Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

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Serra e Neymar

Um copo com água pela metade. Nada mais banal e cotidiano. Pois uma parte das pessoas tem uma visão: a de um copo 50% cheio. E outra parte vê o copo meio vazio. As duas visões têm significados idênticos. Mas são diferentes e, às vezes, até confrontantes e conflituosas. Depende da sede… Só para dar o crédito: a primeira pessoa que vi expressar esse conceito foi Yoko Ono, a viúva do beatle John Lennon.

Se é assim com o copo, assim é com José Serra, o tucano que parece chegar a um melancólico final de carreira com a derrota desse domingo em São Paulo.

Um jornalista tucano definiu com perfeição: Serra tem ótimos atributos mas uma carreira com péssimas atitudes. Inteligência poderosa, ótima capacidade de gestão, Serra é o ministro dos genéricos e da quebra de patente dos medicamentos contra a Aids, entre outras realizações. Foi um dos principais mentores do excelente governo Montoro em SP. Mas a antipatia, uma dose de arrogância e as renúncias à prefeitura e ao governo estadual para concorrer a outros cargos fizeram com que ele perdesse para ele mesmo.

E se é assim com o copo d´água e com o candidato tucano, assim também é com Neymar. Craque excepcional? Sim, já demonstrou com sobras em campo. Comparável a Pelé e a Garrincha, embora ainda esteja no início da carreira. Maior que Zico, Romário e Ronaldo, provavelmente. Mas questionado porque ainda não jogou em outros países. Precisa?

Questionado também nesta semana porque reclamou que os companheiros, muitas vezes, ficam estáticos, esperando que ele resolva a jogada – e o jogo – sozinho. Futebol é coletivo. Se os adversários cercam ele com três e dão pancada, como tem acontecido, os companheiros ficam com marcação mais frouxa. Às vezes Neymar consegue mesmo resolver sozinho. Mas na maior parte das partidas, não. Mesmo assim tem torcedor que em lugar da gratidão pelo futebol e pela dedicação fora de série, acha que ele TEM que resolver sozinho pelo que ganha.

Meio cheio ou meio vazio?

Progresso eleitoral

Teve início a temporada de ataques eleitorais. Quem estaciona nas pesquisas quer avançar. Quem está perdendo eleitores quer estancar a sangria. E aí começam a ser lembrados os telhados de vidro dos adversários. Principalmente dos que estão na frente.

Em São Paulo, Serra associa Haddad aos réus do mensalão. Em Santos, o prefeito Papa aparece bravo no programa eleitoral, com uma expressão facial muito diferente da que mostrou durante todos esses anos.

Diz uma regra antiga que na política, ao contrário do futebol, o ataque não é a melhor defesa. Quem agride normalmente perde votos.

Acontece que à medida que a data da eleição se aproxima, o desespero vai batendo.

Li um artigo interessante nesta semana que dizia que muita gente confunde esse momento eleitoral de pesquisas estabilizadas como marasmo ou como tendências já definidas. E que na verdade este é o momento em que o eleitor está amadurecendo a decisão.

Conheceu melhor os candidatos. Percebeu com clareza com que outros personagens da vida pública cada um deles é ligado. Agora é o momento da reflexão e da decisão.

Se justamente nessa hora o candidato ou o padrinho dele aparece desequilibrado e destemperado, o feitiço pode virar contra o feiticeiro.

Muita gente reclama do processo eleitoral. Que faltam propostas. Que o horário gratuito é chato. Que os discursos são escritos pelos marqueteiros. Mas a verdade não é bem essa. O progresso nesse campo nos últimos anos é fantástico. O eleitor passou a ter acesso às declarações de bens dos candidatos, aos processos que ele enfrentou e a quanto e de quem ele recebe doações na campanha.

O eleitor amadureceu e a legislação acompanhou: Lei da Ficha Limpa, Lei de Acesso a Informações Públicas.

Muita gente não percebeu. Mas o tempo dos xingamentos eloqüentes e das promessa vazias está ficando para trás.

Serra em SP e Serra em Cubatão

José Serra, mais uma vez, disputa a Prefeitura de São Paulo pelo PSDB. Nei Serra, mais uma vez, disputa a Prefeitura de Cubatão. Desta vez, pelo PSDB.

O de São Paulo fez que foi, não foi e acabou “fondo”. Primeiro não queria a candidatura. Depois quis. Resultado: mesmo com todo o recall das muitas e muitas eleições, ganhou apertado na prévia do PSDB de gente bem menos conhecida: José Aníbal e Ricardo Trípoli.

O de Cubatão andou desaparecido do cenário, mas mesmo assim apareceu na pesquisa interna do partido na frente do outro pretendente também bem menos conhecido: Arlindo Fagundes Filho, o vice-prefeito atual.

José Serra, aos 70 anos, não demonstra grande entusiasmo pela candidatura. Definiu no final de semana como um “papelzinho” o compromisso registrado em cartório antes das eleições de 2004: o de que não renunciaria à Prefeitura para ser candidato a presidente. Não cumpriu. Renunciou para ser candidato a governador. E ganhou.

Nei Serra, aos quase 70 anos que completa em maio, também não parece muito entusiasmado com o palanque de 2012. Primeiro que já ocupou a Prefeitura três vezes no passado. E segundo que vem de eleições seguidas em que é obrigado a lutar na justiça contra impugnações da candidatura.

José Serra sai na frente na corrida eleitoral paulistana em todas as pesquisas de intenção de voto. Mas enfrenta um candidato do PT, Fernando Haddad, e outro do PMDB, Gabriel Chalita, que têm a tendência de crescer na campanha.

Nei Serra, segundo a Rádio Peão, venceu uma pesquisa em que nem ele nem Arlindo, somados, chegaram aos 50% de preferência dos tucanos como candidato do partido. E enfrenta uma prefeita do PT, Marcia Rosa, bem estruturada para a reeleição.

Dois candidatos em situações completamente diferentes.

Mas com uma semelhança dramática, além do nome, da idade e do partido: traduzem a falta de renovação de lideranças políticas do PSDB em São Paulo e em Cubatão.

Quanto mais explica…

…mais complica. A entrada de José Serra (PSDB) virou de cabeça para baixo a disputa eleitoral pela Prefeitura de São Paulo. Não pelo futuro resultado que não tem como ser previsto. Mas pelo comportamento das lideranças envolvidas, ainda mais imprevisível que as urnas.

O prefeito Gilberto Kassab (PSD) que vinha dançando dois-prá-lá-dois-prá-cá com o ex-presidente Lula (PT), abandonou imediatamente o par. No minuto seguinte já estava rodopiando de rosto colado com Serra pelo salão.

Como pode? PT e PSDB não estão nos pólos políticos mais opostos do país? Kassab nem liga para essa polaridade. Vai da eletricidade negativa para a positiva sem arrepiar nenhum fio de cabelo. Agora dá para entender melhor a definição surrealista do partido (PSD) criado por ele: “Nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”.

A reação do pré-candidato petista tem dose equivalente de non-sense: “Vamos apresentar um plano de mudança”. Tradução: discurso de oposição. Ou seja: com o apoio do prefeito, Fernando Haddad se apresentaria como o candidato da situação. Sem a aliança, uma varinha mágica transforma Haddad em candidato oposicionista.

Como pode? O PT aprova ou reprova a gestão kassabista?

Nenhuma lógica explica o comportamento dessas duas figuras e desses dois partidos. Kassab e o PSD não apoiariam nenhum dos pré-candidatos que disputariam as prévias tucanas: Bruno Covas, Andréa Matarazzo, José Aníbal e Ricardo Trípoli. Abraçariam Lula e o PT. Mas pulam alegremente para o barco do PSDB se o piloto for Serra. E Haddad e o PT, sem Serra na disputa, adotariam o discurso de falar bem da gestão Kassab. Agora decidiram que vão cair de pau.

A novela tem ainda outro elemento para confundir a cabeça do eleitor. Serra, se ganhar, fica na Prefeitura até o fim de 2016 ou renuncia em 2014 para virar presidenciável com fez em 2006 com o mandato conquistado em 2004?

Quanto mais explica, mais complica.

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