Blog do Paulo Schiff

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Escolhas

A vida é feita de escolhas. O dia começa assim: acordo ou durmo mais um pouco?

Na mesa, aqueles que brigam com a balança enfrentam dilemas terríveis todos os dias: como esse doce agora e começo a dieta só amanhã? Para o atleta que tem o objetivo de ser de ponta, a questão é a hora de parar a malhação:

Treino mais um pouquinho ou chega por hoje?”.

Tudo é escolha. Casar ou comprar uma bicicleta é só uma delas. Dizer o que penso para esse chefe desumano? Passar esse sinal que vai ficar no vermelho?

Nos desenhos animados essas indecisões às vezes são representadas por um anjinho soprando numa das orelhas e um diabinho na outra. Representação quase perfeita. Mas que não capta as nuances entre o sim e o não. O talvez…

Porque nem todas as decisões ficam tão claramente estabelecidas assim entre o bem e o mal.

Como já disse num verso o roqueiro Raul Seixas:

O início, o fim e o meio…”

Nem quente nem frio, nem vermelho nem azul, nem petista nem tucano.

Por falar em nem petista nem tucano, essa muitas vezes é uma opção apenas do primeiro turno. Você votou no PV ou no PSB, mas e aí, quando ficam só a Dilma e o Serra? Anula?

Nem tudo está em jogo numa decisão só. Geralmente a gente dramatiza diante dela. Parece que a vida está em jogo. Como na escolha de Sofia, que foi apresentada a uma questão com um conteúdo dramático insuportável: optar entre dois filhos qual deve seguir vivendo e qual deve ser sacrificado.

A sequência de escolhas é que determina a trajetória. Mesmo que em algumas você quebre a cara, o que é inevitável. Se tiver um foco, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Ou pelo lado. Ou por baixo. Mas continua… Começa de novo…

Quem escolhe sem ter noção de onde quer chegar se comporta como uma criança que brinca de cabra-cega, tentando alcançar os parceiros de brincadeira com os olhos vendados.

Quanto mais a pessoa está preparada em relação a uma questão, melhor para escolher… Esse é um dos fatores que confere importância vital à educação.

Mas esse é um outro assunto que fica para um outro texto.

A escolha de hoje foi a de conversar com você sobre… escolhas.

Candidatos à beira do ataque de nervos

O que aparece na superfície são cartazes, cavaletes, bandeiras, propagandas no rádio e na TV. Por baixo do pano, contratação de cabos eleitorais muitas vezes com intenção de compra de voto, aliciamento de líderes comunitários e de gente da comunicação, promessas de todos os tipos.

Hoje, são centenas de milhares de candidatos à beira de um ataque de nervos em todo o Brasil.

Para alguns, a eleição é a oportunidade de redenção. O mandato, um balcão de negócios. O que menos interessa é o bem-estar da comunidade. Para outros, movidos por idealismo e impulsionados por grupos sociais legitimamente organizados, amanhã é o dia em que a oportunidade de trabalhar por mudanças pode se materializar. Ou não.

Para todos hoje é véspera do Dia D.

Uma boa parte dos candidatos sabe exatamente que nota vão receber no boletim das urnas amanhã. As pesquisas já desvendaram as intenções do eleitor em relação a esses. Poucos esperam o milagre da multiplicação dos votos.

Para quem participa do processo como simples cidadão, algumas questões se apresentam.

Uma delas é entender o porquê do idealismo que a gente detectava em alguns candidatos no passado ter se dissolvido completamente durante o mandato. “Queres conhecer o vilão, dá-lhe o poder na mão” dizia o ex-prefeito de Santos Oswaldo Justo. Mas bem que essa regra poderia ter as exceções multiplicadas, não é?

Outra questão importante é o pega pra capar que se instalou nessa reta final das eleições aqui na Baixada. Uma verdadeira indústria de boatos se instalou com acusações falsas principalmente contra candidatos favoritos. Crimes eleitorais de todos os tipos foram cometidos inclusive em meios de comunicação eletrônicos. Depois das eleições é importante não esquecer que houve esses abusos. Coisa de bandido.

A escolha da eleitora – Final

Na terça-feira o assunto abordado aqui foi o dos mecanismos internos de cada pessoa que determinam a escolha do candidato. O texto surgiu a partir de uma discussão eleitoral de fila de supermercado.

Esse tema sempre me provocou muita curiosidade. Por que uma pessoa escolhe votar em determinado candidato e não num adversário dele?

A primeira vez que a minha geração votou para governador foi em 1982. Já vão lá 30 anos. Eram cinco candidatos. Votei em Franco Montoro e tenho orgulho desse voto. Na fase universitária aprendi a admirar Montoro e Ulysses Guimarães em função da luta pela reconquista da democracia.

Perguntei para a moça que trabalhava na minha casa em 82 em quem ela ia votar.

“Rogê Ferreira”.

Por que?

“Porque ninguém vota nele, ele está em último na pesquisa e eu fiquei com pena”.

Foi aí que comecei a me interessar por essa escolha. Trabalhava como engenheiro civil em obras nessa época. E perguntava para pedreiros, serventes, eletricistas. Eles respondiam que iam votar no Montoro ou no Jânio. Não encontrei nenhum outro voto do pobre Rogê. A moça tinha razão de ficar com dó. Mas também não encontrava entre os trabalhadores quem pretendesse votar no Lula. Era a primeira eleição dele.

Aí completava a pergunta. Mas por que você não vota no Lula, que é do Partido dos Trabalhadores? Muitos respondiam que era porque ele nunca tinha sido vereador nem prefeito e queria logo ser governador sem ter nenhuma experiência.

De 1982 para cá as técnicas de marketing eleitoral se desenvolveram e os grupos de pesquisa qualificada ajudam o marqueteiro a esquadrinhar a alma do eleitor.

O próprio eleitor também ficou mais antenado. Começa a perceber que aquela escolha tem conseqüências na vida dele.

Nessa eleição, por exemplo, ainda não encontrei ninguém que tenha me dito que vai votar num nanico por pena.

A escolha da eleitora

Supermercado Carrefour de Santos no domingo na hora do almoço. Estou na fila do caixa. Um conhecido, já passando as compras, me chama pelo nome e pergunta se vai ter segundo turno na cidade. Ele está com a mulher. Respondo que embora parecesse improvável no começo da campanha, as pesquisas indicam agora que a eleição pode ser decidida já no primeiro turno. Mesmo com dois ex-prefeitos que se elegeram deputados em 2010 na disputa, Telma e Beto, e mais o candidato de um prefeito bem avaliado, Sérgio Aquino, Paulo Alexandre tem índices superiores aos da soma dos outros oito candidatos.

Entre o que pergunta e eu tem outras duas pessoas na fila. Uma delas, uma mulher, vira para trás, diz que me conhece porque o irmão, Francisco, estudou comigo no colégio e diz que vai votar no Aquino para ter segundo turno. Lembro do Francisco, pergunto dele. Está aposentado e não teve filhos.

Aí uma senhora, atrás de mim, diz que não gosta de se meter na conversa mas se mete. Diz que vai votar no Paulo Alexandre e que é bom mesmo que não tenha segundo turno para não ter de negociar apoio de partido nanico.

A da frente diz que não gosta de Paulo Alexandre porque ele fez umas emendas tortas para a saúde de Santos. A outra rebate: “As emendas ajudaram a Santa Casa”.

A primeira diz, com sabedoria, que política é que nem futebol: não dá para discutir. Pergunto de que time ela gosta: Santos. A senhora de trás também. Mas diz que está brava com a direção porque leva muitos jogos para São Paulo.

Uma pessoa conhecida liga para mim no celular. Começo a contar o episódio da fila, meio atrapalhado, passando as compras, segurando o celular com o ombro. A eleitora do Aquino pergunta meio brava para mim:

Com quem você está falando?”.

Vou para o estacionamento pensando, como o cientista Blaise Pascal, que eleitoras e eleitores têm razões para escolher candidatos (e também para avaliar administrações de clubes de futebol) que a própria razão desconhece.

Amanhã a gente termina essa conversa sobre escolhas eleitorais.

Como entender?

O eleitor de Santos tem razões que a própria razão desconhece.

À primeira vista é isso que parece. Como entender que o candidato apoiado por um prefeito que completa dois mandatos e se mantém super-bem avaliado fique em terceiro lugar nas pesquisas?

Uma das explicações seria a de que o morador da cidade aprove a figura do prefeito mas não o governo dele. Deve ter um pouquinho disso.

Outra explicação, a de que a gestão do prefeito tenha sido boa para um determinado momento mas de que a partir de agora sejam outras as necessidades que o eleitor detecta na cidade. Talvez exista uma pitada desse tempero, também.

Uma terceira, a de que o santista esteja começando a se incomodar com o rumo que as coisas tomaram. Aqui talvez esteja um motivo mais forte para a troca de comando na Prefeitura.

Não adianta vir com a conversa de que o transporte coletivo tenha qualidade ruim, o ensino público municipal pior ainda e a rede básica de saúde esteja capenga. Isso porque alguma coisa em torno de 2/3 dos moradores têm planos de saúde, se deslocam de automóvel e colocam os filhos em escolas particulares. Não é isso que pega.

O trânsito, sim. Xingar a CET é um dos passatempos preferidos na cidade. Ficou mais do que evidente que nos últimos 15 anos Santos não se preparou um nadinha para esse colapso de caçapa cantada. Daí para desconfiar de que essas torres que se multiplicaram nos últimos anos estejam sendo erguidas com a mesma falta – absoluta – de planejamento… é só um passo. E, por sinal, bem pequeno.

Progresso eleitoral

Teve início a temporada de ataques eleitorais. Quem estaciona nas pesquisas quer avançar. Quem está perdendo eleitores quer estancar a sangria. E aí começam a ser lembrados os telhados de vidro dos adversários. Principalmente dos que estão na frente.

Em São Paulo, Serra associa Haddad aos réus do mensalão. Em Santos, o prefeito Papa aparece bravo no programa eleitoral, com uma expressão facial muito diferente da que mostrou durante todos esses anos.

Diz uma regra antiga que na política, ao contrário do futebol, o ataque não é a melhor defesa. Quem agride normalmente perde votos.

Acontece que à medida que a data da eleição se aproxima, o desespero vai batendo.

Li um artigo interessante nesta semana que dizia que muita gente confunde esse momento eleitoral de pesquisas estabilizadas como marasmo ou como tendências já definidas. E que na verdade este é o momento em que o eleitor está amadurecendo a decisão.

Conheceu melhor os candidatos. Percebeu com clareza com que outros personagens da vida pública cada um deles é ligado. Agora é o momento da reflexão e da decisão.

Se justamente nessa hora o candidato ou o padrinho dele aparece desequilibrado e destemperado, o feitiço pode virar contra o feiticeiro.

Muita gente reclama do processo eleitoral. Que faltam propostas. Que o horário gratuito é chato. Que os discursos são escritos pelos marqueteiros. Mas a verdade não é bem essa. O progresso nesse campo nos últimos anos é fantástico. O eleitor passou a ter acesso às declarações de bens dos candidatos, aos processos que ele enfrentou e a quanto e de quem ele recebe doações na campanha.

O eleitor amadureceu e a legislação acompanhou: Lei da Ficha Limpa, Lei de Acesso a Informações Públicas.

Muita gente não percebeu. Mas o tempo dos xingamentos eloqüentes e das promessa vazias está ficando para trás.

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