Blog do Paulo Schiff

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A novela e o toque de recolher

O ex-presidente Lula disse que os brasileiros estão mais preocupados com a situação do Palmeiras do que com o julgamento do mensalão.

E alguém, não lembro quem, disse que o verdadeiro toque de recolher na Baixada Santista não é o do crime organizado mas sim o da novela Avenida Brasil.

Os dois têm e não têm razão ao mesmo tempo.

Hoje durante o dia, era mais frequente ouvir zoações e comentários relativos à permanência do Palmeiras na zona de rebaixamento do que referentes à turma de José Dirceu, definida pelo relator do mensalão no Supremo como quadrilha.

Também é verdade que na maior parte das conversas fiadas as desventuras e crueldades da Carminha da novela ocupam mais espaço do que a guerra não-assumida pelo governo estadual entre polícia e PCC.

A comparação não desmerece a importância nem do julgamento da corrupção nem da preocupação com a violência.

Só gente paranóica fica o tempo todo com uma coisa só martelando na cabeça.

O país todo está antenado no julgamento do mensalão. O combate à corrupção é prioritário na agenda dos brasileiros. E isso é facilmente verificável pelo espaço que os escândalos ocupam nos meios de comunicação, pelas vaias que os acusados recebem quando arriscam aparecer em público, pela mobilização pela Lei da Ficha Limpa.

O futebol tem o espaço dele. Que mais de uma vez já foi definido pelo jornalista Milton Neves como “a mais importante das coisas menos importantes”.

A novela prende muita gente em casa. Por opção. Positiva. Porque conquistou o interesse. O toque de recolher, ao contrário, inibe a vida do cidadão. Por medo. Afeta o direito de ir e vir garantido na lei e do qual as autoridades que negam a realidade deveriam ser justamente as guardiãs.

Os crimes da Carminha são da ficção. A violência do crime organizado é real.

Mesquinhez política

Luciano Batista (PSB) recebeu o diploma de deputado estadual na semana passada. Assumiu o mandato. Luciano teve 52 300 votos em 2010. Uma façanha. Quase um milagre. Porque fez a campanha toda com uma espada no pescoço: o registro da candidatura ameaçado pela Lei da Ficha Limpa. Problemas desse tipo quase sempre provocam derrotas nas urnas.

Você, eleitora / eleitor, pode simpatizar ou não com o deputado vicentino. Mas é forçoso reconhecer que ele perdeu 1 ano e 4 meses do mandato por uma baita injustiça. Que já foi descrita neste espaço do DL mais de uma vez nesse período.

Como presidente da Câmara de SV no período 2001-2004, ele recebeu salários acima do que a Constituição permite. Só que esses salários tinham sido estabelecidos por lei pela Câmara anterior, em dezembro de 2000, e nessa época Luciano Batista não era vereador. Quando o Tribunal de Contas apontou a irregularidade, ele devolveu o dinheiro com correção. Portanto sanou a ilegalidade que não tinha provocado.

A cruzada pelos tribunais eleitorais que começa depois da eleição e só termina agora é bastante reveladora dos bastidores do judiciário e dos partidos políticos.

Advogados que circulam pelos tribunais superiores dizem que Luciano Batista só recuperou o mandato porque o caso caiu, no TSE, nas mãoo do ministro Marco Aurélio de Mello, inacessível a lobistas e rigoroso na análise dos fatos.

Todo tipo de recurso jurídico já tinha sido utilizado, com sucesso, pelo suplente que ocupava a vaga, Orlando Bolçone, do PSB lá de São José dos Campos. Esse tempo todo, quase metade do mandato, é produto de pedidas de vistas, recursos acolhidos, adiamentos etc..

O segundo aspecto, também impressionante, é o político. Luciano Batista diz que se sentiu, nessa luta, completamente abandonado pelo partido. Aí é que a coisa pega. O partido é presidido por Márcio França, deputado federal que também é vicentino.

Ainda que os dois mantenham rivalidade na política de São Vicente, esse abandono não poderia ter acontecido. Porque o mandato de deputado estadual é extremamente importante não só para São Vicente como também para toda a região.

Se houve realmente esse abandono apontado pelo por Luciano Batista, trata-se de caso agudo de mesquinhez política.

Lei Grecin

O articulista Marcelo Coelho acha que haveria “um grande passo para a evolução política se, ao lado da Ficha Limpa, viesse a Lei Grecin, tornando inelegíveis os usuários do produto.”

Sábia observação. Lembro de uma discussão política lá das antigas, ainda no século passado, em que um deputado disse ao outro:

“Excelência, que valor tem a palavra de alguém em quem não se pode confiar nem na cor dos cabelos?”.

Na época pegou mal para o acusado de tingir as mechas. Mas de lá para cá as excelências com cabelos inconfiáveis se alastraram que nem praga.

Tem mesmo um efeito estranhésimo olhar para um político de cabelo acaju, tom de tintura preferido por 9 de cada 10 pilantras da política.

O problema que se apresenta em relação a essa saudável idéia de uma Lei Grecin é a regulamentação dela. Muito complexa.

Mulheres, por exemplo. Quase todas as maiores de 40 pintam. A lei valeria só para homens? Seria uma discriminação. A Lei Grecin, se extensiva às mulheres, praticamente eliminaria a participação feminina na política… Dilma não poderia se reeleger.

Isso levanta outra questão. A lei teria efeito retroativo? Ou seja, quem já usava tintura antes poderia continuar? Sarney está acaju desde o tempo dos faraós…

E já que se falou em Sarney: bigodes também devem ser incluídos na Lei Grecin? A regulamentação tem de ser cuidadosa. Estamos lidando com políticos. Proibiu bigodes, eles vão usar costeletas, cavanhaques… tudo grecinizado.

Tem também o caso dos que pintam o cabelo por outros motivos. Surfistas parafinados, seguidores das manias do Neymar… Será que a lei deveria permitir pinturas que não se destinam à torpe finalidade de mascarar a a idade? Abre um precedente perigoso. Alguns casos certamente chegariam ao Supremo. Onde, por sinal, também tem simpatizante de uma tinturazinha de cabelo…

E o mais importante: a Lei Grecin, para o bem da nação, deveria ser rigorosa com cabelos transplantados. Proibição absoluta. Transplantou, cassação perpétua de direitos políticos. É o mínimo para esse atentado hediondo ao bom-gosto.

Pena que a chance de aprovação no Congresso de uma lei dessas é nula: seria a extinção do PMDB. 

Interferências do governo no dia a dia

Algumas decisões de governo parecem distantes nas reportagens do telejornal. Aumentos ou reduções de taxas de juros. Substituições de ministros. Lei da Ficha Limpa… Tem outras, entretanto, mais raras, que afetam diretamente o cotidiano das pessoas.

Esta semana está recheada dessas últimas, as que interferem no dia a dia.

Começa com a regra que vale a partir de hoje dos supermercados não fornecerem mais as sacolinhas de plástico. As sacolas estão incorporadas ao dia a dia. Têm dupla utilidade. Levam as compras para casa e embalam o lixo. Hábito consolidado. A interferência do governo de SP parece indevida. Seria muito mais fácil dar destinação adequada a elas na reciclagem do lixo. Mas o governo preferiu eliminar as sacolinhas, interferir no costume da população e dar uma rendinha a mais para os pobres supermercados.

Outra interferência acontece na hora de bater o ponto. Nas empresas com mais de dez funcionários, o equipamento agora tem de imprimir boletozinhos com o horário de entrada, de saída e de intervalo. Pelo menos 4 papeletas a mais por dia para guardar. Quando alguém precisar delas (se um dia precisar!) ou não vai saber onde guardou ou elas vão estar apagadas pelo tempo, como acontece com os comprovantes emitidos pelas máquinas de cartões. O presidente da Confederacão Nacional da Indústria disse na televisão que as empresa vão gastar R$ 6 bilhões na compra desse equipamentos que a lei passou a exigir.

Uma terceira interferência é na tarifa das ligações dos celulares. Essa ainda não está decidida. Mas o governo quer proibir os descontos que as operadoras dão para ligações dentro da própria rede. O usuário se adaptou. Tem um telefone de uma operadora e um segundo de outra para aproveitar os descontos. Liga de Vivo para Vivo e de Claro para Claro. O número celulares com dois chips explodiu. Agora vem a interferência. Quem garante que as tarifas não vão ser unificadas pela mais cara, a sem desconto, apesar da competição?

Pais e mães mais antigos orientavam os filhos a não se meterem onde não eram chamados…

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