Em 2011, na Baixada Santista e no Vale do Ribeira, foram registrados 147 roubos de cargas pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Litoral Paulista – Sindisan. A média é de 12 por mês, um assalto a cada dois dias e meio.
O número se refere exclusivamente a cargas de alto valor econômico, como as transportadas por contêineres. Açúcar e café estão entre as preferências de quadrilhas altamente especializadas nesse tipo de ação, especialização essa que dificulta muito a ação das polícias.
Outros roubos de carga, menores, apenas parciais ou então não envolvendo o veículo, são ainda mais numerosos: 217. O total de ocorrências na região em 2011, abrangendo os dois tipos, é de 364, um por dia.
Em maio deste ano, o número total de casos praticamente dobrou em relação ao ano passado: de 21 em maio/2011 para 40 em maio/2012. Uma luz vermelha está acesa.
Quando a carga é escondida e os assaltantes têm paciência para esperar uma ocasião favorável para entrega ao receptador, a recuperação fica quase impossível.
O assunto tem mobilizado as entidades sindicais de transportadoras e de motoristas, além das polícias civil e militar para discussão de procedimentos de prevenção.
Mesmo assim todas as rodovias da região, importantes porque dão acesso ao Porto de Santos, têm registrado roubos bem-sucedidos: Anchieta, Imigrantes, BR-116, Padre Manoel da Nóbrega e Cônego Domenico Rangoni.
Uma alternativa que merece atenção dos envolvidos nessa questão é a da tecnologia. No Departamento de Automação de Sistemas Elétricos e Portuários da Escola Politécnica da USP está sendo gestado o programa Cadeia Logística Segura. Cargas como remédios, carne e combustíveis já têm soluções técnicas para rastreamento tecnológico encaminhadas.
Entre todos os instrumentos utilizáveis, esse rastreamento tecnológico parece ser o de maior potencial para desencorajar as quadrilhas.
Frete ferroviário descolado do custo
Outro solução logística que está recebendo impulso da pesquisa científica é a do frete ferroviário. A pequena extensão da malha ferroviária brasileira, a falta de concorrência empresarial nos percursos e a omissão governamental provocaram uma situação anômala no Brasil: o frete ferroviário descolou dos custos e passou a ser balizado pela concorrência com o rodoviário.
O mecanismo é de simples entendimento: as empresas ferroviárias, em muitos e muitos casos, cotam o preço do transporte por caminhão e fazem uma redução de 10 a 20% em relação a essa tarifa que não tem nada a ver com a da ferrovia.
Um estudo realizado com um simulador pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo revelou que no Estado do Paraná as tarifas do transporte ferroviário estão num patamar 70% acima do custo estimado.
Açúcar, soja, milho, farelo de soja, etanol e fertilizantes tiveram aproximadamente 200 rotas no estado paranaense analisadas.
Se uma pesquisa desse tipo for realizada nas rotas ferroviárias de acesso ao Porto de Santos, os resultados certamente vão ser parecidos. Ou ainda piores.
Para aproximar a tarifa do custo, só com políticas públicas, observa a economista coordenadora do grupo da Luiz de Queiroz, Priscila Biancarelli Nunes.