeraldo Tarquínio da Prefeitura de Santos. Rafael define o prefeito eleito e não-empossado como o grande político de origem popular de Santos no século 20.

Três vidas interrompidas. Três interferências indevidas na vida política de Santos e da região. Três exemplos de abuso e estupidez de um poder ilegítimo.

A leucopenia e o sentido do vento

A história é tão bonita que merece ser compartilhada. Aconteceu nos anos 80. Um engenheiro da Usiminas (na época Cosipa) teve constatada no exame de sangue uma queda no nível de leucócitos. Passou a monitorar o índice em novos exames. O monitoramento indicou que o processo era progressivo.

O diagnóstico, qualquer leigo conhecia: leucopenia. O desfecho, também: aposentadoria por invalidez. O benzeno da usina não perdoava ninguém.

Muita gente olhava essa situação como uma bênção. Ele não. A última coisa que passava pela cabeça dele era parar de trabalhar. Só que era complicado. Nenhum tratamento conhecido permitia ao leucopênico conviver com aquele maldito benzeno no ar.

O engenheiro lembrou da infância em Minas Gerais. De dia, os pescadores usavam o vento que soprava para a terra para sair para o trabalho. À noite, aproveitavam o vento no sentido contrário para voltar.

Essa inversão do sentido do vento inspirou a ele uma tentativa. De dia, reduziu a quase zero as atividades que exigiam esforço dentro do espaço físico da usina. Concentrou os esforços na mesa de trabalho. Deixou de caminhar pela usina. Passou a usar exclusivamente o elevador e nunca mais subiu ou desceu escadas. Chegava, sentava, trabalhava, Levantava e ia embora. Até o lugar no estacionamento passou a ser o mais perto possível da sala dele.

À noite, depois do trabalho, longe da usina, sem nenhuma molécula de benzeno por perto, passou a malhar. Academia de musculação, corridas na esteira, corridas na rua… O máximo de atividade física possível em nível saudável em ar puro como o da beira da praia em Santos.

Um mês e meio depois, o milagre: começou a reversão do processo. O nível de leucócitos no sangue subiu. A ameaça de leucopenia foi afastada. Ele continuou trabalhando.

Os médicos disseram a ele que não havia nenhuma indicação, nenhum registro científico, em nenhum lugar do mundo, de um tratamento parecido. Muito menos, bem-sucedido.

Mas, além dessa mudança de postura, ele não tinha mudado nenhum hábito. Permanecia o mesmo período diário na usina. O nível de benzeno no ar continuava igual. Não mudou a alimentação. Nem o sono. Até o uniforme que ele vestia era o mesmo.

Só tinha aproveitado, à noite, o vento em sentido contrário ao do dia.

Qualidade atrasada

Um jogo de futebol tem dois tempos de 45 minutos. Se houver acréscimo de 3 minutos em cada tempo, 96 minutos.

Um mandato de prefeito tem 48 meses. Se houver reeleição, como no caso de Santos, mais 48. E o total de meses fica semelhante ao número de minutos de uma partida de futebol: 96.

Estamos em maio, 5º mês do último ano do segundo mandato do prefeito João Paulo Papa. Falta pouco mais de sete meses. Se fosse futebol, o cronômetro do juiz estaria entre o 40º e o 41º minuto do segundo tempo. Finalzinho de jogo.

Será que é a hora mais adequada de lançar um Programa de Gestão de Qualidade do Serviço Público?

Pois o Proqualidade foi lançado com pompa e circunstância nesta semana.

A criação do programa tem o mérito indiscutível com que certas iniciativas tardias são saudadas:

“Antes tarde do que nunca”.

Mas será que isso representa alguma vantagem para o cidadão que paga impostos em Santos?

Se a gestão tinha qualidade duvidosa, ou pelo menos abaixo da possível, como dá para deduzir do nome do Proqualidade e dos discursos da cerimônia de lançamento, o programa não deveria ter sido lançado antes?

Será que houve demora para essa percepção? Será que a articulação do tal programa é que consumiu esse tempo todo? Será que a negociação com a Usiminas para estabelecer um convênio de cooperação para obtenção da certificação ISO é que foi arrastada?

Algumas pessoas que observam a política regional analisaram que no campo do marketing o lançamento traz uma aura negativa. Porque acontece num momento muito errado justamente por isso: dá a idéia de que a gestão tinha defeitos que deveriam ter sido consertados antes.

Tem também um componente político que torna o lançamento atrasado desse programa ainda mais incompreensível. É que em outubro vai haver eleição. Em janeiro, administração nova. Com uma visão de qualidade na gestão que pode ser diferente dessa que está sendo trabalhada pelo Proqualidade.

Voltando ao futebol, em time que está ganhando não se mexe…

Acampamento na porta da fábrica

Os trabalhadores da MD Papéis, em Cubatão, estão acampados no terreno da indústria. A cena pode parecer anacrônica neste período posterior ao diagnóstico de “fim da História”, estabelecido por Francis Fukuyama em 89, depois da Queda do Muro de Berlim. Luta de classes em 2012? Uma luta de Dom Quixote contra os moinhos de vento? Mas, ao contrário da aparência, a situação é emblemática. Que resta aos trabalhadores, além desse protesto, como recurso de defesa de um emprego que dificilmente vai ser reposto?

Estão todos demitidos. A justificativa está no prejuízo acumulado: R$ 40 milhões nos pouco mais de 4 anos desde a aquisição da empresa pelos proprietários atuais, em 2007.

A Cia Santista de Papel, como é conhecida no litoral, está perto de se tornar centenária. Ou estava, pelo menos, até essa decisão de encerramento das atividades.

Os empresários dizem ter investido R$ 28 milhões nesse período sem obter retorno. Mas esses recursos não foram aplicados em modernização. Nem de processos, nem de equipamentos. As máquinas são antigas. Não podem ser chamadas de obsoletas porque ainda têm capacidade de produção. Mas não têm mais potencial para manter a empresa competitiva no mercado.

A impressão é a de que o esforço para recuperar a competitividade da indústria nesses pouco mais de 4 anos foi zero. Ideia fixa de fechar a fábrica.

A situação é de impasse.

A área onde está situada a Companhia Santista, na beira do Trevo de Cubatão, na Via Anchieta, dá água na boca de qualquer empresário.

Uma empresa de logística cairia muito bem ali. Um centro de distribuição…

Mas um projeto empresarial desse tipo vai ter de enfrentar muitos obstáculos. Porque a Prefeitura de Cubatão já publicou decreto tornando o terreno de utilidade pública e pode usar o direito de desapropriação.

Entre o esforço da Prefeitura para que a unidade não seja desativada e a movimentação dos empresários para a desativação, o acampamento…

Um registro: esse esforço da Prefeitura incluiu até uma negociação bem-sucedida com o governo federal para uma revisão das alíquotas de importação de papel. A idéia era dar mais competitividade à indústria nacional no atacado. E mais viabilidade à unidade da MD em Cubatão no varejo.

Dá o que pensar. Trabalhadores acampados como um grito de angústia no cenário do pólo industrial. E ouvidos surdos e insensíveis de empresários que talvez nunca tenham pisado o chão da fábrica…

Contramão

O episódio da MD não representa uma tendência no pólo industrial cubatense. Assim como no resto do Brasil, em Cubatão as oportunidades de negócios têm se multiplicado.

O Posto de Atendimento ao Trabalhador, por exemplo, liderou em 2010 o ranking de todos os PATs paulistas em contratações com carteira assinada.

E indústrias como Carbocloro, Usiminas e Engebasa mantém conversações com as autoridades municipais sobre projetos de ampliação.

Outro investimento significativo é o da Vale na ampliação do terminal portuário. Que já passou pela audiência pública de licenciamento ambiental.

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