Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

Arquivo para a tag “Rádio Mix”

Antiquiquíssimo

O advogado Rodrigo Marsaioli, um dos comentaristas do Jornal Litoral, da Rádio Mix, gosta de usar de vez em quando palavras que já não fazem mais parte do dia a dia. “Serelepe” para definir alguém agitado ou “portentosa” para qualificar alguma coisa grandiosa.

Um ouvinte, Paulo Maurício, nesta semana sugeriu algumas dessas expressões em desuso para o Rodrigo: “estupefato” para espantado, “apoteótica” para um grand finale e “prevaricação” para as maracutaias.

Trata-se de um fenômeno interessante esse da entrada e saída das palavras do vocabulário do cotidiano.

Na década de 60, a turma da Jovem Guarda comandada por Roberto Carlos popularizou expressões como “é uma brasa” para definir coisas boas e “mora” com o significado de “percebe”.

Hoje, as pessoas que chama as outras de “bicho” traem a linguagem dos anos 70.

E por aí vai.

Grandes poetas, como Carlos Drummond, sempre tiveram a capacidade de modificar a linguagem de sua época. “E agora José?”, “tinha uma pedra no meio do caminho” e “… se eu me chamasse Raimundo seria uma rima e não uma solução”

são só algumas delas.

Nestas últimas décadas tem sido os nomes de filmes, a publicidade da televisão e o jargão dos esportes, principalmente o futebol que têm desempenhado essa função.

Missão Impossível”, “ET”, “cartão vermelho”, “gol de placa”, “tiozinho da sukita”, “não é nenhuma brastemp” são só alguns exemplos.

Algumas palavras voltam da tumba. Vão para o arquivo morto por um período e depois ressurgem com um hiato de gerações. É o caso de “bacana”.

Outras nunca mais, como “brotinho” e “pequena”.

Algumas traduzem o clima da época. “Sabe com quem está falando?” definia a prepotência da época da ditadura militar no Brasil.

Não passou tanto tempo assim. Trinta anos. Mas esse “sabe com quem…” parece, como se dizia no século passado “antiquiquíssimo”.

Mega-lambança de carreta

Faz algumas semanas, o assunto aqui neste blog foi o de uma carreta carregada com material de construção que provocou uma quizumba no trânsito do Canal 3, em Santos. Primeiro foi uma tentativa – desdobrada em várias etapas angustiantes para quem ficou no congestionamento provocado por ela– de tentar a conversão da Rua Luiz Suplicy para a avenida Washington Luiz, a do Canal. Depois, o capítulo mais grave: o motorista tentou fazer uma conversão em U na ponte em frente à Rua Luiz de Faria e a carreta entalou. Ocupava a ponte toda e mais três pistas de rolamento do Canal 3. Se avançava, obstruía completamente o sentido praia-Centro e deixava uma pista livre do outro lado. Quando engatava uma rezinha, vice-versa.

A tragicomédia se desenrolou por mais de meia hora sem a presença de nenhum agente da CET, a Companhia de Engenharia de Trãnsito. Não presenciei o desfecho que deve ter sido um recuo na contramão na Luiz de Faria.

Lembrei desse episódio ontem. Em São Vicente, a lambança do motorista de Santos foi superada em non sense. Com folga.

Um monstrengo com pouco mais de 86 metros de comprimento e cerca de 5,5 metros de largura e sabe-se lá quanto de altura invadiu indevidamente e surrealisticamente duas das três faixas da Avenida Antonio Emmerich. E ponto. Ficou lá. O pessoal do trânsito vicentino fez de tudo para tentar uma operação retirada durante o dia. Mas não foi possível.

Um trambolho.

De manhã cedinho um motorista de ônibus ligou para a Rádio Mix reclamando. No final da tarde um motoqueiro retirou os cavaletes que estavam do lado da carreta e permitiam a passagem de apenas um carro de cada vez, para que as motos passassem junto.

Os dois episódios mostram que a formação de efetivos dos organismos de trânsito com a multiplicação de agentes nas duas cidades nos últimos anos deixou alguns buracos negros.

Não tem sentido coisa desse tipo acontecer na época atual.

Missão para os novos prefeitos.

Mais que pirraça, menos que vingança

Uma ouvinte da Rádio Mix, na semana passada, reclamou do lixo eleitoral em São Vicente. Muitos santinhos de candidatos no chão. Ela estava com medo de que a chuva chegasse antes das varredoras. Isso porque a montanha de papel sempre coloca um fator da agravamento nas inundações em função do entupimento de bueiros e bocas-de-lobo.

O curioso na manifestação da ouvinte é que ela pergunta se essa negligência da Prefeitura poderia ser uma picuinha do Márcio França, ressentido com a derrota eleitoral do filho.

A palavra picuinha já carrega uma conotação bem-humorada. É mais que pirraça e menos que vingança. Tem alguma coisa de mesquinhez. Mas ainda mais engraçado é o fato de que o prefeito de São Vicente, que poderia estar com essa suposta picuinha, é Tércio Garcia e não Márcio França, que é deputado federal.

Da safra de prefeitos que encerram mandatos neste final de ano na Baixada, três se elegeram sem nunca ter sido candidatos a nada antes, impulsionados por prefeitos fortes que não podiam mais se reeleger. Tércio Garcia é um deles. Sucedeu justamente Márcio França na eleição de 2004 e depois se reelegeu em 2008.

Os outros dois são João Paulo Papa, de Santos, que disputou as mesmas eleições de Tércio, e Roberto Francisco, de Praia Grande, que era chefe de gabinete de Alberto Mourão e se elegeu sucessor dele em 2008. Papa era vice de Beto Mansur e foi apoiado por ele.

A ouvinte que levantou a suspeita de picuinha, parece acreditar que quem continuou mandando em São Vicente, mesmo com Tércio prefeito, era Márcio França. Muita gente pensa dessa maneira.

Em Praia Grande, acontece coisa parecida. O advogado Roberto Mohamed disse outro dia que Roberto Francisco se elegeu para guardar lugar para Alberto Mourão.

Na verdade, Garcia e Francisco têm perfis mais discretos e técnicos e assim marcam menos a própria presença.

É interessante observar que em Santos aconteceu fenômeno inverso. O prefeito Papa se afastou do padrinho político Beto Mansur. Buscou ganhar luz própria. Até as realizações de Mansur passaram a ser percebidas pelo público como sendo de Papa. Tanto que o ex-prefeito usou a estratégia de lembrar ao eleitor, na propaganda eleitoral, que essas obras eram na verdade dele.

Não deu certo. Mansur saiu da eleição com uma derrota acachapante. Mas tem um consolo: se houver desleixos da Prefeitura de Santos, daqui até o final do ano, ninguém vai suspeitar que seja picuinha dele.

A inteligência do público

Exercer o jornalismo nestes tempos de interatividade é um privilégio. As oportunidades de aprendizado se apresentam a cada momento. Este texto presta uma homenagem a leitores, telespectadores, ouvintes e internautas. Ou seja: ao público dos meios de comunicação: emissoras de rádio e de televisão, portais da internet e veículos impressos – jornais como o DL, revistas e este blog.

Vamos usar como gancho (em jornalismo é a palavra que se usa para designar o fato que justifica a reportagem) duas participações de ouvintes da edição de ontem, sexta-feira, do Jornal Litoral, da Rádio Mix FM.

A primeira veio do ouvinte Márcio Andrade, do bairro do Embaré, em Santos. O assunto que estava sendo abordado era o da suspensão da punição da Anatel, que só durou 11 dias, às operadoras de telefonia celular Oi, Tim e Claro.

Márcio disse que “Estava na cara que as operadoras suspensas retomariam as vendas logo. Dia dos Pais chegando, com certeza elas pressionariam e não teriam esse prejuízo”.

Ouvinte antenado e insight esperto. Datas como o Dia dos Pais, o das Mães e o Natal são utilizadas como carros-chefes das operadoras para fazer bombar a venda de celulares. E a punição suspensa dá pistas de algum tipo de pressão – sabe lá Deus de que tipo!

A outra participação bem sacada veio do ouvinte Demerval Silva, de São Vicente – Divisa. O tema que estava sendo comentado no jornal era o da nova regulamentação da atividade dos motoboys e moto-táxis.

Demerval mandou a seguinte observação: “ A pessoa que reclama dos motoboys no trânsito é exatamente a mesma que quer a pizza chegando bem rapidamente e quentinha. Essa exigência de rapidez criou os motoboys afobados e metidos a besta”.

Ou seja: a comunidade é responsável pela multiplicação de motoboys dirigindo de maneira apressada e estabanada. Mais ou menos como o vínculo viciado-traficante tão bem explicitado nos filmes Tropa de Elite 1 e 2 e o o do receptador com o ladrão. Sem estes, não existem aqueles.

No bom-senso e na lucidez das observações do Márcio e do Demerval, uma amostra da inteligência e da criatividade que fluem para quem tem o privilégio de trabalhar em jornalismo em contato direto com o público.

Desproteção

Duas perguntas básicas de ouvintes do Jornal Litoral, da Rádio Mix, nesta semana. Foram feitas pelo telefone:

  1. Até quando vamos conviver com mortes e ferimentos em crianças e adolescentes em brinquedos por descuido com manutenção e falta de fiscalização?

  2. Por que todo mundo sabe que assaltos a motoristas são realizados na Imigrantes, nos semáforos do trecho urbano de São Vicente, e na Anchieta, perto da divisa Santos-Cubatão e nenhuma ação preventiva é adotada?

As duas questões são irrespondíveis.

No primeiro caso, são duas mortes só neste mês de julho. Uma garota de 4 anos morreu depois de ser atingida por uma viga de sustentação de um balanço de playground, em um hotel de luxo em Águas de São Pedro. David Meira, de 19 anos, jogador de basquete, morreu na semana passada em Brasília, como consequência dos ferimentos provocados pela queda de uma tabela de basquete sobre ele num treino. Se a gente somar a morte da adolescente Gabriella Nishimura, de 14 anos num brinquedo do Hopi Hari, em Vinhedopor falha da trava de segurança em fevereiro…

Falta manutenção de um lado e rigor na fiscalização de outro.

Quanto aos assaltos, qualquer pessoa que mora nas cidades da Baixada tem uma história para contar daquele ponto da Anchieta entre Santos e Cubatão ou dos da Imigrantes em São Vicente. Qualquer pessoa… É só perguntar. Todo mundo sabe que o perigo mora ali.

Ora, a Polícia Militar diz que as ocorrências são todas mapeadas em relação a lugares e horários. Então porque não são executadas ações que impeçam – ou pelo menos inibam – a ação dos bandidos? E a Ecovias? Na hora de cobrar pedágio é rigorosa. Na hora de proteger o motorista…

Um mistério.

Nos dois casos fica o sentimento de desproteção do cidadão que paga impostos para ter a fiscalização da manutenção dos brinquedos e equipamentos e garantia de segurança para exercer o direito constitucional de ir e vir.

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