Blog do Paulo Schiff

Ideias e Opiniões sobre o cotidiano.

Arquivo para a tag “Paulo Barbosa”

2013

Você é pessimista ou otimista? A Poliana do livro de cabeceira das adolescentes do século passado ou o Hardy do desenho animado, aquele do “Ó Vida, Ó Azar”?

Se você olha tudo com lentes cinzentas, tem motivos para um olhar sombrio para o 2013 das cidades da Baixada Santista. Afinal, as lendas urbanas mais antigas continuaram no papel em 2012: aeroporto metropolitano, ligação seca Santos-Guarujá, Veículo Leve Sobre Trilhos, anel viário no entroncamento Anchieta / Cônego Domênico Rangoni em Cubatão. E algumas mais recentes também não decolaram: arena do Santos, Museu Pelé, viadutos no trecho em que a Imigrantes corta a área urbana de São Vicente…

Além disso, problemas crônicos caminharam para patamares de agudeza, principalmente a mobilidade urbana estrangulada nas divisas entre Santos e São Vicente, nas entradas de Santos e de Praia Grande, no trevo de Cubatão…

… e as torres de mais de 30 andares que começam a ameaçar a tradicional qualidade de vida da região. Algumas vão projetar a sombra sobre a praia…

O que saiu do papel e dá munição para os otimistas é a construção da sede da Petrobrás no Centro Velho de Santos e as obras da Embraport e da Brasil Terminais que ampliam a capacidade de movimentação de cargas do Porto de Santos. O Programa Onda Limpa, da Sabesp também evoluiu e abre perspectivas de praias mais próprias para o banho de mar no ano que vem e nos próximos.

Se você prefere as lentes cor-de-rosa, vai perceber que houve também evolução política. As eleições deste ano enxotaram do poder dois esquemas de 16 anos que tinham caído em marasmo absoluto em Santos e em São Vicente. Paulo Alexandre, em Santos, vem cheio de gás e articulação. Bili injeta sangue novo em São Vicente.

As administrações municipais de Guarujá e de Cubatão, com Maria Antonieta e Marcia Rosa enfrentaram problemas e desgastes. Mesmo assim, a população não caiu na tentação de voltar a um passado que não deixou nenhuma saudade.

Será que 2013 vai deixar no coração da gente, no futuro, essa saudade?

O governador e a ameaça de colapso viário na Baixada Santista

Uma olhadinha rápida na lista de prefeitos eleitos nas 9 cidades da Baixada Santista leva a uma conclusão evidente: o governador Geraldo Alckmin, que já era forte na região, multiplicou a musculatura.

São três prefeitos do PSDB e dois do DEM. Pelos tucanos, Paulo Alexandre Barbosa, em Santos, Alberto Mourão, em Praia Grande e Marco Aurélio, em Itanhaém. Pelos demos, como diria o ex-presidente Lula, Mauro Orlandini, em Bertioga e Paulinho Wiasovski, em Mongaguá.

Estes dois últimos disputavam reeleições e portanto carregavam uma certa dose de favoritismo. Já os três tucanos tiveram vitórias eleitorais expressivas.

Paulo Alexandre conquista o primeiro mandato executivo. É importante observar que é a primeira vez, também, depois de cinco tentativas, que o partido do governador vai administrar Santos.

Alberto Mourão torna-se o primeiro prefeito com 4 mandatos conquistados nas urnas na Baixada Santista.

E Marco Aurélio consegue manter a Prefeitura de Mongaguá com o PSDB depois de dois mandatos do também tucano Forssel.

Essa força política, que deve ajudar Alckmin em 2014, traz junto a responsabilidade de uma enorme expectativa.

Estão nas mãos do governador algumas decisões vitais, cruciais mesmo, para a região de Santos nos próximos anos.

Uma delas, a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos, espécie de metrô de superfície, vai definir se a região metropolitana se integra definitivamente ou se permanece com a atual desintegração do transporte coletivo e do sistema viário que martiriza moradores de uma cidade que trabalham, estudam e tem parentes ou namorados em outras, caso muito comum. A questão chega a ser bizarra. Santos e São Vicente, por exemplo são totalmente conurbadas. As divisas entre as duas cidades estão marcadas em ruas e avenidas, mudam tudo. O transporte coletivo vicentino é feito por vans que são proibidas de circular em Santos. Na Praia do Itararé, há uma motovia que termina abruptamente na divisa com Santos e por aí vai.

O túnel entre Santos e Guarujá é outra dessas decisões. A obsoleta travessia por balsas é uma das mais movimentadas do mundo. Transversal à entrada e à saída de navios do Porto, registrou pelo menos dois acidentes entre os dois tipos de embarcação nos últimos meses. O ex-governador Serra chegou até a inaugurar uma maquete de ponte na pré-campanha presidencial de 2010, mas até agora essa ligação seca entre as duas cidades ficou só na conversa. Fiada.

O Porto de Santos tem gestão federal. Mas os grandes problemas dele estão longe do cais, nos acessos ferroviários e rodoviários. Que dependem de recursos e iniciativas estaduais: a entrada de Santos, o trevo de Cubatão…

A questão é dramática. A frota de veículos das cidades da Baixada tem duplicado a cada seis anos. O número de caminhões ficou multiplicado por 2,5 nos últimos 15 anos, quando a movimentação de cargas saltou da casa de 40 milhões de toneladas para a de 100 milhões deste ano que pode se transformar em 250 milhões em 10 ou 12 anos. E o sistema viário permanece o mesmo, com raríssimas intervenções. Se vai haver colapso ou não, depende do governador.

A eleição e o Porto

Márcio França tem influenciado decisões federais relativas ao Porto de Santos desde 2007. É atribuída ao deputado federal nada mais nada menos que uma parte da responsabilidade pela criação da Secretaria Especial de Portos. Teria sido ele que soprou no ouvido do ex-presidente Lula a idéia. Articulado com as empresas de operação, foi um dos negociadores do Reporto na Câmara, isenção tributária para aquisição de equipamentos que alterou radicalmente o cenário tecnológico portuário  em Santos e também em vários outros portos do Brasil. O ex-prefeito vicentino também influenciou a escolha de nomes para a direção da Codesp nesse período. A SEP está com o PSB, partido dele, desde a criação. 

João Paulo Papa aproximou Porto e Prefeitura de Santos no período entre 2005 e este ano. Criou a Secretaria Municipal de Assuntos Portuários e Marítimos. Foi tão bem-sucedido nessa iniciativa que o secretário Sérgio Aquino se tornou presidente do Conselho de Autoridade Portuária. Quando Aquino se afastou da presidência do CAP, no primeiro semestre, para se tornar candidato a prefeito, Papa emplacou outro secretário no cargo: o de Planejamento, Bechara Abdalla.

As urnas de domingo desmancharam esses dois arranjos.

O grupo político de Márcio França perdeu a Prefeitura de São  Vicente e de Peruíbe e deixou de ganhar em Itanhaém, onde tinha certeza de vitória. As derrotas eleitorais dos candidatos do PSB, Caio França, Milena Bargieri e Marcelo Strama, aniquilaram a base regional do deputado.

O grupo de Papa também implodiu, pelo menos momentaneamente.   Sérgio Aquino, o candidato do prefeito teve votação pouco expressiva e foi derrotado já no primeiro turno.

É difícil imaginar que o novo prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, tenha há argumentos suficientes para colocar um aliado na cadeira da presidência do CAP. Tucano, próximo do governador Alckmin, é considerado adversário pela aliança PMDB-PT que está no governo federal.

Márcio França, reduzido ao mandato, e também mais próximo de Alckmin do que de Dilma, também perde espaço no cais.

Será que a peemedebista Antonieta, favorita no segundo turno de Guarujá, e a petista Marcia Rosa, reeleita em Cubatão, vêm aí?

Politização, polarização, evolução

Quem costuma jogar todas as fichas na despolitização, vai ter de rever conceitos. Quem continuar dizendo que no Brasil não há partidos políticos vai perder o tal bonde da história.

As eleições 2012 estão desvelando um amadurecimento rápido do eleitor brasileiro.

É verdade que ele demora a se conectar com a eleição. Reclama do horário eleitoral. Mas fica antenado. E está varrendo do mapa oportunistas, bandalhos e aventureiros.

A eleição de 2010 para o Senado em SP já tinha dado uma pista. O despolitizado e midiático Netinho foi atropelado na reta final pelo tucano Aloísio Nunes.

Coisa parecida está acontecendo em São Paulo com Celso Russomano. Chegou a uma liderança folgada no final de agosto e início de setembro. Mas nessas duas últimas semanas, quando o eleitor realmente decide, despencou. Como a eleição paulistana tem características nacionais, vale aí o bipartidarismo informal PT-PSDB. Que pode ser quebrado tanto por Russomano – se conseguir estancar a sangria de votos – como por Chalita, se conseguir aceleração máxima nessa chegada.

O que é importante aqui é observar a falta de pegada do discurso despolitizado. Ele funciona na mesa de boteco, em volta de uma cerveja. Mas vai se desmilinguindo à medida que se aproxima o momento de digitar na urna eletrônica.

A eleição de Santos também traz novidades. Telma de Souza e Beto Mansur tinham recall eleitoral forte no início da campanha. Mas sofriam de uma doença fatal para candidatos: esvaziamento político. Telma ainda se sustentou um pouco, a duras penas, com a sigla petista. Beto Mansur, mesmo com campanha caprichada, se desmanchou.

Fabião soube sair da frente do voto que ele mesmo define como  avalanche, de Paulo Alexandre e fermentou um pouquinho no final. Sai inteiro.

E o prefeito Papa, se as pesquisas se confirmarem e Aquino chegar mesmo em terceiro e sem segundo turno, vai dizer o quê para o PMDB nacional de Michel Temer?

Candidatos fabricados, como Aquino em Santos, ou duvidosamente reciclados, como Nei Serra em Cubatão, já tiveram vida eleitoral mais fácil na história recente.

A escolha da eleitora

Supermercado Carrefour de Santos no domingo na hora do almoço. Estou na fila do caixa. Um conhecido, já passando as compras, me chama pelo nome e pergunta se vai ter segundo turno na cidade. Ele está com a mulher. Respondo que embora parecesse improvável no começo da campanha, as pesquisas indicam agora que a eleição pode ser decidida já no primeiro turno. Mesmo com dois ex-prefeitos que se elegeram deputados em 2010 na disputa, Telma e Beto, e mais o candidato de um prefeito bem avaliado, Sérgio Aquino, Paulo Alexandre tem índices superiores aos da soma dos outros oito candidatos.

Entre o que pergunta e eu tem outras duas pessoas na fila. Uma delas, uma mulher, vira para trás, diz que me conhece porque o irmão, Francisco, estudou comigo no colégio e diz que vai votar no Aquino para ter segundo turno. Lembro do Francisco, pergunto dele. Está aposentado e não teve filhos.

Aí uma senhora, atrás de mim, diz que não gosta de se meter na conversa mas se mete. Diz que vai votar no Paulo Alexandre e que é bom mesmo que não tenha segundo turno para não ter de negociar apoio de partido nanico.

A da frente diz que não gosta de Paulo Alexandre porque ele fez umas emendas tortas para a saúde de Santos. A outra rebate: “As emendas ajudaram a Santa Casa”.

A primeira diz, com sabedoria, que política é que nem futebol: não dá para discutir. Pergunto de que time ela gosta: Santos. A senhora de trás também. Mas diz que está brava com a direção porque leva muitos jogos para São Paulo.

Uma pessoa conhecida liga para mim no celular. Começo a contar o episódio da fila, meio atrapalhado, passando as compras, segurando o celular com o ombro. A eleitora do Aquino pergunta meio brava para mim:

Com quem você está falando?”.

Vou para o estacionamento pensando, como o cientista Blaise Pascal, que eleitoras e eleitores têm razões para escolher candidatos (e também para avaliar administrações de clubes de futebol) que a própria razão desconhece.

Amanhã a gente termina essa conversa sobre escolhas eleitorais.

O voto-avalanche

Observadores da política de Santos – e até prefeituráveis adversários – começam a definir a tendência favorável a Paulo Alexandre Barbosa como voto-avalanche.

A palavra tsunami também tem sido utilizada. Cria-se num certo momento uma onda e a partir daí a candidatura não pára de crescer.

É evidente que tendências sempre são sujeitas a uma reversão.

Mas neste momento, a doze dias da eleição, reverter essa parece missão muito difícil.

O voto-avalanche se forma a partir de algumas premissas e provoca algumas consequências no ambiente político onde se desenvolve.

A bola de neve começa a se formar a partir de uma campanha bem planejada e bem feita e de um candidato que cai na simpatia da eleitora e do eleitor.

As pesquisas de intenção de voto aumentam a bola a partir do momento em que mostram aquela candidatura com chances de vitória ou até na liderança.

Muitos eleitores a partir daí se agregam porque gostam da ideia de votar no provável vencedor, de “não perder o voto”.

No caso de Santos, a possibilidade de resolver a questão já no primeiro turno ajuda a engrossar esse caldo.

Tudo isso forma a onda. Como a visibilidade do candidato que conseguiu esse efeito é altíssima, uma ação ou declaração desastrada pode quebrar o encanto. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o presidenciável Ciro Gomes na campanha de 2002, vencida por lula. Quando a onda favorável a ele estava formada, Ciro Gomes se referiu de maneira pejorativa e chula à mulher dele na época, a atriz de novelas Patrícia Pillar, dizendo que o principal papel de sua companheira em sua campanha era o de dormir com ele. Despencou nas pesquisas.

A principal consequência, se a onda cresce até a eleição, é o estrago que a campanha faz nos outros candidatos. A hemorragia de votos faz os adversários ficarem com muita dificuldade de enfrentamento. Aí são obrigados a adotar estratégias de sobrevivência política.

As contas de Beto Mansur

O texto publicado ontem neste espaço abordava a votação, na Câmara de Santos, das contas do exercício de 2003 do ex-prefeito Beto Mansur. O parecer de reprovação do Tribunal de Contas do Estado foi derrubado por 13 votos a 4. O comentário de ontem tinha dois pontos centrais:

1. A fragilidade institucional desse mecanismo de fiscalização, já que o parecer do TCE é técnico e a votação dele pela Câmara, política.

2. Alguns detalhes farsescos envolvidos na votação.

O resultado, entretanto, tem desdobramentos políticos bastante interessantes que também merecem ser comentados.

Quem se beneficia com essa consolidação legal da pré-candidatura de Beto Mansur à Prefeitura de Santos?

Os primeiros a comemorar foram alguns petistas. Alguns, vejam bem. Não todos. Comemoraram aqueles que apostam em mais uma tentativa prefeiturável da deputada Telma de Souza.

O raciocínio é simples. Numa eleição com quatro candidaturas fortes, Beto Mansur (PP) divide o mesmo espaço político com Sérgio Aquino (PMDB) e Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). Já na área de Telma de Souza (PT) não fica nenhum concorrente, em princípio, peso-pesado como esses três. Navegando quase sozinha, a passagem da petista para o segundo turno (ela nunca ficou de fora de nenhum) ficaria quase garantida. E ela poderia até tentar nessa segunda fase, uma aliança com o PMDB que já existe no plano federal. É lógico que em Santos há característica locais diferentes. Mas…

Paulo Alexandre, em vantagem na pesquisa, também poderia ser apontado como beneficiado. Se a tendência se confirmar, ele poderia usar no segundo turno o uniforme de anti-PT que ajudou muito Mansur e o atual prefeito nos três segundos turnos em que derrotaram Telma.

Mas é prematura essa avaliação. Primeiro porque Beto Mansur gosta de campanhas políticas e pode crescer e até conquistar a vaga. Segundo porque no terceiro mandato presidencial do PT, o anti-petismo em Santos está mais diluído. E terceiro porque a disputa acirrada no primeiro turno pode deixar seqüelas entre Mansur, Barbosa e Aquino que inviabilizem a união dos eleitores dos três contra Telma na fase decisiva.

Navegação de Posts